De um sopro imenso, ela vem primeiro do casulo. Sofre, esperneia e aí brilhantemente, um ser colorido, com asas e vida fugaz.
É leve como pena e colírio para os olhos. Pétala que voa e transmite aromas, fazendo o seu circuito... Afrodisíaco, seu vôo,
curto e enigmático. Mas, ela quer mostrar-se para o mundo e, então usualmente, cansada, desmonta-se em pó e esquecida
permanecerá a curta existência... E amanhã, será como este nascer da borboleta, cansativo, intuitivo, mas, paradoxalmente,
passageiro. Existir requer a extrema certeza do agora, o doce caldo do instante, a exuberante ilusão do eterno. Noite e dia
unem-se num só futuro e o tempo nada mais significa do que a contagem regressiva espionando nossos passos... Perigoso?
Sempre. Caótico? Nunca, o vôo deve ser sobrenatural, imaturo, enluarado, sensual, quase virgem... O vôo capaz de desmistificar
o próprio personagem que a vida faz criar...
Luiza de Marillac Bessa Luna Michel
Foi então que com o rosto entre as mãos a emoção aumentou toda afogada na espera ansiosa como se as lágrimas fossem
contagiosas e o sol que pelo telhado de vidro tombando fizesse do seu quarto pequena fornalha! Ai pernas roliças, diz-me onde estás...
De repente a porta se abre e aparece acordado o sono tranqüilo e ela que estava dançando cai em seus braços e dorme com os pezinhos
em grata generosidade. Então a necessidade de explicar o emprego do seu tempo recuava quando se lhe fermentava uma idéia que é perfídia
das mulheres espirituosas dessas que o olhar percebe qualquer audácia e que vago adquire o hábito das flores e exala o pólen dos luares
como adormecem as inquietudes à noite nas colméias de todas as abelhas-
Miguel Eduardo Gonçalves
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