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Poesias-->CADÊ A VELHA CIDADE ? -- 11/08/2002 - 10:01 (NILTON MANOEL) |
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CADÊ A VELHA CIDADE?
Nilton Manoel
O poeta sai pela Baixada,
numa madrugada de lua crescente.
As palmeiras, que ladeiam o ribeirão Preto,
balançavam ao vento de outono,
saudosas dos pares frondosos...
Como uma placa de estrada de ferro,
para ,olha demoradamente e escuta
os lamentos das palmeiras Imperiais,
plantadas na política republicana...
estão maltratadas!
O cenário inteiro é um ermo na noite...
ouve a Maria Fumaça
resfolegante, apitar gostoso.
Espantado olha a praça do Pronto Socorro,
(que antes chamava-se San Leandro!)
e vê a velha máquina surrada,
com os dormentes e trilhos necrosados ...
No expositor de um lambe-lambe,
dentro de um bar,
saudosas fotos de um tempo que se foi...
O turvo Preto não dá mais lambaris,
mas dá cascudos na saudade da gente...
Lembra da velha estação
e da banca de gibis...
o tempo que se foi .
O progresso sorveu a velha poesia
da capital do oeste.
Com a fumaça de Maria quanta coisa se foi.
O café do Estado, a Paulicéia,
as velhas lojas da Baixada,
a choperia tradicional saiu do seu espaço
e ocupou outro ponto.
Neófitos historiadores
afoitos dão como sesquicentenárias
coisas que ocorreram de 1.958 para cá.
A pobreza de monumentos históricos
marca a minha saudade.
O Estradão poeirento virou via do Café...
Os galpões das festas do primeiro centenário
estão caindo aos pedaços...
A estátua do padre Euclides
saiu do meio da avenida
e esfacelada
depois de um tempinho na praça Santo Antônio
foi parar no asilo.
As estátuas da praça Camões
que nada tinham a ver com o teatro Pedro II,
foram ornar as escadarias do teatro...
Veste-se um santo
e desveste-se outro.
Olho velhas paredes em ruínas tombadas
e prédios vistosos sem lembrança...
As velhas fábricas se foram...
Saudade do apito da fábrica de vidro,
transformando a matéria prima em formas diversas,
a cervejaria Paulista,fábrica de sabão do Roque,
da Anderson Clayton,do Frigorífico Morandi,
os licores do Gino Alpes,
das fabricas de Sapatos...
As sireres se foram,
até a sirene das seis da manhã
perdeu-se no tempo.Ah! Cervejaria Paulista...
Tecelãs do Matarazzo
quemataram a onomástica Barracão por Ipiranga
massificada pela Academia de Samba de mestre Oscar...
Os relógios mais pontuais de Ribeirão Preto
sumiram das velhas torres...
Os lustres ornamentais dos velhos prédios...
Como ainda sinto o cheiro da cevada
ao mesmo tempo em que a professora
do meu velho grupo gastava cuspe e giz,
mas garantia o meu saber.
Fecham-se as cortinas do passado.
Evaporam-se os tipos populares de noissa história.
Ma velha Baixada a boemia fraterna se foi...
O som dos violões não como antigamente
entre uma caipirinha e petiscos...
O velho Mercadão que de histórico
só tem o trabalho hachiuriano do passado,
continua no mesmo lugar...
Enquanto vamos presos no real de cada holerite
sonhamos...sonhamos...
Num muro:
" -O pó é o prêmio da vida!"
quinta feira 3/6/1999 |
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