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Ensaios-->O TRADUTOR E A EPISTEMOLOGIA DA TRADUÇÃO -- 08/03/2007 - 13:15 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O TRADUTOR E A EPISTEMOLOGIA DA TRADUÇÃO

João Ferreira
Elaboração iniciada em 1990
Textualização definitiva em 2007


1
Antes de tudo, o tradutor deve buscar um perfil para si próprio

Sempre se questiona o caminho que poderá levar alguém a ser um bom tradutor. Com esse questionamento busca-se saber qual seria a melhor via para o exercício competente da tradução. Isto pelo fato de a tradução aparecer não apenas como um ofício que se aprende em escola, mas também como um campo de experiência e até como uma arte cujo talento transparece com mais luminosidade em uns tradutores do que em outros. Podemos desde já adiantar que, a tradução, na media em que é um ofício e também uma arte, para ser bem exercida, deverá conhecer e cumprir algumas normas e preceitos básicos, que a comunidade científica da área, constituída por leitores especiais, técnicos e peritos na arte de traduzir deixaram como rastro no percurso de seus caminhos.
Tudo isto nos ajuda a verificar que há na verdade um perfil teórico da tradução que serve de modelo para a tradução ser executada com competência. A teoria da boa tradução será aquela que partir de uma prática da tradução que se transforma aos poucos nos fundamentos básicos do ato de traduzir.
Quando Sartre dizia que o “homem é um ser que se faz a si próprio”, estava nos oferecendo a fórmula da própria teorização do homem a partir do Dasein ou da situação existencial, que determina os dados pertinentes à formulação essencial. Paralelamente poderíamos dizer, parafraseando Sartre, que são limitadas todas as definições de tradutor, se não partirem de um campo experimental e prático. O axioma fundamental de sucesso seria este: “o tradutor é um profissional que se faz a si próprio”. Seu perfil de trabalho nascerá consequentemente do perfil de seu conhecimento.

2

A Epistemologia da tradução

A prática da tradução é a aplicação de numerosos e específicos conhecimentos. Por conhecimento, entendemos a informação, a ciência, o discernimento, o critério e a consciência crítica. Em filosofia, o conhecimento é a apropriação do objeto pelo pensamento. No capítulo dos conhecimentos pertinentes ao campo da tradução, estabelece-se uma ligação estreita entre o sujeito e o objeto da tradução, entre o tradutor e o texto a traduzir, entre a técnica, o conhecimento e a metodologia da arte de traduzir.
No estabelecimento das fronteiras entre a boa e a má tradução, surgem princípios orientadores e conclusões críticas, de caráter epistemológico, que nos levam à postulação de um estatuto epistemológico da tradução.
Para entendermos o alcance metodológico desta epistemologia, que iremos aplicar em nossa análise da tradução de 'O Nome da Rosa' de Umberto Eco para língua portuguesa, começaremos por conceituar o que seja a epistemologia da tradução.
Por epistemologia da tradução entendemos a abrangência dos conhecimentos e dos princípios necessários à realização da tradução em todos os níveis dentro de um critério científico. Falar de epistemologia da tradução significa demandar uma postura crítica global, por parte do tradutor, destinada a produzir um texto correto e vernáculo. Para essa postura crítica global, o tradutor tem necessidade de: (1) informações corretas e seguras sobre a temática a que se refere o texto que traduz; (2) boa formação nas duas línguas implicadas no ato da produção do texto, que são a língua de partida e a língua de chegada; (3) noções de lingüística, filologia, estilística, lexicografia, gramática histórica da língua de chegada, assim como de história da língua portuguesa, de normas cultas da língua portuguesa, variações lingüísticas do português moderno e gramática da língua portuguesa; (4) teoria da tradução; (5) prática da tradução; (6) exercício comparado de várias traduções em torno de um mesmo texto; (7) história geral das civilizações; (8) história e cultura da época do livro a ser traduzido; (9) cultura clássica; (10) cultura ocidental; (11) outros conhecimentos complementares objetivos sugeridos ou pedidos pelo texto a ser traduzido.
A grande tese que desejamos defender aqui é que para traduzir corretamente, o tradutor de língua portuguesa, além de especialista na língua de partida, tem de ser um redator e um escritor capaz de dominar estilisticamente a vernaculidade em língua portuguesa e de compreender as relações dos conteúdos de pensamentos expressos no texto, conteúdos que nós chamamos normalmente de conteúdos culturais. A maneira objetiva que temos para analisar e teorizar sobre este problema é recorrer a um texto traduzido, de preferência um texto importante e conhecido da opinião pública, submetendo-o a dois eixos essenciais de análise. No primeiro eixo faríamos a análise comparada de traduções de um texto previamente selecionado, verificando o ajustamento ou o desajustamento técnico do ato da tradução frente ao espelho do texto original. No segundo eixo mostraríamos como esse ajustamento ou desajustamento nasce da suficiência ou da insuficiência de conhecimentos por parte do tradutor tornando a tradução correta, numa primeira hipótese ou falha, em segunda hipótese, se forem verificados presentes ou ausentes os conhecimentos fundamentais para que possa chamar-se fidedigna ou incorreta essa tradução.
A epistemologia da tradução associaria de um lado, a ciência da tradução com a teoria, a técnica e a prática da tradução, do outro.

3

A Epistemologia da tradução aplicada

Nenhum texto mais próprio para operacionalizar uma demonstração em torno do que representa a epistemologia da tradução do que um paradigma moderno do tipo de “O Nome da rosa” de Umberto Eco. É o que vamos fazer.
Importa chamar a atenção de que”O Nome da Rosa” é um romance elaborado dentro de uma efabulação que gira em torno de um manuscrito cujo conteúdo mexe com a história de um mosteiro beneditino da Idade Média na Itália. O ambiente retrata toda a história religiosa e cultural medieval. Dá um espelho fiel do que foram as lutas políticas entre o Imperador e o papa João XXII instalado nessa altura em Avinhão, e mostra todo o ambiente cultural dos mosteiros, as facções religiosas, as rivalidades de grupos e a teoria política que coloca em confronto direto o poder imperial e o poder papal. O contexto romanesco mostra com desenvoltura a dinâmica do movimento dos fraticelli e dos espirituais franciscanos que lutavam por uma regra rígida contra a ameaça da transformação da Ordem Franciscana, fundada por S. Francisco de Assis, no relaxamento do voto de pobreza proposto pelos conventuais. Na ação do romance é veiculado o ambiente tétrico de uma inquisição impiedosa imposta pelos delegados do papa. Estes e outros elementos de caráter especificamente religioso e histórico impõem ao tradutor uma pesada carga de cultura, a única que pode garantir o controle de uma tradução técnica e fiel.

4
Conhecimentos históricos

Além do conhecimento da história medieval em geral e da história da luta entre o poder papal e o poder secular na Idade Média, “O Nome da Rosa” exige do tradutor rígidas e precisas noções e conhecimento da história das ordens religiosas medievais, sobretudo da Ordem Beneditina, e da Ordem Franciscana , incluindo a história dos movimentos religiosos dissidentes ou heterodoxos. Precisa ainda saber tudo sobre a inquisição medieval, sobre as correntes de opinião que grassaram na Universidade de Paris em 1270 e 1277, além de um claro conhecimento onomástico e toponímico, abundantíssimo no texto, e que faz parte do movimento da construção lingüística do livro. Esses conhecimentos todos irão colocar concretamente os tradutores no fogo, ao exigirem deles, quando chegar a hora da tradução que digam ao leitor, por exemplo, o que é um “comune” italiano, o que são “canonici” e que diferença há no italiano entre “congiungere” e “congiugare”. São textos culturalmente simples, de primeira viagem, mas na realidade, se o tradutor não estiver epistemologicamente preparado vão ser um problema frontal, que vai terminar por comprometer o prestígio do tradutor.

5
Conhecimentos religiosos e bíblicos

A tradução de “O nome da rosa”, seja para que língua for, põe à prova a capacidade e a destreza do tradutor. Tratando-se de um romance cuja referência fundamental é a de uma sociedade religiosa em suas relações com a sociedade civil, com a hierarquia da igreja, com a ortodoxia e com a vida de que se fala, o tradutor tem que captar bem esta relação nas bases em que ela é colocada. Desta maneira, o tradutor só tem um caminho para se sair bem de sua tarefa: estar preparado e saber enfrentar.
Mas nem sempre acontece isso. A tradução de 'O Nome da Rosa' em português, tem muitas deficiências. Falamos tanto da tradução brasileira, quanto da tradução lusitana. Mas muito mais preocupação cultural oferece a tradução brasileira, que frequentemente incorre em erros crassos de conhecimentos gerais. A tradução lusitana tem também deslizes, de natureza diferente, e que devem ser assinalados, talvez noutro artigo aparte.
A enumeração de alguns erros que mostram o despreparo dos tradutores da tradução brasileira seria pertinente num longo artigo publicado em outro veículo mais rigoroso de crítica ou de informação. Aqui, na Internet, não podemos mostrar todo o fôlego que seria interessante mostrar. Mas não podemos fugir de dar uma amostragem para os leitores. Vamos começar pela tradução de nomes próprios.

6
Tradução de nomes próprios e de topônimos

Quanto ao aportuguesamento de nomes próprios não há critérios claros por parte dos tradutores deste texto. Traduzem-se uns nomes, não se traduzem outros, usa-se o nome no original ou o nome traduzido, a esmo, aparentemente sem critério. Umas vezes topamos Roger Bacon, (o texto italiano traz ora Ruggiero Bacon ora Ruggiero Bacone) em vez de Rogério Bacon (83). Fala-se de “ despojos milagrosos de São Martino” (223), fazendo-se apenas meia tradução, com o nome próprio em italiano, mas sabemos que “San Martino” não é português. Português é 'São Martinho', mesmo, em vernáculo, claro. Falando das “Profecias de Merlin(52)”, a tradução fica no impreciso nome estrangeiro medieval, em vez de passar a frase para “profecias de Merlim”, aportuguesando Merlim. Deixa o toponímico “Strasburgo” indefinido, sem ser francês, nem alemão, nem português (57), quando já existe em circulação o toponímico “Estrasburgo” em português. Interessante é que umas vezes os tradutores brasileiros traduzem o nome próprio de “Gioacchino” para Joaquim, mas outras vezes o deixam em italiano, transmitindo ao leitor a suspeição de que por vezes podem não ter identificado, na variedade das situações, que se trata do mesmo personagem. Há, de fato, variedades textuais sobre Joaquim de Flora ou Gioachino di Fiori e a interpretação e a tradução apresentada variam também: “um monge cisterciense[...] chamado Joaquim [original: Gioacchino)(67), “Gioacchino da Calábria” (71), “Gioacchino di Fiore”; ou traduzindo: “abade Joaquim” (266). Temos outro tipo de situação em relação a nomes próprios. Por exemplo, quando os tradutores traduzem: “Aymaro de Alexandria”(93), surge a necessidade de dizer que em termos toponímicos, a expressão italiana “Aymaro de Alessandria” dará em português “Aimaro de Alessandria”. Não é estratégico traduzir o nome de Alessandria, importante cidade piemontesa, na Itália, por 'Alexandria', por ser um toponímico reservado no caso, para a cidade egípcia de Alexandria, nome mais antigo e já consagrado. Quanto a nomes próprios, os tradutores deixam “Girolamo'(80)no italiano,sem tradução, em vez de Jerônimo; usam ora Bonaventura (239, 334) ora Boaventura; ora Francesco (230) ora Francisco; ora Salvatore (309), ora Salvador. Não traduzem Margherita (265 e 434). optam por “Michele Psello”(78) em vez de Miguel Psellos; optam por manter, no texto português, Avignon, nome francês (80), quando temos o nome aportuguesado Avinhão; deixam o topônimo “Verna”, sem tradução: “enviaram-no em retiro para Verna”(71), quando temos o toponímico secularmente traduzido para o português, que é Monte Alverne: “ enviaram-no em retiro para o [monte] Alverne”. Há traduções de nomes próprios consagrados que não podem sofrer variação anti-convencional. É o caso de S. Bento e “Ordem de S. Bento”. Quando o texto italiano diz “i monaci di Benedetto”, a tradução correta dentro da terminologia pública oficial é: “os monges de S. Bento” e não “Os monges de S. Benedito”. De igual forma, quando o texto italiano fala de “parole di Paolo ai Galati”, a tradução correta, tradicional, consensual e consagrada em todas as igrejas que usam a Bíblia é a de “palavras de S. Paulo aos Gálatas “ e não, como escrevem os tradutores, “palavras de S. Paulo aos Galateus” (260). Há ocasiões em que deixam o nome próprio em italiano “Michele mostrou-ma”(73), em vez de “Miguel mostrou-ma”; ou em português-latim: “a virgem Agnes” (76), em vez de “a virgem Inês”; ou então não traduzem:“Michele de Cesena”(23), em vez de Miguel de Cesena; ou traduzem metade: 'Frei Massimo de Bolonha' (368), em vez de Frei Máximo de Bolonha. Mais grave é quando pretendem traduzir “beato Francesco” por 'beato Francisco' (220) em vez de “São Francisco”. Tratando-se do nome “beato” seria importante que os tradutores percebessem que em italiano “beato” e “santo” são sinônimos. Mas em português, não. Assim, pode dizer-se em italiano “beato Francesco”, San Francesco” ou “Santo Francesco”, beata Agnese ou Santa Agnese.Bate no mesmo. Em português, porém, é inteiramente diferente. Em termos oficiais, pelo menos. Primeiro porque na terminologia da Igreja Católica, que é a referência central do texto, “beato” é um estágio que antecede a categoria de “santo”, tanto que existem as expressões “beatificação” (declaração oficial do Vaticano para designar uma figura com perfil avançado de candidato a santo) e “canonização” (declaração oficial do estado de santidade, de “santo”). No Brasil, especificamente, “beato” tem uma conotação diferente e própria nos anais do sertão nordestino, como podemos ver em 'Os Sertões' de Euclides da Cunha, através da figura de Antônio Conselheiro,uma figura de 'gnóstico bronco' e bem heterodoxo, como diriam seus intérpretes mais qualificados.

7
Giro expressivo e adequação da linguagem na tradução

Seria longa a lista de expressões mal traduzidas ou cruamente disfarçadas de tradução. Dou apenas alguns exemplos. Deixar no texto em português, por traduzir, a expressão 'avignonense' (333) é dar a impressão de que os tradutores se acharam incapazes de encontrar a expressão portuguesa correspondente (=avinhonense). Deixar “abomínio”(456), de ar cem por cento italianizante, e não traduzir por “abominação” que é a expressão portuguesa correspondente, é deixar o leitor navegando no escuro! Há inadequações de linguagem, como é o uso do termo “laicos” (238, 347), hoje com conotação definida e própria, nem sempre sinônima, em vez de “leigos”, que é um termo que se usa por oposição a clérigos.
Um dos lapsos mais escandalosos porém desta tradução brasileira está na versão desta passagem em italiano: “Cinquanta anni fa il comune di Padova emise un’ordinanza per cui chi uccideva un chierico era condannato all’ammenda di un danaro grosso...”. Os tradutores brasileiros verteram para português: “Há cinqüenta anos “o comum de Pádua” emitiu uma ordem pela qual que matava um clérigo era condenado a uma multa de muito dinheiro...”(237). O que é que uma tradução destas oferece ao leitor? Nada. Os tradutores não identificaram a palavra 'il comune' nem mostraram saber que “comune di Padova” significa “comuna de Pádua”. Traduzindo por “comuna de Pádua” , entenderíamos depois, através de consulta a um bom dicionário, que em nossa linguagem, 'comuna' era uma cidade medieval a quem o soberano ou o 'podestà' concedia autonomia. Mais tarde, essa autonomia começou a corresponder a autonomia concelhia ou municipal. Em termos atuais, o texto se refere a um dispositivo legal emitido pelo município de Pádua. Outra passagem que mostra a inabilidade dos tradutores em buscar a linguagem adequada está nesta passagem: “Io e i miei amici riteniamo oggi che per la condotta de cose umane non spetti alla chiesa ma all’assemblea del popolo legiferare”[...], que os tradutores assim nos deixaram na edição impressa que estamos comentando: “eu e meus amigos achamos hoje que a “conduta das coisas” humanas não cabe à igreja, mas à assembléia do povo, legislar” (240). Como nota a fazer à tradução apresentada, diríamos apenas que em português uma coisa é a “conduta” (comportamento) e outra coisa é a condução (direção, ato de conduzir, gerência; meio de transporte, veículo). Como última observação, de frontal inadequação semântica da tradução, temos esta outra passagem, que é grave: “Invano. Io pensavo alla fanciulla. La mia carne aveva dimenticato il piacere, intenso, peccaminoso e passeggero (cosa vile) Che mi aveva dato il congiungermi com lei; ma la mia anima no aveva dimenticato il suo volto e non riusciva a sentire perverso questo ricordo[...]. Texto que os tradutores verteram assim: “Em vão. Eu pensava na moça. A minha carne esquecera o prazer, intenso, pecaminoso e passageiro (cois vil) que me tinha dado 'o conjugar-me' com ela; mas minha alma não esquecera o seu rosto e não conseguia ver perversidade nessa recordação...” 321. A tradução em geral está correta, mas há uma expressão que extravasa qualquer vernaculidade. É quando os tradutores dizem: “o prazer[...] que me tinha dado o “conjugar-me” com ela[...]. Parece estranha a tradução. Primeiro, porque nenhum leitor vai entender esse “conjugar-me com ela”, a não ser fora da letra. Aos tradutores faltou a base filológica para distinguir entre 'conjungir' (significa 'unir'. De conjungir deriva “cônjuge”, que todo o mundo conhece na linguagem familiar) e “conjugar”(dizer ou descrever ordenadamente as flexões de um verbo). O italiano é claro: fala do “congiungermi com lei”. E portanto a tradução seria “ o prazer [...] de ter-me conjungido [copulado] com ela. O prazer de “conjugar-me” com ela” está fora de hipótese. Aliás há ainda outra passagem onde os tradutores praticam o mesmo equívoco semântico, utilizando conjugar por “conjungir”: “ “Porque de per si era o sentimento que move o homem em direção à mulher 'para que um se conjugue' com a outra” 323.
Tenho uma lista enorme de termos e de observações possíveis. Entre eles a tradução de “testo ereticale” por “texto heretical” 329. De Faraone por 'Faraão'(483). Tem que haver maior seriedade na tradução. O tradutor tem que pensar na sua função pública de passar adiante uma linguagem correta que pode contribuir para a formação linguística do próprio leitor. Mas não assim, tão desprimorosamente! Como não dá o uso de “inquerido” 347 em vez de “inquirido”, como não dá traduzir “ toda a vez que entrei em seus apartamentos” 338, por “toda a vez que entrei em seus aposentos”, traduz “irmãos laicos” 347 em vez de “irmãos leigos” e por aí adiante, numa lista interminável, que não importa alongar aqui. A língua portuguesa tem sua dicção, tem sua prosódia já fixada. Tem sua base filológica, tem sua gramática, tem sua correção. Há que oferecer isso aos leitores.

João Ferreira
8 de março de 2007
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