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Ensaios-->Diário de um pseudônimo (101) (2006/02/20) -- 02/10/2006 - 00:01 (Penfield Espinosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Diário de um pseudônimo (100)(2006/02/20)
 

Penfield Espinosa


20/02/2006

Millôr Fernandes tinha uma série de perfis chamada Retratos 3x4 de Amigos 6x9. Como sugere o nome, ele falava brevemente de amigos que eram grandes e que, por isso, mereceriam textos mais longos.

Dentro de meus limites de escritor e de amigo, passarei a falar de pessoas que encontro na rua. Em geral, gente de quem gosto.

Por exemplo, devido a parte de meu trabalho ser visitar clientes, às vezes uso sapatos sociais. Que muitas vezes precisam ser engraxados.

Na região da Paulista, encontrei um engraxate a quem usualmente peço que engraxe meus sapatos.

Ele é um pouco mais velho do que eu, nos seus quarenta e tantos. Mas se mantém em forma, talvez por aquela dieta que os pesquisadores chamam de NH, de Near Hunger, ou "quase fome". Já li que essa dieta realmente ajuda a rejuvenescer a quem a segue.

Ele pouco fala e eu já desisti de de perguntar. Imaginem um baiano como eu em silêncio. Mas diria que ele é do interior de SP e que, aparentemente, leva uma existência solitária.

Não sou Sherlock Holmes e o mundo já deixou há muito de seguir os estereótipos da era vitoriana, que permitiram tanto sucesso a Sherlock.

Mas creio que não ouço das poucas palavras que ele fala nada da mineiralidade mineira, ou do tom arbóreo paranaense -- eles sim é que são pinheirenses: o pinheiro araucária é o símbolo do Paraná.

Apesar de não ser mineiro, creio que vejo nele aquela fidalguia ou nobreza. Não, não nobreza, mas classe, elegância e dignidade, que são independentes de classe social e dependentes talvez de algum equilíbrio interno, que vemos apenas civilizações mais antigas do que esta nossa de consumo.

Alguns velhos nobres ingleses, também seus mordomos que vemos retratados em filmes. Também em filmes de Eduardo Nelson Coutinho vemos seres classudos das culturas tradicionais das favelas ou do sertão brasileiro.

Assim, creio que meu amigo engraxate é talvez um solitário que deixou sua pequena cidade no interior paulista à procura de espaços maiores onde alojar sua individualidade, sua cultura que já está deixando de existir.

Se você não consegue combater seus inimigos (a cultura consumista vinda de S. Paulo) em sua cidade, junte-se a eles. Vá para S. Paulo.

Vejo meu amigo engraxate como alguém com cultura acima da média. Mas não sei se assiste a coisas de arte.

Godard diria: quando ouço falar em cultura puxo meu talão de cheques.

Um engraxate talvez não tenha talão de cheques. Talvez leia livros em sebos: há algum tempo atrás, couros eram engraxados com sebo.


S. Paulo, 20 de fevereiro de 2006
(Copyright © 2006-2013 José Carlos Penfield da Costa Espinosa)

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