Usina de Letras
Usina de Letras
227 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140786)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6176)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->OS SOFRIMENTOS DA JOVEM MARINALVA - Capítulos X e XI -- 07/12/2002 - 13:45 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Se você não leu os capítulos anteriores, clique no título abaixo:

OS SOFRIMENTOS DA JOVEM MARINALVA - Cap. I a V


X

Ele entrou em casa, almoçou e foi conferir se a empregada havia arrumado corretamente sua bolsa. Ficava irritadiço quando algumas de suas roupas preferidas eram esquecidas no guarda-roupa; por isso, antes da partida para alguma viagem, verificava tudo minuciosamente; e então só depois é que ia tomar o banho e se arrumar. Entrou no banho, barbeou-se cuidadosamente e depois aparou a pelugem que envolvia sua genitália. “Não quero que nada me atrapalhe...”, pensou ele.
Nas últimas horas, desde o acerto com Rosicleide, parecia que alguma transformação estava se operando dentro dele. Era uma metamorfose, como se algo que sempre estivera dentro de si, de repente despertasse. E ao despertar provocasse profundas transformações psicológicas. Uma quentura, um incômodo deixava-o quase todo o dia inquieto e causando-lhe pensamentos requintados de violência.
Faltando tão somente dois minutos para as quatro da tarde, colocou suas coisas no carro, um Golf vermelho metálico, e foi se despedir dos pais. Dessa vez eles não desceriam para o litoral; iam receber naquele fim de semana três vereadores da situação comprometidos em aprovar, sem licitação, o nome da empresa para fornecimento de cestas básicas para os funcionários da prefeitura. Seria uma transação envolvendo milhões de reais, em troca de dez por cento em propinas para os vereadores e alguns secretários da administração.
Entrou no carro e partiu. Eram quatro e dez. Teria que andar mais cinco minutos até que Rosicleide telefonasse.
De jardins até a zona sul, onde Marinalva morava, levava-se cerca de uma hora. Era tempo suficiente para pegá-la. Já havia pensado no local. Havia uma padaria e lanchonete na qual a maioria dos ônibus, que desciam ou subiam da baixada santista, paravam para o lanche. Algumas vezes Roberto também parou ali ao subir do Guarujá. Em frente àquela padaria seria um local seguro, sem que fosse descoberto por algum conhecido.
Quando o telefone tocou, ele já sabia de quem era a ligação.
Explicou onde deveriam aguarda-lo
Estacionou o carro e viu Marinalva do outro lado da rua acompanhada de sua mãe. Estavam de pé, uma ao lado da outra, olhando atentamente para os carros passarem, na esperança de que algum fosse o Golf dele. Marinalva usava uma blusinha top com detalhes azuis, mini-saia jeans e calçava sandálias brancas. O conjunto combinava perfeitamente bem. Os cabelos haviam recebido um tratamento cuidadoso em algum salão de beleza. Na verdade, aquela menina não se parecia muito com a que ele encontrara pela primeira vez em sua casa.
Mãe e filha atravessaram a rua. Marinalva trazia uma mochila preta na mão, onde estavam as roupas que comprara.
-- Oi! Você está linda! -- exclamou. Em seguida, pegou a mochila das mãos dela.
-- Obrigada!
-- Deixe-me colocar isso no carro. -- Abriu o porta-malas e colocou a mochila ao lado da sua bolsa. -- Agora vamos -- disse em seguida.
Entrou no carro, abriu o porta-luvas, pegou um envelope e o entregou a Rosicleide.
-- Ai está o que combinamos.
Rosicleide pegou o envelope e o guardou rapidamente na bolsa.
-- Trate minha filha com muito carinho... -- recomendou ela de forma implorante.
-- Pode deixar! Eu vou trazer ela inteirinha para a senhora... Não é verdade Marinalva?
Ela meneou a cabeça em sinal de concordância.
-- Tchau filha, mamãe ama muito você.
-- Eu também mãe! -- Volveu a filha, beijando carinhosamente a mãe.
Roberto ligou o carro e partiram.
-- Vamos nos divertir como nunca as sós em Guarujá...


XI


Chegaram ao Guarujá por volta das dezenove horas. Estava um belo dia naquela sexta-feira de janeiro. O sol ainda emitia os seus fracos raios. Muitas pessoas ainda estavam na praia curtindo despreocupadamente o entardecer. As ruas permaneciam movimentadas e os pedestres pareciam inquietos com o calor. Não era o verão mais quente dos últimos anos, longe disso; mas o calor estava terrível.
Roberto transpirava em excesso devido ao esforço de carregar a bagagem até o elevador e, depois, até a sala. O apartamento assemelhava-se a uma sauna, por está todo fechado. E aquilo tudo o deixou agoniado.
-- Vamos tomar um banho delicioso -- chamou ele, minutos depois.
Marinalva jazia sentada na sala assistindo TV. Sentia-se amedrontada e acuada a espera de que ele viesse se apossar dela. Sabia ou pelo menos fazia idéia do que lhe aguardava; e o medo a tornava angustiada. Todo aquele sentimento que experimentou ao conhecer Roberto havia desaparecido. Agora ele era alguém que a ameaçava. Vira em seus olhos, naquele dia no banheiro, a maledicência de suas intenções e agora estava à mercê daquele homem.
Quando o ouviu chamá-la, percebeu que seus dissabores, sua agonia estavam a começar.
-- Pode ir que eu vou depois -- disse ela, na tentativa de adiar ao máximo um contato íntimo.
Roberto pegara duas talhas e entrara no banheiro. Ao ouvir a negativa dela, tomou aquilo como um desacato às normas do acordo. Deixara bem claro que seria obrigada a seguir suas ordens. No primeiro chamado ela já se negara a obedece-lo! Aquilo o irritou profundamente. Voltou à sala com as toalhas na mão.
-- Escuta aqui, negrinha prostituta. Eu pague dois mil reais por você durante esse fim-de-semana. E durante esse tempo você me pertence. Portanto, eu decido o que você vai fazer ou não. Tudo que eu mandar, você vai obedecer sem reclamar. Esse foi o nosso acordo -- esclareceu. -- Portanto, estou mandando você tirar a roupa e vir tomar banho comigo e você vai fazer isso.
Tais ameaças caíram como um fardo sobre ela. Marinalva se sentiu acuada, ínfima e indefesa. Não pôde conter-se. E lágrimas doloridas e amargas minaram de seus impotentes olhos. Como fora capaz de se iludir assim com aquele homem? Quando o viu pela primeira vez, parecia ser um rapaz fino, gentil e interessante; agora se revelava indolente, inexorável e desdenhoso.
-- Você é um monstro, porco e sádico -- disse ela, numa explosão de raiva ao se despir.
-- O que vem debaixo não me atinge -- zombou ele, com escárnio.
Marinalva despiu-se e entrou no Box, onde ele a aguardava. Ao vê-lo desprovido de suas vestes, veio-lhe a memória o momento inicial de tudo. Não fosse o rancor dentro de seu peito, teria ela se encantado novamente por ele; mas conteve-se.
-- Deixa-me ensaboar você -- disse ele enternecido, tentando ser gentil. Sabia que tinha sido muito rígido com ela. Deveria ter contido um pouco mais seus instintos. -- Se for uma boa menina eu vou trata-la com muito carinho e não terá do que reclamar.
Ela não estava em posição de negar-lhe nada. Consentiu.
Roberto sentiu a seiva ardente percorrer-lhe às veias ao toca-la. E desejou-a do fundo de sua alma. Poderia ter-lhe subjugado ali naquele instante. Não o fez, porém. Queria saborear toda a magia daquela ardente chama; queria estudar as curvas daquele delicado ser; queria descobrir as sensibilidades daquela inocente alma; e queria faze-la sucumbir. Ah! Queria ele tortura-la mentalmente, brincar com sua inocência. Queria ser ele um deus do olimpo a manipular aquela menina como num jogo.
Ele a tratou com donaire durante todo o banho; tocou-a como à pétala de uma rosa. Da sensação desse tocar cresceu, porém, um desejo. Desejo esse que aumentava mais e mais... até que não foi mais capaz de se conter.
Assim que saiu do Box para se secar, envolveu-a com os braços, como se fosse um polvo; grudou seus lábios nos dela, como se fossem tentáculos; suspendeu-a no ar e a arrastou para o quarto, como se a levasse para as profundezas do mar.
Durante mais de uma hora Marinalva deixou que seu corpo fosse um brinquedo nas mãos de Roberto. A princípio, ele se preocupou em proporcionar-lhe deleite. A custo conseguiu acender a chama do querer naquela menina; contudo, o medo do novo, do desconhecido apagou-a logo depois. Debalde, tentou novamente. Ao ver a inutilidade de seus atos, lavou suas mãos e enraivecido rasgou-lhe as entranhas.
Dos semicerrados olhos dela, escorriam lúgubres lágrimas; lágrimas negras de dor e pavor. Dos seus frios lábios, saiam dolorosos grunhidos; grunhidos que pareciam invocar a Deus para arrebatar sua miserável alma. E de seu ferido coração, brotou a incompreensão.
Roberto ouviu as súplicas daquela menina, todavia não se compungiu. Estava tomado por uma força sobre-humana, tão poderosa que lhe havia sugado toda a razão. Naqueles instantes, não se diferia de um animal enraivecido. E só voltou a si quando um vulcão explodiu dentro de si. E então ouviu os abafados e pungentes soluços dela. Soluços como os de uma criança depois duma grande surra.
Ele por sua vez permaneceu lânguido sobre ela ainda por alguns minutos, parecendo querer tortura-la ainda mais. Para ela, aquele corpo despojado sobre o seu, era o prolongamento de seu devir. Mas ela conseguiu suportar e se sentiu aliviada quando ele se levantou sem dizer uma única palavra para conforta-la.
Enquanto ele voltou ao banheiro e ligou o chuveiro, ela permaneceu deitada, ferida tanto no corpo quanto na alma. Estava absorta em pensamentos, a tentar compreender como um ser semelhante a si pode ser capaz de ferir e humilhar o outro assim! O que teria feito ela para merecer um castigo desses? Sempre ouvira falar que o ato sexual era uma coisa gostosa e, dum instante para outro, descobre que era tudo mentira! Ou seria ela apenas uma vítima daquele homem desalmado, inescrupuloso e indolente? Será que ele na verdade a odiava? Ou simplesmente odiava a cor de sua pele? Talvez fosse isso! Ele só estava fazendo aquilo porque ela era uma negra. Talvez seja por isso que ele a chamou de negra prostituta diversas vezes enquanto a violentava. Ela não tinha certeza de nada; e ficou remoendo sua dor por algum tempo.
Roberto viu o estrago que fizera. Não sentiu, porém, pena daquela pobre menina. “Toda mulher passa por isso na primeira vez...”, pensou ele, como se fosse algo perfeitamente normal. A sua visão distorcida da primeira vez de uma mulher o impedia de compreender o que fizera. Aquilo não fora um ato de amor; fora um estupro.
Ao sair do chuveiro mandou que ela se levantasse e fosse banhar-se.
Marinalva obedeceu. Caminhou com dificuldades. Parecia que havia retalhado suas entranhas.
Instantes depois, ela saiu e foi à sala pegar suas roupas. Encontrou Roberto ainda nu sentado na poltrona assistindo TV.
-- Quero que você assim – disse, ao vê-la procurar algo para se cobrir.
Ela se sentiu humilhada e ultrajada mais uma vez. Não queria mais que ele visse seu corpo com aqueles olhos maléficos. Já não o desfrutara o bastante? Ainda teria que suportar aqueles olhos insaciáveis a devora-la? Contudo estava presa, durante os próximos dois dias, àquele homem; teria que suporta-lo. Então obedeceu e saiu da sala. Queria ficar sozinha remoendo sua dor.
Cerca de meia hora depois Roberto levantou-se e foi procura-la. Encontrou-a deitada no quarto de hóspedes dormindo. E então contemplou a beleza e a jovialidade daquela menina. Naquele contemplar dois sentimentos ambíguos tomaram forma: um, de orgulho por ela lhe pertencer durante aqueles dias, como se fosse sua amante; outro, de inveja e raiva por ela ainda ser tão jovem, bonita e ainda ter toda uma vida para frente.
Ele não a deixou dormir por muito tempo. Despertou-a para irem jantar num restaurante.
Ela vestiu uma de suas novas roupas e o acompanhou desdenhosamente ao restaurante. Apesar de tudo, também estava faminta; nem mesmo o medo de dar algum vexame foi capaz de impedi-la de se atirar à comida. Por sorte, Roberto não pediu nenhum prato extravagante para humilha-la. Talvez para que também não ficasse envergonhado ante aquela gente tão fina e educada.
Por volta das dez e meia voltaram para casa. E Roberto a fez se deitar ao seu lado, nos seus braços, para assistirem um filme. Enquanto o assistiam, de quando em quando, ele perpassava carinhosamente as macias mãos no rosto, nos lábios e nos cabelos dela. E era tão carinhoso; nem parecia o mesmo homem que a violentara horas antes.
Naquela noite Roberto enterneceu-se com ela. Foram dormir; todavia, quando foi alimentar-se mais uma vez de pureza, ela suplicou fervorosamente que não o fizesse, pois estava ferida; e dessa vez ele compreendeu. Em compensação, pediu-lhe que usasse a delicadeza de suas mãos e depois a sensibilidade de seus lábios para socorre-lo.

OS SOFRIMENTOS DA JOVEM MARINALVA - Cap. XII e XIII




Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui