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Ensaios-->Mais um baluarte para o terrorismo -- 04/06/2007 - 12:21 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mais um baluarte para o terrorismo

Claudio Téllez (*), 03 de junho de 2007

http://www.claudiotellez.org/

O mês de junho deste ano começou com três pessoas detidas, acusadas de participação em um plano para a destruição dos tanques e dutos de combustível do aeroporto internacional John F. Kennedy, no que teria sido um evento terrorista de proporções dantescas, talvez comparável aos próprios atentados de 11 de setembro de 2001, com um impacto possivelmente ainda maior sobre a economia norte-americana, especialmente no setor aéreo. Dois dos acusados, Russell Defreitas, ex-funcionário do aeroporto, e Abdul Kadir, ex-oficial do governo da Guiana, são de origem guianesa. O terceiro detido chama-se Kareem Ibrahim e é cidadão de Trinidad e Tobago. Um quarto suspeito, identificado como Abdel Nur, também cidadão da Guiana, permanece foragido.

A detenção dos suspeitos e a desarticulação do atentado, que não chegou a atingir a fase operacional, foi possível graças à diligência e aos esforços da cooperação antiterrorista internacional e dos serviços de inteligência, que vinham acompanhando o plano e monitorando os suspeitos desde o início. Isso indica que, mesmo após a Guerra Fria, a inteligência desempenha um papel de importância inestimável nas relações internacionais contemporâneas.

Durante a administração democrata, antes do governo de G. W. Bush, os efetivos de inteligência sofreram uma severa redução, o que contribuiu para a excessiva politização das informações, favorecendo assim a concretização dos atentados de 11 de setembro de 2001. Nos últimos anos, esse quadro vem sendo modificado e está cada vez mais difícil levar a cabo um atentado terrorista em solo norte-americano.

Difícil, mas não impossível. Por mais eficientes que sejam os serviços de combate ao terrorismo, a própria natureza do elemento humano faz com que sempre exista a possibilidade de um atentado ser bem sucedido. Além do mais, o terrorismo anti-ocidental, construído essencialmente sobre considerações de ordem doutrinária e ideológica, tem como uma de suas características a eficácia no longo prazo, onde o impacto cumulativo é mais importante do que os sucessos pontuais. A título de ilustração, pode-se mencionar que Russell Defreitas, um dos envolvidos no planejamento do atentado contra o aeroporto JFK, vinha maquinando o ato de terrorismo há mais de uma década.

O longo prazo, aqui, é significativo, porque a princípio nada garante que os esforços de inteligência continuarão no mesmo ritmo no caso de uma mudança de mãos da administração norte-americana nas próximas eleições. Será que a lição dos atentados de 11 de setembro de 2001 foi suficiente para colocar a segurança nacional no topo da lista das prioridades dos democratas? É cedo para dizer, porém as conseqüências de um novo relaxamento podem ser bastante graves.

Outro ponto que chama a atenção é o fato dos quatro suspeitos serem da região da América Latina e do Caribe (três da Guiana e um de Trinidad e Tobago), ligados a grupos radicais islâmicos que operam na região. Situada no norte da América do Sul, a Guiana é um pequeno país inicialmente explorado pelos espanhóis e, a seguir, pelos holandeses. No século XIX, a Holanda cedeu o território aos ingleses. A independência da Inglaterra só veio a acontecer em 1966 e, desde então, a República Cooperativa da Guiana tem estado sob governos de orientação essencialmente socialista. Apesar de estar localizada na América do Sul, a língua oficial da Guiana é o inglês. A maioria da população segue o Cristianismo, porém há uma proporção considerável de hinduístas (35%) e os muçulmanos representam aproximadamente 10% do total da população.

Trinidad e Tobago, por sua vez, localiza-se no Caribe, ao nordeste da Venezuela. A língua oficial do país é o inglês, mas também fala-se um dialeto do hindi. A maioria da população é cristã, porém com uma considerável proporção de hinduístas (22.5%) e quase 6% de muçulmanos (a elevada proporção de hindus no Caribe deve-se ao fim da escravidão, ainda no século XIX, o que incentivou a contratação de trabalhadores imigrantes da Índia). As duas ilhas foram inicialmente colonizadas pela Espanha, porém passaram para o domínio inglês no século XIX e só obtiveram a independência em 1962.

De acordo com as autoridades que conseguiram desarticular o atentado contra o aeroporto JFK, a motivação dos suspeitos foi principalmente o ódio contra os Estados Unidos e Israel. Contudo, a presença de grupos extremistas islâmicos na região não é de agora. Em 1990, na ilha de Trinidad, a organização islâmica Jammat Al Muslimeen tentou, sem sucesso, derrubar o governo do país. No que diz respeito a atividades criminosas, a região do Caribe tem sido, tradicionalmente, uma área estratégica para o narcotráfico e a lavagem de dinheiro. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, começou-se a prestar mais atenção ao potencial da região como base para grupos terroristas, inclusive a al-Qaeda.

O líder do Jammat Al Muslimeen, Yasin Abu Bakr, mantém vínculos com o ditador socialista líbio Muammar al-Qaddafi e, possivelmente, também possui ligações com o líder venezuelano Hugo Chávez. No que diz respeito à Guiana, o país mantém um histórico muito baixo de atividades terroristas em seu território, com apenas cinco incidentes registrados desde 1968, de acordo com o MIPT Terrorism Knowledge Base. Contudo, em 2003, fontes afirmam terem visto Adnan el Shukrijumah, um membro da rede al-Qaeda, no país. É incerto se Shukrijumah nasceu na Guiana ou na Arábia Saudita, porém fontes da inteligência norte-americana afirmam que ele teria utilizado um passaporte guianês em 2003.

Apesar da Guiana não apresentar fortes indícios de operações de grupos radicais islâmicos em seu território, a frágil situação das fronteiras do país e a falta de capacidade das autoridades para lidar com atividades criminosas podem representar um atrativo para extremistas islâmicos. Não podemos ignorar, também, o papel que a Venezuela de Hugo Chávez vem desempenhando na região. De acordo com Isha Kadir, esposa do suspeito Abdul Kadir (o ex-oficial do governo da Guiana), ele foi detido na sexta-feira, quando estava para viajar de Trinidad para a Venezuela, de onde iria para uma conferência islâmica no Irã. A princípio, isso pode não significar muita coisa no que diz respeito à Venezuela, porém o inflamado discurso anti-americano de Chávez e as relações que esse país tem estabelecido, nos últimos anos, com alguns países do Oriente Médio, como por exemplo o Irã e a Síria (reconhecidos patrocinadores do terrorismo islâmico), levantam suspeitas sobre o grau de envolvimento venezuelano com atividades de grupos terroristas.

Em agosto de 2006, Hugo Chávez afirmou que a Venezuela e a Síria caminham para a construção de um 'mundo novo', livre da hegemonia norte-americana, que consideram ser opressora e imperialista. Além de aumentar as preocupações norte-americanas no que diz respeito a um possível envolvimento do governo da Venezuela em atividades de patrocínio ao terrorismo internacional, o apoio de Chávez à Síria e à causa palestina contribui para alimentar as tensões entre Caracas e o Estado de Israel.

O florescimento de um populismo de viés socialista em diversos países da América Latina facilita a penetração de movimentos radicais islâmicos na região, devido à existência de diversos pontos de afinidade entre os grupos terroristas anti-ocidentais e as organizações políticas que dominam cada vez mais o cenário latino-americano. O anti-americanismo visceral que vem ganhando força na América Latina e no Caribe, aliado ao ódio evidente e palpável contra o Estado de Israel, compõem um quadro favorável para a transformação da América Latina e do Caribe em mais um baluarte para o terrorismo contra a civilização ocidental.


(*) Claudio Téllez é analista internacional e matemático.






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