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Poesias-->Visão de Formigueiro -- 20/08/2000 - 16:55 (Magno Antonio Correia de Mello) |
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No pátio, imundo,
recolhem-se cadáveres de saúva
aos montes.
A sala dos computadores
é mantida a ar frio
e sangue gelado.
Esmagam-se viúvas negras
nas paredes claríssimas.
Suspeitam de microfones camuflados
no dormitório das soldadas.
(O povo diz que gravam os roncos
e os enviam em pacotes hiperlacrados
para potências estrangeiras.)
Há muitos anos,
entre a mesa e a garrafa de vinho,
via-se um enorme relógio
sem utilidade.
Lá o tempo não passa,
o tempo não passa
e não passa tempo nenhum.
No buraco ligando
o formigueiro ao mundo
fervilham operárias
e, em novembro, comemoram-se festas juninas
anacrônicas.
Percorre-se um enorme caminho
do centro ao cemitério
donde se explica o grande número de cartas atrasadas
para os mortos.
Metade do formigueiro é um monumento
às vítimas do pêssego de 45.
A outra metade uma homenagem
à formiga que descobriu açúcar
no pêssego de 45.
O depósito de machos, obsoleto,
foi substituído por um departamento de reprodução
de custos mais suaves
e manejo mais leve.
(O sucesso dessa prática
tem se espalhado pelo mundo
e os formigueiros multiplicam-se, infinitos.) |
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