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Ensaios-->O Chefe - Final -- 28/09/2006 - 11:06 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“O Chefe” - Final

por Carlos I. S. Azambuja (*) em 23 de setembro de 2006

Resumo: Ao povo brasileiro, nas urnas, cabe o direito e o dever de se manifestar e decidir se Lula será reconduzido, ou não, para mais um mandato de quatro anos no Palácio do Planalto, como o mais alto mandatário da nação, depois de todo o mar de lama em que se transformou o governo petista.

© 2006 MidiaSemMascara.org


Lula, mais uma vez, não deu nomes. O presidente refutou que tenha trabalhado para impedir a criação das CPIs que investigam seu governo e o PT. Diz Lula: – “O que é importante para mim e que me deixa muito de cabeça erguida é o seguinte: nós estamos com três CPIs funcionando, não há nenhuma ingerência do governo para criar nenhum problema para a CPI. Acho que o povo brasileiro deve aproveitar que eu estou na presidência da República e, se alguém tiver denúncias, tem que fazer as denúncias porque elas serão apuradas”.

Em outro trecho da entrevista, Lula defendeu o deputado José Dirceu (PT-SP), apontado como o grande operador do esquema de pagamento a parlamentares. – “Feliz o país que tem um político da magnitude do Zé Dirceu”. Lula diz que seria advogado de defesa de Dirceu: – “Qual é a acusação que existe contra o Zé Dirceu?”

O publicitário Duda Mendonça, marqueteiro da campanha política que elegeu Lula presidente em 2002, admitiu ter recebido recursos de caixa 2 no exterior. Lula rechaçou o evidente crime eleitoral. Para ele, a prática foi reconhecida apenas pelo “nosso Delúbio”, e nas eleições municipais de 2004. O presidente também defendeu o filho, Fábio Luiz Lula da Silva, cuja empresa recebeu aporte de R$ 5 milhões da Telemar, uma concessionária de serviços públicos: – “Todos os contratos são regulares, todos. Nenhum é irregular”. Lula não aceitou que Celso Daniel foi vítima de crime político: – “Não acredito no envolvimento do PT no caso Celso Daniel”.

O jornal O Estado de S. Paulo publicou o editorial “Um espanto de entrevista”: “A tal ponto chegou a enrolação que um dos entrevistadores não se conteve e afirmou: ‘A discussão não é se houve ou não caixa 2. É quanto foi’. Lula não se deu por achado, como não se daria, em outro bloco, quando um jornalista desmentiu, com fatos, a sua risível versão de que o governo jamais tentou impedir a criação da CPI dos Correios. Uma escapatória que o presidente buscou a todo momento foi a de declarar, magistral, que não se pode condenar quem quer que seja sem provas – como se já não houvesse uma pilha de provas, inclusive flagrantes – contra os seus companheiros. Para ele, tudo reduzindo a ‘denuncismo vazio’”

Em 11 de novembro de 2005, fracassou a operação mata-CPI. Lula chefiou pessoalmente negociações para deputados retirarem assinaturas do requerimento de prorrogação da CPI dos Correios. Mas os trabalhos da comissão foram estendidos até abril. Lula queria que as investigações terminassem em dezembro e não “contaminassem” o ano eleitoral. O jurista Miguel Reale Júnior defendeu o pedido de impeachment de Lula. Para ele, a operação posta em prática para tentar impedir a prorrogação dos trabalhos da CPI dos Correios é motivo suficiente. Diz Reale Júnior: – “Ficou configurada a compra de deputados para conseguir barrar uma CPI que investiga o governo. O presidente não pode mais comandar a nação”. De acordo com o jurista, Lula mentiu no programa Roda Viva ao dizer que não interferiria nas investigações. Agora, deve ser responsabilizado com a perda do mandato: – “O presidente deixou suas digitais e assumiu o crime. Os deputados que retiraram as assinaturas não foram compelidos por alguma ideologia ou raciocínio específico, mas pelo simples suborno patrocinado pelo governo”.

Em 18 de novembro de 2005, em entrevista coletiva a emissoras de rádio, Lula apoiou o ministro Antonio Palocci (PT-SP), alvo de denúncias: – “O meu companheiro ministro Palocci continua tendo de mim toda a consideração que eu tinha antes, tenho agora e vou ter depois. E, se vocês querem que eu diga, eu vou repetir aqui: Palocci é e vai continuar sendo o meu ministro da Fazenda”.

Em 23 de novembro de 2005, declaração de Lula ao inaugurar uma plataforma de petróleo em Niterói (RJ): – “O Palocci é uma figura imprescindível ao Brasil. Todos sabem o que o Palocci significa para a economia brasileira”.

Em 24 de novembro de 2005, em entrevista concedida no Palácio do Planalto a quatro emissoras de rádio de São Paulo e do Rio, Lula mostrou-se alheio às graves denúncias contra o PT e integrantes de seu governo. As pérolas do presidente: “No dia em que o Brasil todo acordar pensando de forma positiva, a força que essa energia vai passar será tão grande que este país poderá, definitivamente, se transformar em grande potência”. “Uma coisa que nós aprendemos a fazer é que a vida humana é tão bonita e tão curta, que não há tempo para a gente ser pessimista”. “Não há razão para um casal brigar, porque não tem nada pior na vida do que você sair para trabalhar brigado com a esposa, ou a esposa brigada com o marido. É um dia infernal”.

Além das lições de vida, o presidente pareceu inspirado ao fazer comentários sobre a crise política: “Sabe, mexer no Palocci é a mesma coisa que pedir para o Barcelona tirar o Ronaldinho. Deixa ele jogando, ele está bem. De vez em quando o Ronaldinho perde um gol, de vez em quando o Palocci pode dizer alguma coisa que alguém não goste, mas isso faz parte da vida”.

Sobre o mensalão: “Só tem três possibilidades de um presidente saber: se ele participou da reunião, se alguém que participou contou para ele, ou se a imprensa denunciar”. Lula nega: “Estamos vivendo um momento excepcional, do ponto de vista da intranqüilidade na política, porque se colocou na cabeça do povo, ao longo de vários meses, que tinha mensalão. Isso virou refrão de música de carnaval, está no inconsciente da sociedade e agora a CPI terminou o trabalho sem provar se houve mensalão. A própria pessoa que acusou foi cassada porque não provou”.

A morte de Celso Daniel, um “acidente de percurso”: “Não acredito em crime político. Eu acho que o assaltaram, seqüestraram, aí perceberam, como se diz, o tamanho do peixe, e resolveram matar de forma irresponsável e por medo”. “Uma parte do Ministério Público de São Paulo, toda vez que vai chegando a eleição, levanta esse caso”. Lula parece Paulo Maluf.

Em 07 de dezembro de 2005, em entrevista a emissoras de rádio, Lula afirmou: “Eu levaria o José Dirceu para o palanque, até porque ele foi cassado e não foi provado nada contra ele. Até agora não vi nenhuma acusação que possa dizer “Dirceu cometeu um delito”.

Em outro trecho, o presidente diz que o uso de caixa 2 foi um “erro abominável”: “Não pense que fiquei inibido de ser petista. Pelo contrário, agora estou mais orgulhoso. Acho o seguinte: nós também não somos infalíveis, cometemos erros e quando cometemos erros, temos de pagar e pagar forte”.

Em 09 de dezembro de 2005, a revista Carta Capital publicou uma entrevista com Lula. O presidente defendeu o PT ao ironizar o esquema montado por Delúbio Soares e Marcos Valério, que contraiu supostos empréstimos no BMG e no Banco Rural: “Trata-se do ato de corrupção mais inusitado da história da humanidade, ou seja, alguém pratica corrupção com dinheiro emprestado e pagando juros, eu não consigo entender. Tem alguma coisa errada aí”. Ao referir-se à crise política, Lula acusou setores oposicionistas de estarem “tentando fazer golpismo” contra ele.

Em 16 de dezembro de 2995: Em quase três anos, o governo Lula empregou mais de 40 mil pessoas em caráter temporário. Cerca de 4 mil, para cargos de assessoria e comando. Os contratos por tempo determinado dispensam concursos públicos. Dados do boletim estatístico de pessoal do Ministério do Planejamento registram que 5.413 nomeações efetivadas contemplaram indicações sem qualquer vínculo com o serviço público. São nomeações políticas. Mesmo entre os 19.757 cargos comissionados preenchidos supostamente por servidores, sabe-se que parte considerável acaba ocupada por indicações políticas.

Enquanto o governo nomeia, Lula capricha no discurso de vítima. Em visita a Garanhuns (PE), trata do escândalo do mensalão: “Todas essas infâmias e acusações que vocês vêem na televisão, vocês sabem como é o jogo político brasileiro. Como acho que Deus escreve certo por linhas tortas, haverá o dia em que o povo vai saber o que é o jogo político e o que é a verdade”.

Em 17 de janeiro de 2006, em depoimento à CPI dos Bingos, o economista Paulo de Tarso Venceslau, expulso do PT em 1998, afirmou que dirigentes do PT sabiam de esquema para a arrecadação de recursos por meio de caixa 2, desde 1995. Naquele ano, Venceslau enviou carta registrada em cartório ao presidente do partido, Luiz Inácio Lula da Silva. Denunciou que a empresa Cpem (Consultoria para Empresas e Municípios), ligada a Roberto Teixeira, compadre de Lula, agia de forma irregular em prefeituras administradas pelo PT. Era contratada sem licitação para fazer um trabalho baseado “em notas falsas e rasuradas”, visando aumentar a arrecadação dos municípios com ICMS. Cobrava comissão de 20% pelos serviços. Na década de 80, Lula morou de graça em imóvel de propriedade de Teixeira, em São Bernardo do Campo (SP).

Em 13 de fevereiro de 2006: Jantar em comemoração do 26º aniversário do PT. Durante a festa em Brasília, Lula minimizou a importância do escândalo do mensalão mas não faz citações diretas: “As pessoas que erraram, a gente não tem que execrá-las. Errar é humano”.

Na festa, os mensaleiros João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Paulo Rocha (PT-PA) e Professor Luizinho (PT-SP). Coube a Luizinho puxar o coro pela reeleição do presidente: “Um, dois, três, Lula outra vez!”

O presidente do partido, Ricardo Berzoini (PT-SP), tratou de minimizar a crise política: “Sofremos o maior cerco político da história recente do país. Com erros que têm raízes em companheiros do PT, mas que foram instrumentalizados pela oposição”.

Comentário do jornalista Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo: “O PT não foi vítima de uma conspiração, ao contrário do que dizem seus intelectuais orgânicos. Vendeu-se”.

Em 23 de fevereiro de 2006, o TCU (Tribunal de Contas da União) aprovou auditoria e pediu explicações ao Palácio do Planalto sobre o uso dos chamados cartões da presidência, na compra de R$ 608 mil em bebidas alcoólicas e alimentos refinados. Os produtos foram adquiridos para a Granja do Torto e o Palácio do Alvorada, as residências oficiais de Lula. Os auditores do TCU também manifestaram preocupação com o uso dos cartões para saques em dinheiro. Os gastos são protegidos por sigilo, o que inclui os nomes dos fornecedores e o detalhamento das despesas. O motivo é a suposta necessidade de garantir a segurança do presidente e de sua família. Desde a posse de Lula, mais de R$ 20 milhões foram gastos com os cartões, boa parte por meio de saques em dinheiro vivo. Entre janeiro de 2004 e março de 2005, valores pagos em locação de veículos teriam sido suficientes para comprar automóvel similar ao alugado. Apesar de locados por vários dias, as despesas costumavam ser quitadas como se os aluguéis dos carros fossem diários, o que encarecia sobremaneira os preços.

Em 10 de março de 2006, nota publicada na coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, informou que o Palácio do Planalto decidiu renovar o enxoval, por R$ 175 mil. Diz o texto: “Para os quartos serão compradas quatro colchas de casal de piquê 300 fios e acabamento com bordado ponto Paris, por R$ 990,00 cada uma. Para copa e cozinha, serão gastos R$ 62.760,00. Cada jogo de toalha de mesa (cambraia 100% linho, com bordado Richelieu e dois forros) deve custar R$ 1.965,00. E quase R$ 15 mil serão gastos em toalhas: 210 de banho e 20 de piscina, entre outras. Todas com tecido felpudo, fibra longa e algodão especial. Cores a definir”.

Em 22 de março de 2006, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, determinou a suspensão da análise dos comprovantes de despesas ligadas ao presidente Lula. O trabalho vinha sendo feito pelo Senado. Os pagamentos foram efetuados com dinheiro retirado de contas acessadas por cartões coorporativos. Um técnico do TCU (Tribunal de Contas da União) chegou a verificar os arquivos da presidência da República durante 20 dias. Foi proibido de prosseguir com a apuração. A oposição suspeita de irregularidades. A Casa Civil justificou a medida, com a alegação de riscos para a segurança de Lula e de seus familiares.

Em 23 de março de 2006, o governo Lula decidiu envidar esforços para salvar Antonio Palocci (PT-SP). Em vez de investigar as acusações de Francenildo Costa contra o ministro, a Polícia Federal tratou de anunciar a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do caseiro. Ele foi o escolhido para ser investigado pelos federais, sob comando do ministro Márcio Thomaz Bastos. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, ligado ao Ministério da Fazenda) também abriu uma investigação contra o rapaz. Os estrategistas do PT tentaram desesperadamente descobrir motivação política para encobrir o que Francenildo viu na “casa dos prazeres”. Em vão.

Em 24 de março de 2006, o jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S. Paulo, comentou a investigação contra o caseiro Francenildo por suspeita de lavagem de dinheiro. Lamentou a falta de empenho para apurar denúncias contra os mensaleiros: “Na republiqueta lulo-petista, ‘coisa de bandido’, como o caixa 2, vira apenas ‘erro dos companheiros’. Mentira, em depoimento à CPI, vira, na novilíngua da republiqueta, ‘imprecisão terminológica’. Crime de violação do sigilo bancário vira ‘divulgação indevida’.”

Em 26 de março de 2006, a Folha de S. Paulo publicou o editorial de primeira página “Abuso de poder”. O jornal afirma: “A desfaçatez, o uso sistemático da mentira, o empenho em desqualificar qualquer denúncia, nada disso constitui novidade no comportamento do governo Lula. Chegou-se nos últimos dias, entretanto, a níveis inéditos de degradação ética, de violência institucional e de afronta às normas da convivência democrática. Na tentativa inútil de salvar a credibilidade em farrapos de um ministro, viola-se o sigilo bancário de um cidadão comum - o caseiro Francenildo Costa –, enquanto toda sorte de malabarismos jurídicos e parlamentares protege as contas de Paulo Okamotto, celebrizado pelos nebulosos favores que prestou ao presidente. Fato ainda mais grave, o caseiro se torna alvo de investigação por parte da Polícia Federal, num ato indisfarçável de ameaça e abuso de poder. A iniciativa – tomada em tempo recorde – não tem paralelo na história recente do país, infelizmente pródiga em situações nas quais representantes do poder público se viram às voltas com denúncias sérias de corrupção”.

Em 27 de março de 2006, caíram Antonio Palocci (PT-SP) e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso. Lula aceitou o pedido de demissão do ministro da Fazenda, embora a orientação a assessores do Palácio do Planalto fosse a de divulgar que Lula exonerara Palocci. O destino do superministro foi selado durante depoimento de Mattoso à Polícia Federal. O presidente da Caixa confessou que entregou pessoalmente a Palocci os extratos bancários de Francenildo. Mattoso é indiciado por violação ilegal de sigilo.

Comentário do caseiro Francenildo: “Está ficando provado que o lado mais fraco não é o do simples caseiro. É o da mentira”.

Em 28 de março de 2006, Lula fez discurso em cerimônia de despedida de Antonio Palocci (PT-SP), durante a solenidade de posse do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Disse Lula: “E eu posso te dizer, Palocci, que se é verdade que nem todo irmão é um grande companheiro, é verdade que um bom companheiro é um grande irmão. É por isso que posso te dizer, Palocci, independentemente deste momento que estamos vivendo agora, eu posso lhe dizer: a nossa relação é de companheiro, possivelmente mais do que a relação de irmão”.

Trecho do editorial “Uma crise de governo”, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo: “Eis a essência da crise até aqui: o mais importante e respeitado ministro do governo Lula e o presidente do segundo maior banco comercial público do país tentaram enxovalhar o humilde trabalhador que teve o desplante de afirmar, com pencas de detalhes, que o ministro mentiu ao Congresso quando negou ter ido ao casarão onde a patota de Ribeirão Preto fazia das suas. Não só fracassaram, como deixaram claro o quanto são capazes de descer – não fossem eles fiéis cumpridores do código de ética petista”.

Em 04 de abril de 2006, o ex-ministro Antonio Palocci (PT-SP) prestou depoimento à Polícia Federal e foi indiciado por crime de quebra de sigilo bancário e por violação de sigilo funcional.

Em 09 de abril de 2006, o instituto Datafolha fez pesquisa que ganhou as páginas do jornal Folha de S. Paulo. Para 83% dos entrevistados, Lula tem responsabilidade pela corrupção no governo federal. A coluna do jornalista Elio Gaspari publica nota: “São muitas as coisas que Lula não sabe, mas ‘nosso guia’ sabe que, se o sigilo bancário de Paulo Okamotto for aberto, sua candidatura à reeleição será um capítulo encerrado”.

Em 11 de abril de 2006: Bomba! O procurador-geral da República, Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, divulgou o resultado do inquérito conduzido por ele sobre o escândalo do mensalão. (aquele que, segundo Lula nunca existiu!). São denunciadas 40 pessoas ao STF (Supremo Tribunal Federal), em decorrência das investigações. O documento endossa as acusações da CPI dos Correios mas proporciona impacto maior. Afinal, o seu autor não é um político ou alguém que possa ser questionado por interesses menores ou objetivos eleitorais. O seu autor é o Procurador-Geral.

Logo na introdução da denúncia, os acusados. Entre os nomes, 20 estrelas. São elas: José Dirceu, Luiz Gushiken, José Genoino, Delúbio Soares, Silvio Pereira, Marcos Valério, João Paulo Cunha, Pedro Corrêa, José Janene, Valdemar Costa Neto, Professor Luizinho, João Magno, Anderson Adauto, Duda Mendonça, José Borba, Carlos Rodrigues, Zilmar Fernandes Silveira, Simone Vasconcelos, Henrique Pizzolato e Roberto Jefferson.

Antonio Fernando de Souza ressalva que “todas as imputações feitas pelo ex-deputado Roberto Jefferson ficaram comprovadas”. As investigações “evidenciaram o loteamento político dos cargos públicos em troca de apoio às propostas do governo, prática que representa um dos principais fatores do desvio e má aplicação de recursos públicos, com o objetivo de financiar campanhas milionárias nas eleições, além de proporcionar o enriquecimento ilícito de agentes públicos e políticos, empresários e lobistas que atuam nessa perniciosa engrenagem”. E mais: “Os denunciados operacionalizaram desvio de recursos públicos, concessões de benefícios indevidos a particulares em troca de dinheiro e compra de apoio político, condutas que caracterizam os crimes de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção e evasão de divisas”.

Ao abordar a movimentação financeira dos investigados, o procurador-geral aponta: os denunciados “mantinham um intenso mecanismo de lavagem de dinheiro com a omissão dos órgãos de controle, uma vez que possuíam o apoio político, administrativo e operacional de José Dirceu, que integrava o governo e a cúpula do Partido dos Trabalhadores”.

Sobre Dirceu: “É certo que José Dirceu, então ocupante da importante chefia da Casa Civil, em razão da força política e administrativa de que era detentor, competindo-lhe a decisão final sobre a indicação de cargos e funções estratégicas na administração pública federal, foi o principal articulador dessa engrenagem, garantindo-lhe a habitualidade e o sucesso”.

O relatório tem um sugestivo capítulo com o nome de “Quadrilha”. Refere-se à “existência de uma sofisticada organização criminosa, dividida em setores de atuação, que se estruturou profissionalmente para a prática de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta, além das mais diversas formas de fraude”.

A denúncia: “Pelo que já foi apurado até o momento, o núcleo principal da quadrilha era composto pelo ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, o ex-secretário-geral do Partido dos Trabalhadores, Silvio Pereira, e o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoino” (...) “Como dirigentes máximos, tanto do ponto de vista formal quanto material, do Partido dos Trabalhadores, os denunciados, em conluio com outros integrantes do partido, estabeleceram um engenhoso esquema de desvio de recursos de órgãos públicos e de empresas estatais e também de concessões de benefícios diretos ou indiretos a particulares em troca de ajuda financeira. O objetivo desse núcleo principal era negociar apoio político, pagar dívidas pretéritas do partido e também custear gastos de campanha e outras despesas do PT e dos seus aliados.”

Em 13 de abril de 2006, em O Estado de S. Paulo, o editorial “Um libelo arrasador” comentou a denúncia elaborada pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Para o jornal, Lula é o “beneficiário por excelência da corrupção em escala inédita promovida pelo PT”. O editorial responsabiliza o presidente, por ser “impossível imaginar que não tivesse conhecimento. O que torna absolutamente críveis as conclusões do trabalho, além da manifesta isenção do seu autor, é a consistência da análise da engrenagem por trás dos crimes perpetrados, com o entrelaçamento dos ramos político-partidário, publicitário e financeiro da quadrilha. Mas a denúncia convence acima de tudo por sua irrepreensível objetividade. É o que a distingue do relatório final da CPI dos Correios. Este, embora também tenha comprovado a prática do mensalão, foi uma conta de chegar, como costumam ser os resultados das investigações parlamentares, produto ao mesmo tempo de fatos apurados e pressões, ou negociações, políticas. Nada remotamente parecido com isso influenciou o inquérito dirigido pelo procurador-geral. A independência e a seriedade com que agiu transparecem na simplicidade do seu texto, desprovido dos contorcionismos verbais ou do estilo barroco presentes no documento da CPI. Com sujeitos, verbos e predicados em ordem direta, Antonio Fernando Souza dispensou eufemismos e chamou as coisas pelos nomes – a começar do mais arrasador deles, ‘quadrilha’. Está lá: ‘compra (pelo PT) de suporte político de outros partidos’ e ‘financiamento irregular de campanhas’”.

Em 15 de abril de 2006, a revista Veja debateu a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza: “Ali estão escritos em detalhes e com precisão jurídica os mecanismos de funcionamento do que talvez seja – com exceção da nomenklatura soviética – a maior quadrilha jamais montada com o objetivo de garantir a continuidade no poder de um mesmo grupo político, o PT de Lula. A hierarquia da quadrilha descrita pelo promotor tem como chefe José Dirceu, deputado cassado por corrupção que foi ministro-chefe da Casa Civil de Lula. Abaixo dele estão quase todos os ‘companheiros de luta’ de Lula, gente com quem ele conviveu intimamente por quase três décadas. O procurador-geral deixou vago no organograma da quadrilha o posto logo acima de José Dirceu. Mas o quebra-cabeça não é de difícil solução. Basta montar as peças e aparece o mais provável ocupante daquele posto. É isso que aponta o bom senso. Basta tentar montar com as peças do quebra-cabeça uma outra imagem que não a de Lula. Não encaixa”.

Para Veja, é evidente que o presidente era o beneficiário do esquema que tinha como objetivo sustentar o projeto de poder do PT: “O novo quadro desmonta a principal defesa de Lula, que sempre disse desconhecer todas as ações ilegais e clandestinas em torno do mensalão”. A revista afirma: “Afinal, se estava alheio a tudo, pode-se inferir sem exagero que Lula desconhecia como se construía o apoio a seu governo e ignorava o que faziam seus principais auxiliares. Um presidente pode ser enganado por autores da corrupção que ocorre num ministério de importância média comandado por um aliado recém-chegado – mas é inverossímil que não seja informado sobre o que se faz no coração de seu governo, uma instituição como a Casa Civil, comandada por um homem como José Dirceu, a quem ele mesmo chamou de ‘capitão do time’. Por não atender aos mínimos requisitos lógicos, o dilema de saber ou não saber tornou-se uma questão ultrapassada. O que se precisa investigar agora é como Lula se articulava com o bando dos 40. Que relações financeiras tinha com o ‘chefe da quadrilha’, o deputado cassado José Dirceu?”

Em 16 de abril de 2006, na Folha de S. Paulo, o editorial “Lula com a palavra” comentou a denúncia do procurador-geral Antonio Fernando de Souza. Para o jornal, o presidente deve explicações à sociedade. “Desde o início da crise, refugia-se num silêncio calculado, de vez em quando interrompido por esparsas evasivas, contradições flagrantes e vagos desabafos sentimentais: Formação de quadrilha. Corrupção ativa e passiva. Lavagem de dinheiro e peculato. No âmago do governo Lula, formou-se uma organização criminosa com vistas a manter-se no poder. Não são frases de algum oposicionista enraivecido, e sim do relatório elaborado pelo procurador-geral da República, formalizando denúncia contra os responsáveis pelo mensalão. Entre eles, o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o das Comunicações, Luiz Gushiken, os três principais dirigentes do Partido dos Trabalhadores, o então presidente da Câmara dos Deputados e um ex-diretor do Banco do Brasil”.

“Só uma quadrilha? Ou mais de uma? Também o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o grupo capitaneado por ele enredam-se numa outra coleção de acusações policiais”. O editorial centra em Lula: “Fui traído, disse ele mais de uma vez. Mas por quem? Lula foi prudente em não citar nome nenhum: muitos ainda não eram do conhecimento público quando a frase foi pronunciada pela primeira vez; a lista, até hoje em aberto, poderia sem dúvida oferecer diversos novos candidatos ao indiciamento criminal. O presidente não sabia de nada? ‘O importante’, afirmou numa famosa entrevista em julho de 2005, ‘não é se você sabia ou não, porque, seu eu tivesse condição de saber, não teria acontecido’. (...) Naquela ocasião, Lula recorria apenas ao truque vocabular de referir-se a hipotéticos ‘erros’ cometidos por seu partido: ‘o PT, se cometeu erros, tem que explicar para a sociedade brasileira que erros cometeu’. Mais do que erros, entretanto, é o que Lula tem de explicar agora. ‘Já faz tempo que eu deixei de ser presidente do PT’, prosseguia ele naquela entrevista, sintomaticamente gravada nos jardins de um certo ‘Museu do Ar’, em Paris. ‘Depois que eu virei presidente da República, eu não pude mais participar da reunião do diretório do PT’. Mas participou, ao que tudo consta, de reuniões com ministros perto dos quais as figuras de um Delúbio Soares e de um Silvio Pereira assumem o papel de aprendizes, de coadjuvantes, de bodes expiatórios numa farsa monumental. Farsa de um governo eleito com a bandeira da ‘ética na política’ e que tem, como principal recurso para provar sua inocência, o argumento de que todo o episódio do mensalão se resumiu a um caso de caixa 2 – ‘o que é feito no Brasil sistematicamente’, disse Lula, para corrigir-se meses depois. Trata-se ‘de prática condenada pela sociedade brasileira’, afirmou finalmente, com tardia convicção. É a mesma convicção com que garantiu, em dezembro passado, que ‘a CPI vai terminar e eles não vão provar o mensalão’.”

“Foram essas as certezas, foram essas as considerações do presidente da República ao longo da crise – extraídas a custo dos raros momentos em que se alçou ao dever civil de prestar contas pelo descalabro de seu governo. Nada mais se ouviu do presidente. Exceto o espetáculo da auto-congratulação balofa, da banalidade conceitual e da defesa da própria ignorância – que não se resume ao tema de sua falta de instrução formal, mas àquele, muito mais grave, que diz respeito às façanhas de delinqüência organizadas em seu círculo mais próximo”.

Em 20 de junho de 2006, o relatório da CPI dos Bingos marcou o fim do escândalo do mensalão, apesar dos inquéritos em andamento, das investigações em curso, das novas descobertas que certamente virão e dos futuros desdobramentos do maior esquema de corrupção de todos os tempos no Brasil. Quatro dias depois, o PT faz festa para oficializar Lula, o “pai dos pobres”, como candidato à reeleição. Em discurso, o presidente ataca os que tentaram, injustamente, destruí-lo. Disse Lula: “Nunca enfrentamos uma crise como a que se abateu sobre nós. A oposição aproveitou-se de algumas condutas equivocadas para generalizar culpas e tentar destruir o partido mais autenticamente popular do Brasil”.


Conclusão do autor deste artigo: ao povo brasileiro, democraticamente, nas urnas, cabe o direito e o dever de se manifestar e decidir se Lula será reconduzido, ou não, para mais um mandato de quatro anos no Palácio do Planalto, como o mais alto mandatário da nação, depois de todo esse mar de lama!


Leia também 'O Chefe' - 1a. Parte


(*) Carlos I. S. Azambuja é historiador.





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