De uma espiral desenrolada // Víbora incubada de mistérios
Parece que a mim se abre // E caminha gracejando sobre terra
Febril de carinhos encantada // Enfurecida em um típico enroscar
Nascida cobra aroma acre // Integrada aos pavores e odores
Qual fruta-carne elétrica // Liquidificada em seivas prazeirosas
Dança em lúbricos volteios // Estranhamente não cai em si
Furiosa empinando-se assimétrica // Geométrica pose de acasalar-se
Inquietos seios a tudo alheios // Abrilhantada pela mistura aquarelada
Saracoteiam no compasso dos quadris // Evidenciam o que há de mais macabro
Ao pé do olhar guloso por comê-los // Já num bote preciso soterrada
E quente da música e do vinho dos barris // Polvilhando danças e arruaças
Fosforescente da gruta irrompe // E num lampejo já em meu peito
Um deslumbrante florescer da vinha // Numa cascata mais do que divina
Quando ébria do gozo a desprender // O veneno enrustido doce de morrer
De certeiro bote enrolante se apinha // E ao seu causador a instântanea desejosa dor...
Miguel Eduardo Gonçalves // Luiza de Marillac Bessa Luna Michel