Para ser triste para sempre, nos dias que já não tenho sol.Lembro só das flores que eu reguei no meu jardim naquelas manhãs de agosto. À tarde levo plantas frescam sobre o túmulo do meu amor. Lá,lembro todas as tardes do dia de nossa despedida. Nuvens me ouvem, pássaros me consolam e com a lua é que desfaço do meu momento repetido;todas as tardes, ao pé das seis horas, volto aquele túmulo triste já contando o período de seis anos.
Nós nos amamos durante longos meses de nossas vidas.Todos os dias nos falávamos e nos víamos sempre que podíamos.Certa vez dei-lhe de presente um celular.
Ilusão de lhe segurar para mim. Qualquer demonstração de ciúmes ou amor. Amava-lhe como amava minha alma e amava sua alma também;Pertencia-me como me pertencia a minha pele. E ligar-lhe de hora em hora virou meu vício. Onde estaria? Com quem estaria? Nada me faria perder-lhe...
Uma vez deitamos no jardim.Na grama
esparramada sobre o chão.E contamos as aves que voavam sobre as nuvens.Foi um dia inesquecível.Selamos o nosso amor. Disse que jamais me deixaria, nem eu...
Mas Deus não quis assim... tirou de mim o ser que eu mais amava. A loucura se apossou de meus pensamentos e sentimentos.Não pude acreditar.
Neguei o meu amor por Deus.Jamais creria nEle.
Um dia abri um livro que estava na minha mesa e li numa página qualquer o que estava escrito:"Não há nada de mais terrível do que o amor desprezado. O amor é fogo e pode tornar-se chama devoradora."
Chovia no seu enterro.Poucas pessoas restaram.Eu fiquei por último.Olhei seu rosto pela última vez.Recordei da nossa vida.Foram tantas lembranças...mas não poderia perder-lhe para nunca mais ver-lhe.Mas não podia ser assim.Enquanto gotas caíam, meus olhos lagrimejantes olharam para o céu indagando aquele Deus por que tirou de mim quem eu mais amava. Ele não seria mais forte do que eu. Não perderia meu amor de qualquer forma. Se ele alguma coisa ficaria ou alguma coisa levaria para ficar com um pedaço de mim.
Na minha infelicidade permanente dei-lhe para que levasse consigo o celular que tinha sido seu. Pus ao alcance do seu ouvido para que em todas as noites pudesse ouvir a minha voz.
Assim, já nesse tempo de seis anos é que lhe ligo todas as noites para que escute as minhas palavras de amor. Nas grades do portão de seu cemitério fico do lado de fora esperando que atenda minha ligação. Ele nunca me liga, mas insisto em procurá-lo.
Nas minhas falas diárias conto-lhe de minhas saudades.A lembrança dos nossos dias passados aumentam a minha dor.A tristeza da despedida é uma faca que fere a alma. Espero que ele retorne numa tarde de sol,pois nada é mais cortante do que não ouvir a sua voz. Já tive a noção dos fatos do que sofri na minha pele que vivo para ser triste para sempre.Durante esses seis anos é que tenho deixado recados na sua caixa postal.
