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Ensaios-->A importância de fortalecer Israel -- 16/04/2007 - 11:00 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Importância de Fortalecer Israel

Claudio Téllez, 15 de abril de 2007
http://www.claudiotellez.org/

O impacto do Oriente Médio na estabilidade do sistema internacional ganhou outra dimensão a partir dos atentados terroristas de 2001 nos Estados Unidos. Os dois conflitos prolongados no Afeganistão e no Iraque, envolvendo forças ocidentais, os desafios abertos de Mahmoud Ahmadinejad, presidente iraniano, empenhado em aniquilar Israel e em levar adiante a expansão do programa de enriquecimento de urânio (doravante em escala industrial), as ações de países como a Síria e o Irã, que colaboram explicitamente com grupos terroristas que operam contra Israel, como por exemplo o Hezbollah, e as atividades da Rússia, um país que se torna cada vez mais influente na região, constituem uma dinâmica que parece indicar que o Oriente Médio ainda deverá se manter por algum tempo como o foco principal das atenções no cenário internacional.

O Irã afirma-se cada vez mais em sua posição de “rogue state” e requer respostas mais duras da parte do Ocidente. Contudo, dificilmente os Estados Unidos poderão enfrentar mais uma guerra convencional na região. Devemos frisar, aqui, a palavra “convencional”. Diante da necessidade imperativa de neutralizar uma ameaça concreta à sobrevivência de algum de seus aliados, os Estados Unidos, que são a maior potência militar do mundo, dispõem de condições de agir, porém a um custo possivelmente muito elevado perante a opinião pública internacional. Além do mais, o desgaste político interno com a abertura de uma nova frente de batalha também seria muito grande e provavelmente insustentável.

A Europa, que conta há décadas com a ajuda do poderio militar norte-americano para a sua integridade e sobrevivência, dedicou-se a construir um paraíso onírico kantiano onde a utilização da força é praticamente impensável e toda e qualquer ameaça deve ser enfrentada através do diálogo e do multilateralismo institucionalizado. Internamente, dedicam-se à manutenção de seu modelo de Estado de bem-estar social, cujos efeitos já começam a se fazer sentir na economia da região. Diante do aumento da longevidade e da queda das taxas de natalidade dos europeus, a população está envelhecendo e há cada vez menos jovens disponíveis para sustentar a elevada e crescente proporção de reformados. O aumento paralelo da islamização do continente europeu, que podemos traduzir como captação de imigrantes de baixa qualificação, a elevada taxa de desemprego na União Européia, situada em 7.9% em 2006 de acordo com a Eurostat, e a condenação de modelos como o da Suíça, um país que atrai empresas e investimentos através da aplicação de tributações mais, digamos, decentes, completam o quadro que indica que o atual modelo econômico europeu não deverá se sustentar por muito tempo.

Um ator importante, que está se tornando cada vez mais representativo no cenário mundial, é a Rússia. O país, pela sua própria configuração geográfica, sempre teve vocação imperial. O urso russo está enjaulado desde o fim da Guerra Fria, com a fragmentação do bloco soviético, porém a vocação russa independe de orientações ideológicas e de sistemas políticos internos. O país é uma potência terrestre que, se conseguir acesso aos mares quentes, tornando-se uma potência anfíbia, obterá um significativo incremento de poder. O geopolítico inglês Halford John Mackinder já tinha visto isso no início do século XX e toda a Doutrina Truman, formulada no início da Guerra Fria para conter o expansionismo soviético, baseava-se em considerações geopolíticas dessa espécie.

Independente das opções econômicas da União Soviética terem contribuído para o colapso do bloco e de sua população ter sido mantida, em sua maior parte, na miséria e na fome, se o país tivesse conseguido tornar-se uma potência marítima, na época, provavelmente teria conseguido estabelecer celeiros em outros lugares do mundo. Teria sido um império sustentável? Dificilmente. Ao contrário da sofisticada dominação hegemônica, que transnacionaliza os recursos de poder (“hard” e “soft”), a bruta dominação imperial perde a sua sustentabilidade através do progressivo esgotamento decorrente da transformação contínua de recursos econômicos em militares.

Contudo, o embate entre o urso russo e a baleia americana, chamados a “concentrar nas mãos o destino da metade do mundo”, conforme previsto por Alexis de Tocqueville ainda no século XIX, não terminou com o desfecho da Guerra Fria em 1991. É claro que nas dinâmicas mais complexas das relações internacionais do século XXI a continuação do confronto entre os Estados Unidos e a Rússia não se dará em um ambiente de bipolaridade. A Rússia disputará seus interesses com pelo menos dois países próximos que caminham a passos largos para o status de grandes potências: a China e a Índia. Saber trabalhar com esses dois Estados, portanto, será de fundamental importância para a estruturação de uma possível nova contenção e para o desenvolvimento da configuração mundial nas próximas décadas.

Diante de uma muito provável mudança de mãos da administração norte-americana para os democratas, geralmente avessos a pensar no longo prazo, cabe uma advertência para que nesse mesmo longo prazo não acabemos todos mortos: é necessário continuar fortalecendo os sistemas de inteligência norte-americanos, tanto de coleta quanto de análise de informações. A política internacional mostra tanto a sua face quanto as suas máscaras na diplomacia, porém a sua gestão real se dá nas atividades de inteligência. Recentemente, o presidente norte-americano George W. Bush aprovou uma nova estratégia de contra-inteligência determinada a expandir as operações contra espiões e terroristas estrangeiros, ao mesmo tempo intensificando a coordenação entre agências norte-americanas, o que é fundamental para a despolitização da inteligência. Será que a próxima administração dará continuidade a essa estratégia? De acordo com notícia recente no The Guardian (13 de abril de 2007), as atividades da inteligência russa na Inglaterra alcançaram o mesmo nível da Guerra Fria.

Com a perda recente de grande parte de sua influência no Leste Europeu, devido à entrada de países dessa região na União Européia, a Rússia está concentrando suas atividades principalmente no Oriente Médio. O Irã é visto por muitos analistas como um país que tem a pretensão de se tornar uma potência regional. Ora, ter essa pretensão é algo natural e inerente à condição anárquica do sistema internacional. Contudo, nos últimos tempos, o Irã age mais como peão da Rússia do que como potência autônoma. Na diplomacia aberta, a Rússia alinha-se ao mundo livre na condenação do programa iraniano de enriquecimento de urânio, porém no mundo real ela fornece armas convencionais e sistemas de defesa antiaérea para o Irã (como o TOR-M1, entregue ao Irã no início deste ano), além de criar dificuldades no Conselho de Segurança para a aprovação de resoluções mais duras contra esse país.

Alimentando as pretensões do Irã, a Rússia ganha um aliado significativo na região. No mapa do Oriente Médio, quem corre o risco mais imediato é Israel, tanto por razões geopolíticas quanto por motivos civilizacionais. Trata-se da única democracia de tipo ocidental na região, o que favorece com direitos de cidadania inclusive a minoria árabe no país. Israel também identifica-se com o núcleo duro da ocidentalidade, o que lhe garante o ódio e a repulsa das correntes de pensamento que se autodenominam “progressistas”. Nos meios acadêmicos e informativos ocidentais, com freqüência acusa-se Israel de praticar terrorismo de Estado. Contudo, pouco se diz acerca do verdadeiro terrorismo de Estado que é praticado por países como o Irã e a Síria, que armam e fomentam grupos radicais para o assassínio de civis israelenses. Quem critica as ações de represália de Israel como sendo “anti-humanitárias” para com a população civil palestina, geralmente esquece de mencionar que Israel age para defender os seus civis, enquanto os grupos terroristas islâmicos defendem-se com os seus civis, utilizando-os covardemente como escudos humanos.

Cercado por nações hostis desde a sua criação, Israel somente tomou a iniciativa nas agressões em 1956 e 1967. Nessas duas ocasiões, os ataques foram de natureza preventiva. A espiral de violência que ganhou intensidade durante todo o ano de 1955, alimentada por Nasser com sua ofensiva de guerrilhas contra Israel, e o incremento do dilema de segurança, ocasionado pela aquisição ostensiva de armas soviéticas pelo Egito, não deu muitas alternativas a Ben-Gurion. Com a nacionalização unilateral do Canal de Suez por Nasser em 26 de julho de 1956, em outubro desse mesmo ano o Reino Unido, a França e Israel lançaram a Operação Mosqueteiro contra o país árabe. A Campanha do Sinai, como é conhecida em Israel essa segunda guerra árabe-israelense, foi facilmente vencida por Israel, porém a vitória militar terminou ofuscada pelas pressões políticas dos Estados Unidos e da União Soviética dentro do contexto e da lógica da Guerra Fria. Em 1967, o ataque israelense foi uma antecipação aos movimentos do Egito e da Jordânia. Desde maio desse ano, os exércitos árabes já estavam reunindo forças ao longo das fronteiras de Israel e a frente árabe constituída pelo Egito, Jordânia e Síria recebia contínuo apoio soviético.

Atualmente, Israel convive em seu dia-a-dia com o flagelo do terrorismo, que interfere no desenvolvimento de suas atividades econômicas. Deve ser dito que, em termos econômicos, Israel nunca se voltou integralmente a favor do livre mercado. Porém, é necessário ressaltar que a prosperidade e o bem-estar econômico devem ficar sempre em segundo plano diante do objetivo primordial da segurança e da necessidade fundamental da sobrevivência. Não será o “livre comércio” e nem o “liberalismo” que conseguirão pacificar a região do Oriente Médio e tornar segura a vida dos israelenses. A estabilidade é conseqüência da implementação de boas escolhas estratégicas e não de idealismos que têm pouca aplicação diante de ameaças bastante concretas. Se queres a paz, prepara-te para a guerra (“si vis pacem, para bellum”), já dizia o escritor militar romano Vegetius, por volta de 390 a.C. Assim, deve-se primeiro garantir a sobrevivência através do fortalecimento das capacidades de poder perante os outros Estados da região. Depois, pode-se começar a pensar nos benefícios da paz para o desenvolvimento de relações econômicas que promovam o bem-estar e a prosperidade. Acusar Israel de ser um país “socialista” e reclamar da falta de engajamento dos israelenses em modelos de liberalismo econômico e político evidencia um elevado grau de miopia, em geral vinculado ao vício de concentrar-se nas efemeridades da pequena política e nos aspectos de caráter religioso, ideológico e cultural, em detrimento do contexto mais amplo das relações internacionais, onde não há muito espaço para opiniões de diletantes.

Apesar de todas as dificuldades que Israel enfrenta, desde 2003 o país vem realizando, com bastante sucesso, algumas mudanças em suas orientações econômicas. Israel é uma economia de mercado tecnologicamente avançada e equipamentos de alta tecnologia representam parte considerável de sua pauta de exportações. A participação do governo na economia, em geral bastante significativa, está diminuindo substancialmente. O país também apresenta uma interessante trajetória de crescimento nos últimos anos. Em 2004, seu PNB cresceu 4.8%. Em 2005, a taxa de crescimento foi de 5.2% e, em 2006, de 5.1%. A taxa de crescimento da economia israelense em 2006 foi elevada em comparação à média mundial e ultrapassou em quase dois pontos percentuais a média dos países da OCDE (situada em 3.2% nesse mesmo ano).

No índice de liberdade econômica publicado pela Heritage Foundation, cuja metodologia foi revista em 2007, Israel aparece no início do terceiro grupo, o dos países moderadamente livres, ocupando a 37ª posição logo abaixo da Coréia do Sul. O Brasil aparece nesse mesmo grupo, só que no outro extremo, ocupando a 70ª posição, abaixo da Tunísia (69º) e bem abaixo de Belize (56º). No que diz respeito a países da América Latina, o índice da Heritage coloca Israel somente atrás do Chile, que ocupa a 11ª posição e está no segundo grupo, o dos países em sua maior parte livres, de El Salvador, na 29ª posição e também no segundo grupo, e do Uruguai, situado no mesmo grupo de Israel, só que na 33ª posição.

O desempenho econômico de Israel e a possibilidade de voltar-se um pouco mais para a liberalização de sua economia deve-se, em parte, à presença norte-americana na região. A campanha dos Estados Unidos no Iraque, independente dos seus resultados mais visíveis serem aparentemente negativos, já deu pelo menos um fruto bastante significativo: contribuiu para aumentar a segurança em Israel. O regime de Saddam Hussein era um dos principais patrocinadores do terrorismo anti-israelense na região e a eliminação dessa ameaça permitiu que Israel possa ceder um pouco de espaço, nas suas preocupações, às reformas econômicas dos últimos anos.

Podemos concluir que Israel, por todas as suas características e pelo seu desenvolvimento histórico, representa uma peça-chave no embate civilizacional que permeia a dinâmica das relações internacionais neste início do século XXI. Devemos ter em conta que o fundamentalismo islâmico volta-se imediatamente contra o inimigo mais próximo, que é Israel, mas seu oponente é, de fato, a civilização ocidental como um todo. Não podemos desconsiderar também a Rússia, um país comprometido com a sua vocação histórica e que está sabendo tirar proveito das tensões no Oriente Médio para a concretização de seus interesses geopolíticos. Em um momento de fraqueza da identidade ocidental, fortalecer Israel também é importante porque a sobrevivência desse país envolve uma série de valores que deveriam continuar sendo caros ao Ocidente.

Diante da debilidade européia, em termos militares, e da dificuldade que seria para os Estados Unidos entrarem abertamente em novos conflitos armados na região, talvez uma das melhores opções estratégicas disponíveis na atualidade seja fortalecer cada vez mais o Estado de Israel (tanto nos aspectos militares quanto econômicos). Apesar das dificuldades estratégicas que enfrenta desde o início de sua existência, ultimamente o país vem galgando posições no ranking mundial da liberdade econômica e no crescimento sustentável. Além disso, também possui uma indústria de alta tecnologia, o que o torna bastante atraente para a captação de investimentos – ao contrário da América Latina, onde seria irresponsável desperdiçar recursos, visto que a região, além de não representar tanta importância geopolítica quanto Israel no panorama atual, optou por estacionar em retóricas ideológicas da década de 1970.


(*) Claudio Téllez é analista internacional e matemático.

http://www.claudiotellez.org/port/artigos/150407. html

Claudio Téllez
Vice President of Formation and Projects - CIEEP
Personal Web Page: http://www.claudiotellez.org/
E-mail: claudio@tellez.com




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