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Ensaios-->Lavagem cerebral no Itamaraty -- 15/05/2007 - 15:56 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lavagem cerebral no Itamaraty

Diplomatas são obrigados a ler livros esquerdóides

'Existe um elemento ideológico muito forte presente na política externa brasileira. A idéia Sul-Sul como eixo preponderante revela um antiamericanismo atrasado. Isso tem se manifestado dentro do Itamaraty de diversas maneiras. Está havendo uma doutrinação. Diplomatas de categoria, não apenas jovens, são forçados a fazer certas leituras quando entram ou saem de Brasília. Livros que têm viés dessa postura ideológica. É uma coisa vexatória. O Itamaraty não é lugar para bedel'.


Promoção por babaovagem ideológica, não por merecimento

'Há um sentimento generalizado de que os diplomatas hoje são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência. Eu vi funcionários de competência indiscutível ser passados para trás porque não são alinhados. Há intolerância à pluralidade de opinião. O Itamaraty sempre teve um prestígio singular na diplomacia internacional pela continuidade da política externa, pelo equilíbrio, pela excelência de seus quadros e pelo apartidarismo. O Itamaraty precisa resgatar o profissionalismo a salvo de posturas ideológicas, de atitudes intolerantes e de identificação partidária com a força política dominante do momento'.

'Do governo Geisel até o fim do governo FHC, a pressão ideológica desapareceu. Agora, infelizmente, as decisões são permeadas por elementos ideológicos'.


Prevalece o antiamericanismo babaca

'Com a queda do Muro de Berlim, desapareceu completamente o paralelo que dividia o mundo em Ocidente e Oriente. O meridiano Norte-Sul não desapareceu de todo, mas se desvaneceu. O diálogo Norte-Sul é uma realidade. A esta altura da vida, com o mundo em transformação vertiginosa, não vale mais valorizar tanto a dimensão Sul-Sul. Isso é um substrato ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização, antiamericano, totalmente superado. A nossa relação com a China e com a Índia também apresenta equívocos. É preciso ter parceria com os dois países, mas eles não podem ser considerados como aliados'.


Será que há mesmo diferenças?

'Há uma diferença básica entre Evo Morales e Hugo Chávez. O Morales vem de baixo, é um líder camponês que virou presidente da República. Mal comparando, uma trajetória semelhante à do presidente Lula. Já Chávez caiu de pára-quedas, tentou um golpe, depois chegou ao poder pela via democrática. Infelizmente, ele está acabando com a democracia na Venezuela'.


A China não é uma economia de mercado, como prega Lula da Silva

'Nós não podemos ter uma visão romântica daquela China do passado, pobre, atrasada, camponesa, isolada do mundo. A China deu um salto extraordinário e hoje é uma potência. Tem um comércio externo de 1,8 trilhão de dólares, oito vezes o do Brasil. Nós temos de atualizar a visão da China e ver que, sem deixar de ser parceira valiosa, é cada vez mais nossa concorrente dentro do mercado brasileiro e no exterior. Isso não quer dizer que devamos construir uma muralha e nos fechar aos chineses. Pelo contrário. É preciso manter uma parceria estratégica com a China em novos termos e não ter ilusões. Quando criamos mitos e queremos dar a impressão de que a China é nossa aliada, que nós a lideramos, é uma bobagem. A China hoje busca o capitalismo, a globalização, o mercado. (...) Embora o Estado chinês como produtor e empreendedor esteja diminuindo de tamanho, ele ainda interfere muitíssimo na economia, usa instrumentos arbitrários. Ao reconhecermos a economia de mercado, nós abrimos mão de usar mecanismos de defesa contra os produtos chineses. Isso tornou inevitável uma entrada cada vez maior de produtos chineses no Brasil. O prejuízo é inevitável'.


Frases proferidas por Roberto Abdenur, diplomata, in 'Nem na ditadura', entrevista concedida a Veja nas páginas amarelas, 7/2/2007, pg. 11, 14 e 15. Abdenur aposentou-se neste ano e seu último posto foi o de embaixador brasileiro nos EUA. Sua posição sobre a China causou problemas dentro do Itamaraty, porém ele não se retratou, como queria o 'ministro-barbudinho do Itamaraty', Celso Amorim.


***

Comentário

Félix Maier

O 'bedel' a que se refere Abdenur é o secretário-executivo do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães. Por obrigar os diplomatas a ler alguns livros de conteúdo ideológico esquerdista, Guimarães mereceu um artigo de Veja, em 2004, entitulado 'A escolinha do professor Samuel'.

Celso Amorim disse que entre as três obras que os diplomatas que irão servir no exterior são obrigados a ler (Chutando a Escada, do chinês Ha-Joon Chang, Rio Branco, de Álvaro Lins, e Brasil, Argentina e Estados Unidos – Da Tríplice Aliança ao Mercosul, de Luiz Alberto Moniz Bandeira), apenas a última poderia ter algum viés esquerdista. Se Amorim mandou retirar os livros da estande da 'escolinha do professor Samuel', é porque não valia a pena ler tais obras. O que não quer dizer que a lavagem cerebral do professor Samuel (e de Amorim) não siga firme na Casa de Rio Branco.


'A leitura obrigatória de obras alinhadas com a doutrina nacional-terceiro-mundista do chanceler Amorim foi introduzida pelo secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, no início de 2004. A leitura é parte de um cursinho de duas semanas a que Pinheiro Guimarães submete todos os diplomatas que estão sendo transferidos de posto. O viés ideológico das aulas, apelidadas no Itamaraty de Escolinha do Professor Samuel , é inequívoco. Um dos livros cuja leitura foi suspensa traz um prefácio no qual o próprio Pinheiro Guimarães espicaça a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e os Estados Unidos. Responsável por promoções, transferências e pela formulação da política externa do governo petista, Pinheiro Guimarães professa ideário inútil e ultrapassado do fim do século XIX. Odeia a globalização, é contrário à abertura econômica, acredita no imperialismo ianque e adota como método de trabalho ampulheta e papel-carbono. As fichas de leitura engajadas acabaram. Pinheiro Guimarães segue forte no Itamaraty' (http://www.blogdoevaldotorres.com/blog/politica/index.php?action=show&id=3347).


*

Cláudio Humberto, em sua coluna de Terça-feira, Setembro 14, 2004, escreveu:

'Censura no Itamaraty

A matéria Escolinha do professor Samuel , da revista Veja desta semana, foi censurada no clipping de notícias do site do Ministério das Relações Exteriores. O texto critica o secretário-geral maluquete do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, que constrange os colegas impondo-lhes sabatinas.'

*

No Plenário do Senado, em 8 de outubro de 2004, o senador Arthur Virgílio critica doutrinação de diplomatas (http://www.senado.gov.br/jornal/noticia.asp?codEditoria=21&dataEdicaoVer=20041008&dataEdicaoAtual=20060308&nomeEditoria=Plen%E1rio&codNoticia=25000):

'Doutrinação política e constrangimento a embaixadores estão acontecendo no Ministério das Relações Exteriores (MRE), denunciou o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). Ele leu reportagem publicada na edição de 15 de setembro da revista Veja, intitulada 'Escolinha do professor Samuel', segundo a qual o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, obriga os diplomatas que serão transferidos de posto a serem sabatinados sobre livros afinados com 'a doutrina nacional-terceiro-mundista do atual governo'.

– Esse procedimento está causando grandes constrangimentos, uma vez que não há um estímulo ao espírito crítico, mas sim uma tentativa de doutrinação – afirmou Virgílio.'


*

Amorim diz que vai acabar com lista de livros da Escolinha do Professor Samuel

Por Clovis Rossi, na Folha desta quinta (8/2/2007):

O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) disse ontem à Folha que vai modificar o sistema de leitura obrigatória de livros, imposto pelo vice-chanceler Samuel Pinheiro Guimarães e que foi duramente atacado pelo ex-embaixador do Brasil em Washington Roberto Abdenur, em entrevista publicada no fim de semana na revista 'Veja'.Abdenur acha 'uma coisa vexatória' o fato de que 'diplomatas de categoria' sejam 'forçados a certas leituras quando entram ou saem de Brasília'.A entrevista de Abdenur foi avalizada pelo antecessor de Amorim, Celso Lafer, que considerou as leituras uma 'lavagem cerebral', em declarações ao 'Estado de S. Paulo'.Amorim cita alguns dos livros recomendados por seu secretário-geral como prova de que não há um viés ideológico no método.Um dos livros é do embaixador Álvaro Lins e trata do Barão do Rio Branco, o patrono da diplomacia brasileira. Nada tem, portanto, de esquerdista ou de texto de um simpatizante do atual governo (Álvaro Lins morreu em 1975).Outro dos livros recomendados é 'Chutando a Escada', do acadêmico chinês Ha-Joon Chang, hoje na Cambridge University, do Reino Unido, que não é exatamente um templo esquerdista. A 'escada' do título são ações protecionistas adotadas pelos países hoje ricos, na escalada para a riqueza, mas que, agora, 'chutam' para impedir que os países em desenvolvimento as utilizem.Amorim acha que o ruído despertado pelas recomendações de Guimarães se deve a um livro de Luiz Alberto Moniz Bandeira, professor emérito da Universidade de Brasília, o único dos recomendados que teria um viés esquerdista.


*

Coluna de Cláudio Humberto - 09/02/2007 12:13

'Câmara vai debater a confusa política externa
O deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA) quer os diplomatas Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil em Washington, e Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores, debatendo na Câmara a confusa política externa do governo Lula. Para Aleluia, a indicação de livros a diplomatas de ótima formação, o aparelhamento do Itamaraty e o antiamericanismo anacrônico refletem a confusão que Lula e o PT fazem entre Estado e governo. A mesma confusão que fazem entre o erário e as contas pessoais .'


*

A denúncia de Abdenur é confirmada pelo ex-chanceler Celso Lafer, em reportagem de Gabriel Manzano Filho, publicada no jornal O Estado de São Paulo, de 07/02/2007:

Lafer fala em ‘lavagem cerebral’ no Itamaraty.

Ex-chanceler apóia críticas de Roberto Abdenur à atual política externa

O ex-ministro de Relações Exteriores Celso Lafer, que ocupou o cargo no governo Fernando Henrique Cardoso, disse ontem que concorda com todas as críticas feitas pelo ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Roberto Abdenur ao modo como o governo vem conduzindo a política externa. “Partilho inteiramente de suas impressões”, disse Lafer. “Coisas como essa indicação de livros a serem lidos, por diplomatas de ótima formação, são simplesmente vexatórias. O que Abdenur quer ressaltar é uma certa lavagem cerebral. Uma coisa muito ruim, que resulta numa diplomacia de qualidade discutível.”

Em entrevista à revista Veja, Abdenur, que até recentemente era grande amigo do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, havia denunciado “um elemento ideológico muito forte” e “um antiamericanismo atrasado” na atual diplomacia. Também achou “um erro ter incorporado a Venezuela de chofre no Mercosul”. Essa última decisão, para Lafer, “é coisa gravíssima”, que “põe em questão 20 anos de esforços da diplomacia brasileira”.

Grande parte das críticas feitas por Abdenur - principalmente à estratégia Sul-Sul, que prioriza as relações com nações em desenvolvimento - já vem sendo feita também por outros embaixadores. Dois deles, Sérgio Amaral e Rubens Barbosa, num recente seminário em São Paulo, fizeram fortes críticas à ênfase excessiva dada pelo governo Lula ao comércio com potências emergentes. Um terceiro diplomata, o ex-ministro Luiz Felipe Lampreia, tem criticado duramente o que considera descaso do atual governo pelo interesse nacional nas relações com a Venezuela.

Em Brasília, as críticas de Abdenur endossadas por Lafer - que é antigo desafeto de Amorim - parecem incomodar o Itamaraty. A ordem é nada comentar, mas assessores próximos a Amorim consideram descabidas as afirmações de Lafer. E quanto aos livros “indicados” aos diplomatas, um desses assessores diz que um deles é uma biografia de Ruy Barbosa, o patrono da carreira. Ele pergunta: “Isso é ideologia?” Sabe-se, porém, que a simples obrigatoriedade das leituras irrita muitos dos diplomatas.

Em Brasília e Washington, onde Abdenur atuou quatro anos, as críticas ao Itamaraty não chegaram a surpreender. Ficou evidente para muitos diplomatas que o esforço do embaixador para melhorar as relações com os EUA parava sempre no desinteresse brasileiro.

Em meados de 2005, já desalentado, Abdenur criticou, em São Paulo, a decisão de reconhecer a China como economia de mercado. A crítica irritou Amorim, que lhe mandou um telegrama reservado pedindo que se retratasse. Ele recusou e o texto dessa recusa circulou entre diplomatas em Brasília. O rompimento tornou-se inevitável.


***

Vejamos como se defende o professor Samuel, em entrevista à Folha. Conclui-se que o professor Samuel é mesmo antiamericano (espicaça os EUA e é contra a ALCA), é alinhado com o que há de mais atrasado no mundo, os dinossauros da 'esquerda carnívora' (apud Vargas Llosa), representada por Fidel Castro, Hugo Chávez e Evo Morales.


'Segunda-feira, Fevereiro 26, 2007

(http://votolula.blogspot.com/search/label/Pol%C3%ADtica%20Externa)

Política externa brasileira é 'a favor do Brasil e não contra qualquer país'

A Folha nessa ficou falando sozinha, e a entrevistadora deu com os burros n água, ao insistir na tese, evidentemente falsa, de anti-americanismo por parte da política externa brasileira. O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães foi fino ao expor o preconceito da colunista da Folha. Vamos agora ver se esse papo furado cessa.


Entrevista com Samuel Pinheiro Guimarães

Secretário-geral do Itamaraty diz não haver ideologia no trabalho do ministério e nega antiamericanismo no governo Lula, mas manda recados sutis aos EUA

DEPOIS DE atravessar os quatro anos do primeiro governo Lula falando muito para dentro do Itamaraty e pouco para fora, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães deu uma rara entrevista em que nega antiamericanismo no governo e classifica a política externa de 'pragmática e não ideológica'. Não deixou, porém, de mandar recados sutis aos EUA. 'Um mundo melhor', segundo ele, 'será aquele em que as promessas de desarmamento se realizem, os preceitos do Direito Internacional sejam obedecidos pelas grandes potências, as diferenças econômicas entre os Estados se reduzam e o meio ambiente seja preservado'. Por exigência dele, as perguntas foram feitas por escrito e respondidas por e-mail. Segue a íntegra da entrevista.

FOLHA - O ex-embaixador em Washington Roberto Abdenur declarou que há 'um substrato ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização, antiamericano, totalmente superado' na política externa brasileira. O sr. concorda?
SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES - A política externa do presidente Lula, conduzida pelo ministro Celso Amorim, é pragmática e não ideológica; é a favor do trabalho sem ser contra o capital; compreende que a globalização apresenta oportunidades mas também riscos para os países subdesenvolvidos; é a favor do Brasil e não contra qualquer país. Como o próprio presidente e o ministro não se cansam de repetir, a política externa desperta o interesse e desfruta do respeito de todos os países, ricos e pobres; do Ocidente e do Oriente; da América do Sul e do Norte, o que se reflete no grande número de presidentes, primeiros-ministros, chanceleres, autoridades e empresários que vêm ao Brasil e desejam nossa cooperação política, econômica e social.

FOLHA - Os críticos da política externa afirmam que o Brasil tem uma participação há anos estacionada em 1,4% da economia norte-americana, perdendo milhões de dólares em negócios por conta de um suposto antiamericanismo. Como é possível menosprezar o principal mercado do mundo?
PINHEIRO GUIMARÃES - O aumento da presença da China no mercado americano fez com que, no período de 1999 a 2006, nas importações americanas, a participação do Canadá caísse de 19% para 16,9%; a do Japão, de 12,8% para 7,9%; a da Alemanha, de 5,3% para 4,9%; a da França, de 2,5% para 2,0%. Ao contrário, a participação do Brasil cresceu de 1,1% para 1,4%, refletindo o aumento de nossas exportações de US$ 10 bilhões para US$ 24 bilhões. São as empresas brasileiras que exportam: elas não menosprezaram o mercado americano, nosso principal comprador, e tiveram todo o apoio do governo brasileiro em seu esforço.

FOLHA - O sr. é uma espécie de símbolo do suposto antiamericanismo, inclusive por ser ferrenho adversário da Alca. Convém ao governo brasileiro mantê-lo no segundo cargo na hierarquia do Itamaraty? O objetivo é justamente marcar posição?
PINHEIRO GUIMARÃES - O cargo de secretário-geral das Relações Exteriores é de livre nomeação do presidente Lula, por indicação do ministro Celso Amorim. Cabe ao presidente e ao ministro, naturalmente, decidir sobre o que convém.

FOLHA - A Alca acabou, e o chanceler Amorim dizia que o importante era a OMC. Mas as negociações na OMC também empacaram. Onde o Brasil está errando?
PINHEIRO GUIMARÃES - As negociações na OMC estão em pleno andamento e há grandes expectativas. O Brasil tem tido papel central nessas negociações na liderança do G20 [grupo de 20 países em desenvolvimento liderado por Brasil e Índia] e em entendimentos com os interlocutores dos Estados Unidos e da União Européia. As perspectivas de uma conclusão positiva para o Brasil são maiores do que em qualquer outro momento.

FOLHA - A adesão da Venezuela ao Mercosul tem sido duramente criticada, pois seria uma forma de transformar o bloco em uma ponta-de-lança contra Washington, ou pelo menos num palanque para o presidente Hugo Chávez atacar Bush. O bônus da adesão compensa o ônus?
PINHEIRO GUIMARÃES - O comércio entre o Brasil e a Venezuela passou de US$ 880 milhões em 2003 para US$ 4,1 bilhões em 2006. Empresas brasileiras fazem grandes investimentos e constroem hidrelétricas, linhas de metrô, pontes, represas e sistemas de irrigação na Venezuela. Todos os membros do Mercosul estão de acordo quanto à adesão da Venezuela. O Mercosul é uma união aduaneira e não um bloco político de oposição a qualquer outro país e muito menos aos EUA, que, aliás, percebem isto perfeitamente.

FOLHA - Pelo menos na retórica, Chávez está ganhando aliados na região, como os presidentes Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Corrêa, do Equador. É um novo pólo de poder?
PINHEIRO GUIMARÃES - Cada país da América do Sul tem o direito de cooperar com os demais países sem que isto signifique a formação de pólos de poder. Qualquer pretensão hegemônica de qualquer país encontra grande resistência dos demais, e a forma natural de influência é o exemplo, o que supõe relações de parceria, como as que o Brasil tem desenvolvido com cada país da América do Sul, com excelentes resultados.

FOLHA - De outro lado, o governo Bush praticamente escolheu o Irã como novo alvo, digamos, das preocupações norte-americanas. Esse será um tema do encontro Lula-Bush em 9 de março? O que o Brasil tem a ver com isso?
PINHEIRO GUIMARÃES - A agenda do encontro dos presidentes ainda não está definida. O Brasil, que tem a sexta maior reserva de urânio do mundo, domina a tecnologia de enriquecimento de urânio e tem uma demanda interna importante por energia, defende o direito de todos os países de desenvolver a tecnologia nuclear para fins pacíficos, desde que respeitados fielmente os compromissos internacionais. Nossa posição na AIEA se pauta por este princípio e pela preferência pelo diálogo como forma de solucionar impasses.

FOLHA - Há duas versões no governo e no Itamaraty: uma de que o sr. é decisivo para a formulação da política externa; outra de que, na verdade, é o grande executivo que está 'botando a casa em ordem'. Qual a verdadeira?
PINHEIRO GUIMARÃES - O presidente formula e dirige a política externa com o auxílio do ministro. Ao secretário-geral cabem as tarefas definidas pelo decreto 5979/2006, que são assessorar o ministro na execução da política e na orientação da secretaria de Estado e das missões no exterior.

FOLHA - Por que o sr. participou dos primeiros palanques do presidente Lula na campanha do segundo mandato, mas de repente sumiu?
PINHEIRO GUIMARÃES - Todo cidadão brasileiro tem o direito, e até o dever, de participar da vida política de seu país.

FOLHA - E por que o sr. decidiu impor livros de sua própria preferência para os diplomatas que estejam sendo promovidos ou assumindo missões no exterior? Qual o viés desses livros? E porque o ministro determinou o fim da prática?
PINHEIRO GUIMARÃES - Gilberto Freire disse: 'O livro do sr. Álvaro Lins sobre o Barão do Rio Branco é um destes livros que desde as primeiras páginas nos dão o gosto raro de contato com uma obra monumental'. Celso Furtado, sobre Bielschowsky, disse: 'Considero 'Pensamento Econômico Brasileiro' o mais importante trabalho já realizado para caracterizar e apreciar o considerável esforço produzido entre nós a fim de resgatar o Brasil das armadilhas do pensamento ortodoxo'. Roberto Campos, ex-embaixador em Washington, sobre Bielschowsky, disse: 'Erudito, objetivo e correto. 'Pensamento Econômico Brasileiro' é referência indispensável, por sua análise balanceada e percuciente das controvérsias ideológicas da época'. Rubens Ricupero, ex-embaixador em Washington, sobre o livro de Moniz Bandeira disse: 'É uma obra original, uma autêntica história conjunta das relações diplomáticas do Brasil e da Argentina durante 133 anos. Tem razão, assim, o historiador americano Frank Mc Cann, ao apresentá-la como 'leitura indispensável'. Não conheço, nem creio que exista, outro trabalho desse fôlego, cerca de 680 páginas, que cubra de modo tão completo e analítico o período contemporâneo'. Sobre 'Chutando a Escada', de Ha-Joon Chang, professor de Cambridge, na Inglaterra, Charles Kindleberger, um dos maiores economistas americanos, disse: 'uma crítica estimulante dos sermões dos economistas da corrente dominante dirigidos aos países em desenvolvimento.' O aperfeiçoamento dos diplomatas é uma necessidade constante. A leitura de três ou quatro livros não poderia jamais modificar o modo de pensar de qualquer diplomata, mas pode trazer informações importantes. O ministro Celso Amorim considerou que a celeuma provocada não justificava a energia despendida.

FOLHA - O que se deve esperar de um bom diplomata? E de um diplomata brasileiro no mundo atual?
PINHEIRO GUIMARÃES - De um bom diplomata se espera que defenda e promova os interesses de seu país. De um diplomata brasileiro se espera que defenda e promova os interesses do Brasil, de acordo com os objetivos da política externa definidos no Art. 4º da Constituição Federal, em especial a independência nacional, a não-intervenção e a autodeterminação, e com a orientação do Presidente da República.

FOLHA - Como o Brasil pode interferir para que o mundo seja melhor? Aliás, o que seria, a seu ver, um 'mundo melhor'?
PINHEIRO GUIMARÃES - O Brasil pode contribuir para a preservação da paz, para o desenvolvimento econômico e social, para a construção da democracia na esfera internacional, de tal forma que cada sociedade, observados os preceitos fundamentais de autodeterminação e não-intervenção inscritos na Carta da ONU, possa prosseguir em sua evolução histórica.
Um mundo melhor será aquele em que as promessas de desarmamento se realizem; em que os preceitos do Direito Internacional sejam obedecidos pelas grandes potências; em que as diferenças econômicas entre os Estados se reduzam; em que o meio ambiente seja preservado; em que os direitos humanos, políticos, econômicos e sociais sejam respeitados; em que a pobreza e a miséria sejam abolidas; em que cada indivíduo possa desenvolver todo o seu potencial. Com esses objetivos, o presidente Lula e o ministro Celso Amorim têm defendido a democratização das instâncias internacionais de decisão, como o Conselho de Segurança da ONU e o G-8.

Por Eliane Catanhêde, Folha de S.Paulo, em 26/02/2007'





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