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Ensaios-->MAX NORDAU NA LITERATURA PORTUGUESA -- 26/04/2007 - 16:56 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A PRESENÇA DE MAX NORDAU
ENTRE ESCRITORES PORTUGUESES DO PERÍODO PRÉ-ORPHEU

João Ferreira
Pesquisa de 1993

No panorama do período pré-orfeico português ganha especial destaque a presença de Max Nordau (1849-1823), polêmico escritor europeu de indiscutível valor histórico e ideológico.
Pseudônimo do escritor judeu Max Simon Suedfeld, nasceu em Budapeste em 29 de julho de 1849 e faleceu em Paris em 22 de janeiro de 1923. Médico formado em 1875, jornalista de fama europeia, correspondente de vários jornais, polemista vigoroso, positivista de formação, seguidor de Cesare Lombroso no que diz respeito a taras hereditárias, M. Nordau fixou residência em Paris em 188O e transformou-se rapidamente num dos escritores mais editados, mais lidos, discutidos e traduzidos do período pré-Orpheu, com edições em quase todas as línguas cultas, incluindo o chinês e o japonês.
Há testemunhos de que a partir dos últimos anos da década de 9O, Nordau era conhecido entre os portugueses. Basta citar, para demonstrar isso, os nomes de Gomes Leal e Manuel Laranjeira, que testemunharam em 1899 sua relação com Nordau, embora não sejam estas, certamente, as primeiras referências explícitas no panorama português. Na verdade, só em 19O8, Agostinho Fortes traduz para português lusitano, 'As Mentiras convencionais de nossa Civilização' . Brasil, temos desde 1899, uma tradução parcial da 'Degenerescência'. Trata-se do quinto Livro de 'Entartung', traduzido com o nome de 'Degeneração', uma seleção textual que abrange os mais diretos aspectos então em voga, que eram o satanismo e o decadentismo.
Aproveitando os estudos em medicina e a prática de comunicação obtida no exercício jornalístico, Max Nordau lança ao mercado, com êxito, um após outro, uma série de volumes, que chegavam a Portugal, principalmente através das traduções francesas de Auguste Dietrich, conforme podemos verificar no acervo das atuais bibliotecas portuguesas. Para termos uma ideia da sua produção mais conhecida, conviria lembrar os títulos principais: 1. 'As mentiras convencionais da nossa civilização'(Die Konventionelle Luegen des Menschenheit), 1883; trata-se de um ataque à ética da civilização moderna, em especial, à mentira religiosa, à veneração fingida pela Bíblia, à mentira governamental (monarquia e aristocracia), à mentira econômica e à mentira social, com destaque para a impostura das convenções do casamento; 2. Paradoxos, 1885; 3. A doença do século (Die Krankenheit des Jahrhunderts), 1887; 4. A Degenerescência (Die Entartung), 1892/1893. É um vigoroso ataque ao vício e à anormalidade, por um lado, e uma defesa da 'decência em Arte e Literatura', por outro. Dedicada a Cesare Lombroso, a obra, em sua temática central, é uma tentativa de estabelecer uma relação entre o gênio e a degenerescência. Aplicando o termo que vem de Morel e de Lombroso, às obras de Nietzsche, Tolstoi, Ibsen, Wagner e Zola, entre outros, Max Nordau transforma estes autores em 'degenerescentes'e fantasmas doentes. Segundo Nordau, atrás de uma máscara enganadora se esconde uma sociedade em dissolução, próxima da putrefação. Os escritores mantêm com ela uma interação e uma 'catástrofe humana sem precedentes'está para chegar.
Além dos títulos citados, Nordau produziu ainda vários romances e peças dramáticas. Seus livros aparecem hoje aos olhos dos críticos como documentos que mostram o gosto e a avaliação equivocada que o pathos científico de teor positivista gerou. Podem ser veículos, ademais, de correntes e interpretações críticas e estético-filosóficas da época, mostrando o caldo ideológico que nutria as mentes europeias.
Mas um outro detalhe deve ser observado na personalidade polêmica e atuante de Max Nordau. Ele é, historicamente, co-fundador, de parceria com Herzl, da Organização Sionista Mundial, transformando-se em 1895, num dos principais arquitetos da concepção de um 'Estado Judeu', trabalhando e lutando por um renascimento nacional hebreu. Dentro dessa campanha política, presidiu ao I Congresso Sionista, em 1897.
No que toca diretamente à presença de Nordau entre os escritores portugueses do período pré-Orpheu, registramos:
1. Teófilo Braga (1843-1924). - O caso de Teófilo Braga é dos mais ilustrativos no que toca às relações de escritores portugueses com Nordau. Embora a crítica não tenha ainda estabelecido a cronologia exata do relacionamento entre os dois escritores, sabemos que pelo menos em 19O8, Nordau e Teófilo já se escreviam e se admiravam. É o que nos revela uma carta de Max Nordau, datada de 13 de março de 19O8, existente na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, Açores, recentementemente revelada pelo
historiador literário António Machado Pires .
Essa carta revela, entre outras coisas, que existia intercâmbio epistolar entre Teófilo e o judeu húngaro, já antes de 19O8, sendo a carta de Max Nordau uma resposta a Teófilo Braga( segundo A.M.Pires, Teófilo havia enviado a Nordau dois exemplares de sua obra;Nordau agradece ;a mesma revela também que Nordau se declara leitor de Teófilo e que conhece 'A Visão dos Tempos', através de tradução; revela ainda que Nordau considera o autor das 'Modernas Ideias na Literatura Portuguesa'(1892) como uma das 'grandes figuras da literatura viva', dizendo que se surpreende de Teófilo não ter sido coroado com o Prêmio Nobel, o que 'revela a miopia do areópago de Estocolmo' .
A adesão ao ideário positivista por parte de Nordau e de Teófilo explica grande parte da relação entre o escritor judeo-húngaro e o poeta e escritor português.

2. Gomes Leal (1848-1921)- Gomes Leal, um dos mais notáveis poetas portugueses do fim do século XIX e princípios do século XX é conhecido por sua postura crítica e apocalíptica e também satânica. Notório escalpelizador da monarquia e da aristocracia lusa em decadência, dedica a Max Nordau um dos poemas de seu livro de sátiras modernas 'Fim de um Mundo' . Esse poema chama-se 'Mentiras sentimentais' e é abertamente uma réplica e uma paráfrase de várias teses das 'Mentiras convencionais da nossa Civilização'de M. Nordau. Composto em tercetos, o poema tenta uma 'autópsia da louca decadência do fim-de-século orgíaco e demente'. Gomes Leal passa em revista, com mordacidade, os valores sociais do matrimônio, da liberdade, da fraternidade, da igualdade, da justiça, da família, da virtude, do egoísmo e do sentimento, mostrando com ironia, o tom epocal decadente desses conceitos
.
Em 'autópsia final', posfácio de 'Fim de mundo', Gomes Leal, tal como Nordau em Degenerescência, flagela o 'Egoísmo'e fala da degenerescência das sociedades, defendendo que a solução está na 'educação do sentimento e do coração' e que na 'educação da criança está o cimento do mundo novo'. Precedido de uma carta ao Dr. Campos Salles, a tônica é a de que 'termina o século no meio de um apocalipse social'e de 'uma bancarrota moral'. Interpretando Gomes Leal, Maria de Lourdes Belchior diz: 'O mundo em que [Gomes Leal] vive é um mundo em degenerescência; Gomes Leal denuncia, pois, quanto é sinal de corrupção nesse mundo do fim do século' .

3. José Coelho Moreira Nunes- Uma das respostas frontais obtidas junto à inteligência portuguesa, que revela a ressonância das doutrinas de Nordau em Portugal, é a elaboração da tese acadêmica 'O Simbolismo como manifestação de degenerescência', publicada no Porto em 1899, da autoria de José Coelho Moreira Nunes.
Neste livro, os escritores e a arte simbolista são considerados fenômenos aberrantes e anormais, produtos do 'excesso de civilização', causadores de decadência e degenerescência.

4. Abel Botelho ( 1856-1917)- Autor da série de romances 'Patologia social', sob o signo da Psicopatologia, Abel Botelho é um dos mais hábeis e importantes narradores da ficção portuguesa do realismo-naturalismo, onde a tônica da decadência e da degenerescência, ora à moda de Zola ora à moda de Nordau são patentes. Muitos de seus personagens, como o Barão de Lavos e Alda, Próspero Fortuna, Dona Isabel Moscovo Penalva, Albano e outros, absorvem perfeitamente o rótulo de degenerescentes.

5. Fialho de Almeida ( 1857-1911)- Ao descrever os caracteres da Literatura Contemporânea no V Volume de 'Os Gatos', Fialho de Almeida, mesmo sem citar o nome de Max Nordau, embebe sua prosa do tom crítico pró-degenerescente próprio do autor de 'As Mentiras convencionais[...]'. Logo na abertura do volume, lê-se: 'Hoje capta-se a aura condensando tudo em parágrafos curtos, dizendo tudo em linguagem inaudita, louco-lúcida e incisiva e perturbante, entrando na carne em epilepsias de som, de emotividade mordente, de vertiginosidade parodoxal e maquiavélica'[...] 'Com o ser fisiologicamente uma expressão vital da época, ela engurgita-se de todas as desfalências e saburras contemporâneas: tem o sentimento de mal-estar, que é o mal de viver, com zargunchadas dolorosas que a levam ao pessimismo directamente: tem a acuidade analítica sem saúde moral, características das agrupações que sofrem da vontade, resultado da convicção da anomalia interior e do destino falho [...], tem o egoísmo mesquinho, o predomínio dos impulsos grosseiros e dos exasperos animais de extrema crápula, tem o estilo agitado, a imagem fúnebre[...] - finalmente todos os característicos de uma sociedade liquidante e duma literatura escrita por doidos, devassos tabéticos e facínoras das galés.
Ora como os escritores não podem deixar de ser a quintessência dos détraquements doentios da sociedade extravagante em que nasceram, resulta que a obra deles refletirá em amplificado as diferentes modalidades de desequilíbrio que fixei e essa amplificação descambará ainda na deformidade, se aos desarranjos que podermos chamar profissionais acrescentarmos'[...]
Ao analisar a formação intelectual de Fialho, António José Saraiva e Óscar Lopes dizem que seu mestre e amigo Sousa Martins deve ter reforçado nele 'as convicões sobre o determinismo da hereditariedade, meio natural e social de vida, bem como a de que o génio seja uma forma superior de degenerescência - convicções aliás divulgadas por Taine, pelo naturalismo, por Lombroso e por Max Nordau' .

6. Artur Leitão- Servimo-nos de passagem escrita por João Gaspar Simões: 'Em 19O7, no auge do franquismo, um médico republicano, de nome Artur Leitão, publica um manifesto 'Um caso de loucura epiléptica'em que a personalidade de João Franco é estudada à luz da teoria da degenerescência divulgada por Max Nordau' .

7. Manuel Laranjeira (1877-1912)- Um dos mais significativos textos portugueses para estudo da penetração de Nordau em Portugal do período que antecede a geração de Orpheu é da autoria de Manuel Laranjeira, médico-psiquiatra, autor do ensaio psicopatológico sobre o misticismo de forma religiosa 'A doença da santidade', sua tese de doutoramento em psiquiatria na Universidade do Porto. Poeta ilustre, ensaísta notável, colaborador de 'A Águia' e de 'A Rajada', foi amigo e correspondeu-se com Miguel de Unamuno e Teixeira de Pascoais, passou por ser uma das inteligências mais lúcidas do pré-modernismo português. Admirador de Camilo e de Antero de Quental, participou dos principais eventos culturais portugueses finisseculares, sendo um analista e crítico da decadência da sociedade portuguesa através do ensaio 'O Pessimismo nacional'. A exposição, a análise e a crítica das teorias de Max Nordau sobre a degenerescência encontramo-las mais especificamente no ensaio 'Henrik Ibsen e Max Nordau', distribuído por uma série de três artigos, originariamente publicados no periódico 'A Arte' do Porto nos anos de 1899 e 19OO e agora recolhidos em 'Obras de Manuel Laranjeira', publicadas pelas Edições Asa em 1993, pp. 263-275. O primeiro artigo é intitulado 'O crepúsculo dos povos'; o segundo 'Psicologia do misticismo'; e o terceiro 'Psicologia do egotismo'. Além deste artigo, tanto em sua tese sobre a doença da santidade quanto em 'O Pessimismo nacional', há muito a estudar sobre a leitura de Max Nordau em Manuel Laranjeira. Abrindo 'O Pessimismo Nacional' encontramos:'O blagueur científico Max Nordau, analisando o mal-estar contemporâneo, profetizava o crepusculo dos povos. A profecia afinal não passava de uma blague apocalíptica. Nordau era um judeu e os judeus são apocalípticos até na blague. Em Portugal, nos últimos anos, está contecendo um facto, se não igualmente apocalíptico, pelo menos muito parecido com valor demonstrativo. Diz-se que a sociedade portuguesa vai atravessando uma crise sobreaguda de sombrio pessimismo[...]' .
Laranjeira é, a um tempo, expositor e analista e também um crítico das teorias de Nordau, apresentando-se como um inteligente leitor que na recepção sabe avaliar activamente o conteúdo da leitura. Em 'O crepúsculo dos povos', parte do trabalho sobre 'Henrik Ibsen e Max Nordau ', Manuel Laranjeira expõe a teoria de Nordau, o teor da crise, da decadência e da degenerescência, que se tornaram uma ameaça para a civilização. Mas enquanto Nordau fala de crepúsculo dos povos e anota o profundo mal-estar no final do século XIX, prevendo apocalipticamente a marcha da Humanidade como uma 'marcha fúnebre para o abismo e para a extinção da raça', Manuel Laranjeira prefere a visão naturalista de E. Zola que em 'Fecundidade' faz ver que esta marcha não nos levará senão à vida e ao progresso'; e isto porque analisando o século XIX se verifica que 'há sopros glaciais de descrença e sopros ardentes de fé e muito desejo de verdade'. Laranjeira apoia Zola e diz que dos dois não é Zola o pessimista nem é ele que está num estado depressivo, nem aquele que de fato apresenta sintomas de degenerescência. Laranjeira observa que Nordau 'não suporta os gênios'. Mas, a marcha do homem para o Futuro supõe que embora os fracos vão caindo pelo caminho, isso não significa que a agonia dos fracos vá precipitar a 'grande noite da Humanidade', como queria Nordau. Ao contrário, diz Laranjeira, 'tal noite ainda vem longe'. No segundo artigo Laranjeira trata do misticismo, definido por Legrain como 'altamente sintomático de degenerescência'e tido por Nordau como um estado de alma mórbido. Laranjeira observa que esta conceituação não define o misticismo. Faz uma análise individualizando diversas personalidades místicas e conclui que Nordau 'exagera porque generaliza'. No terceiro artigo publicado em 'Arte',Manuel Laranjeira ocupa-se da Psicologia do Egotismo à luz das teorias de Nordau, segundo a exposição do capítulo V de Degenerescência. Expondo Nordau, Laranjeira defende Ibsen dizendo que este não é um egotista. O egotismo seria um exagero da consciência do eu e a atrofia da consciência do não-eu, o que é irreal em Ibsen.

8. Fernando Pessoa (1888-1935)- Parece ter sido profunda, complexa e perturbadora a influência de Max Nordau sobre Fernando Pessoa. A 'Degenerescência'é 'lida como quem lê a Bíblia' .Por volta de 19O8, ao enumerar alguns poetas seus mestres, satânicos, pessimistas, naturalistas e simbolistas (Baudelaire, Edgar Poe, Cesário Verde, Antero de Quental, Guerra Junqueiro e Gomes Leal), Fernando Pessoa coloca-nos diante desta informação expressa: 'Livro capital, que destrói parte de esta influência, a Degenerescência de Max Nordau' . Esta citação diz-nos antes de mais nada que os poetas simbolistas e decadentistas considerados por Nordau como escritores de generescentes passarão de agora em diante a segunda linha. Com base na leitura do livro de Nordau, Fernando Pessoa irá construir uma personalidade literária 'classicamente apolínea', entrando o espírito de fim de século e o subjetivismo simbolista a nível de crítica que escreveu em 'A Nova Poesia Portuguesa': 'Mas a nossa poesia de hoje é, como acima dissemos, mais do que subjetiva. Absolutamente subjetivo é o simbolismo: daí o seu desequilíbrio, daí o seu caráter degenerativo, há muito notado por Nordau' . A longa biografia que João Gaspar Simões escreveu sobre Fernando Pessoa seleciona etapas várias da vida do Poeta para mostrar a profunda relação entre Fernando Pessoa e Nordau. Tão detalhada é a análise de J.G.Simões que são apresentadas passagens paralelas que nos levam quer ao livro 'Degenerescência'de Nordau quer à explicação que Fernando Pessoa dá de sua personalidade histérico-neurasténica. A partir desta realação pode admitir-se até a influência reflexiva do texto de Nordau para explicação da heteronímia, nos aspectos de impressionabilidade, insinceridade poética e ficção. O estudo de J.G. Simões é tão detalhado que admite até um Fernando Pessoa 'nordauizado' e apresenta o autor de Mensagem 'enamorado de Nordau' . Importante para entendermos a evolução em Fernando Pessoa por volta de 1914, é a leitura da carta de 25 de maio de 1914 dirigida a Álvaro Pinto.
Pode entretanto perguntar-se hoje se posteriormente Fernando Pessoa teria feito uma revisão de sua posição sobre Nordau. O texto que nos proporcionaria esta pergunta é aquele que é publicado em suas obras completas com o nome de 'Excesso de imaginação' , onde discute algumas características instintivas da Literatura Portuguesa. Nesse texto, poderia concluir-se seja que Fernando Pessoa rejeita a teoria da relação direta e necessária entre hereditariedade e criação literária; seja que rejeita a teoria da influência do meio sobre a gênese literária.


A presente leitura mostra-nos uma linha de pesquisa que pode esclarecer um dos caminhos de influência estrangeira na composição ideológica dos criadores literários portugueses antes de 1915. Há formas variadas de manifestar isso: 'Num meio degenerescente como o nosso - diz Augusto de Castro Filho - em que as actividades mais robustas se estiolam em neuroses de talento perdido, era mister a existência duma personalidade que pelo seu critério seguro e pela sua orientação dogmatizada orientasse os espíritos, os disciplinasse[...]' . Se 'Revista Nova'(1893), dirigida por Alfredo da Cunha e Trindade Coelho acreditava numa renascença portuguesa, apesar da crise, outros periódicos havia, como 'Alvorada', Ano I, 1897, n.1, p. 8, onde os ventos que sopravam eram o pessimismo de Max Nordau: 'A literatura de hoje é uma literatura de hospital, produto de cérebros vitimados pelo esfalfamento, de cérebros de fim de raça'. Isto era escrito por Júlio Dantas em 1897, na revista 'Aurora', num tom degenerescente que atesta a chegada de Nordau aos mais diferentes arraiais literários portugueses.


João Ferreira
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