Bendito é o verme que me espera à porta

do meu jazigo pra me consumir...

tanto bendito que já me conforta

muito antes mesmo de eu sucumbir.



Pois na verdade (a) minh alma berra

um grito débil de torpor, infausto,

porque eu não quero apodrecer na terra

e dos abutres eu não vou ser pasto.



E porque eu quero não apodrecer

deixo de herança (o) que tenho: nada

antes que chegue (o) meu mundo ao fim.



Bendito os bichos que me vão comer,

roer-me os ossos e fechar-me a estrada

quando o sepulcro se abrir pra mim.



Campo Grande-MS, 23.12.93 - 22:46