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Ensaios-->O Chefe - 1ª Parte -- 25/09/2006 - 17:21 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“O Chefe” - 1a. Parte

por Carlos I. S. Azambuja (*) em 22 de setembro de 2006

Resumo: Uma resenha do livro que conta a história dos 403 dias do escândalo do mensalão, o maior esquema de corrupção de todos os tempos no Brasil. Os acontecimentos que abalaram o país e paralisaram o governo do PT.

© 2006 MidiaSemMascara.org


Nota Carlos Azambuja: 'O Chefe' é um livro escrito pelo jornalista Ivo Patarra. Conta a história dos 403 dias do escândalo do mensalão, o maior esquema de corrupção de todos os tempos no Brasil. Os acontecimentos que abalaram o país e paralisaram o governo do PT, sob o comando de Lula e dos homens do presidente. Ivo Patarra não encontrou nenhuma editora que aceitasse editar o livro e, por isso, o disponibilizou na Internet (http://www.escandalodomensalao.com.br/).


O atual momento histórico, com a proximidade das eleições, quando aparentemente Lula ganhará mais 4 anos apesar de toda a lama desse seu primeiro mandato, torna imperioso que façamos um resumo das principais passagens desse livro. É o que faremos.

***

Em 21 de junho de 2005, em Luziânia (GO), durante uma solenidade, Lula classificou de “bobagens” e de “denúncias vazias” as acusações de corrupção em seu governo, dizendo: “Ninguém, neste país, mais do que eu, tem autoridade moral e ética para fazer as mudanças nas instituições e no comportamento social”.

Em 16 de julho de 2005, a revista Veja não deixou por menos. A reportagem de capa, “Mensalão – quando e como Lula foi alertado”, descreve cinco situações nas quais informações sobre o esquema de pagamento de propina chegaram aos ouvidos do presidente. A primeira vez, em 25 de fevereiro de 2004, por meio do deputado Miro Teixeira (PT-RJ). O episódio ocorreu duas semanas após a queda de Wadomiro Diniz. Escreve o repórter Otávio Cabral: “Waldomiro Diniz, na condição de braço-direito de José Dirceu, era quem cuidava da relação do governo com o Congresso e, com sua demissão, os credores do mensalão entraram em polvorosa. Miro Teixeira, que havia apenas três semanas assumira a liderança do governo na Câmara, começou a ser procurado pela tropa interessada em saber como seria paga a mesada dali em diante. O deputado ficou estupefato. Não sabia o que era mensalão. Entre os dias 17 e 19 de fevereiro, Miro Teixeira recebeu várias sondagens. Numa delas, na manhã do dia 17, a pressão veio em comitiva. Eram três deputados juntos, querendo saber do futuro financeiro: Valdemar Costa Neto, presidente do PL, Sandro Mabel, líder do PL, e Pedro Henry do PP”.

Miro Teixeira conversou reservadamente com o presidente. Disse que deixaria o cargo por causa do mensalão. Veja relata: “Lula demonstrou surpresa, disse que nunca ouvira falar naquilo e prometeu conversar com o então ministro José Dirceu para apurar a denúncia – mas não voltou a tocar no assunto. No dia 31 de março, Miro voltou ao Palácio do Planalto e, diante do fato de que nada fora feito a respeito do mensalão, pediu para deixar a liderança. Saiu no dia 6 de abril, sendo substituído pelo Professor Luizinho”.

O segundo aviso ao presidente, em 5 de maio de 2004. Quem deu foi o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O Planalto, em comunicado, deu a seguinte explicação à revista: “Lula não se recorda de ter ouvido nenhum comentário de Perillo sobre o assunto”.

O terceiro episódio. O próprio Lula aborda o assunto, durante viagem oficial à China. Aconteceu em 25 de maio de 2004. Durante um jantar, Lula perguntou ao deputado Paulo Rocha (PT-PA) se ele já ouvira falar sobre o pagamento de mesadas a deputados. Rocha nega ter havido a pergunta, mas dez deputados estavam na mesa do jantar. Três deles confirmaram a veracidade da conversa.

Nos outros dois casos, o aviso foi dado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). No primeiro deles, em 5 de janeiro de 2005, o ministro Walfrido Mares Guia (PTB-MG) testemunhou a conversa. No segundo, em 23 de março de 2005, parte da alta cúpula do governo estava presente, no gabinete de Lula no Palácio do Planalto: José Dirceu (PT-SP), ministro da Casa Civil; Aldo Rebelo (PC do B-SP), ministro das Relações Institucionais; Walfrido Mares Guia, do Turismo; Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente; Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Câmara; e o deputado José Múcio (PTB-PE). A revista conclui:

“Se soube do assunto e não tomou providências, Lula pode ser acusado de crime de responsabilidade, previsto nos artigos 84 e 85 da Constituição e, também, na Lei nº 1079, editada em 1950, conhecida como Lei do Impeachment. Pela lei, o presidente, se soube do mensalão, tinha de ter mandado apurar. ‘Se o presidente teve ciência disso, caracteriza-se uma omissão, que é um caso típico de crime de responsabilidade’, afirma o jurista Miguel Reale Júnior, que redigiu a petição que resultou no impeachment de Fernando Collor, em 1992”.

Em 17 de julho de 2005, o jornal O Estado de S. Paulo comentou as declarações do presidente no editorial “Lula endossa a farsa”. Para o jornal, o presidente está associado a uma “armação”. Concedeu uma entrevista na qual “tinha absoluto controle” das perguntas, para se dirigir aos brasileiros. Conclusão do editorial: “A hipótese mais plausível é a de que ele aceitou ser ‘poupado dos detalhes’. Se um governante precisa se esforçar para saber o que os seus colaboradores não querem que saiba, que dirá então quando dá a impressão de que não quer saber? No caso de Lula, a única dúvida é se agiu assim para se proteger ou por autêntico desinteresse em conhecer como funcionam as coisas no seu governo”.

Em 22 de julho de 2005, em viagem ao Rio, Lula ridicularizou as investigações sobre o escândalo do mensalão: – “O que o povo quer mesmo é resultado. É saber se, no frigir dos ovos, a sua vida vai estar melhor do que quando nós entramos no governo”. Em outras palavras, Lula defende o “rouba, mas faz”.

Após almoçar com trabalhadores na refinaria da Petrobrás em Duque de Caxias (RJ), o presidente, exaltado, diz que ninguém lhe dá lição de ética: – “Eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida neste país. E não vai ser a elite brasileira que vai me fazer abaixar a cabeça”.

Em 27 de julho de 2005, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), enviou ofício ao Conselho de Ética da Câmara. Confirmou que alertou Lula sobre o esquema de pagamentos a parlamentares, em 5 de maio de 2004. Diz o documento: “Relatei ao senhor presidente que ouvira rumores sobre a existência de mesada a parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas. Repeti o inteiro teor das informações que havia recebido. O senhor presidente disse que não tinha conhecimento e que ia tomar as providências que o assunto requeria. Não sei quais foram as providências tomadas”. Perillo aponta duas testemunhas da conversa, que estavam dentro do carro. O motorista e o chefe da segurança do presidente. Nunca foram chamados pela CPI dos Correios, jamais depuseram.

Em 01de agosto de 2005, Cláudio, filho do presidente, usou avião oficial da FAB com 14 amigos. Foi durante as férias de 2004. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) fez sete tentativas até conseguir confirmar a mordomia, junto ao gabinete institucional da presidência da República. Antes, mandou sucessivos requerimentos à Secretaria-Geral da Presidência, Ministério da Casa Civil e Ministério da Defesa.

Em 12 de agosto de 2005, Lula aproveitou uma reunião ministerial para ler discurso ensaiado e preparado por sua assessoria. Faz um auto-elogio a realizações do seu governo e exime-se de responsabilidades sobre o escândalo do mensalão. Visivelmente abalado, quase não olha para as câmeras que transmitem o discurso. No final, de improviso, diz: – “Eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas”.

As afirmações são vagas. Lula não diz com precisão a que se refere. Não aponta nenhum culpado. O discurso, cheio de frases soltas. Fica nítida a intenção de proteger os responsáveis pela crise: - “Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país”.

Lula afirma estar “consciente da gravidade da crise política” mas não explica por que Delúbio Soares era freqüentador assíduo do Palácio do Planalto. Tampouco refuta, com a ênfase esperada, que fora alertado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) para a existência de um esquema de distribuição de mensalões à base aliada. Diz Lula: – “Se estivesse ao meu alcance, já teria identificado e punido exemplarmente os responsáveis por esta situação”.

A verdade, porém, é a do presidente que se movimentou, de todas as formas, desde o início, para impedir a instalação das CPIs. De um homem que tratou de manter, o quanto pôde, José Dirceu no Ministério da Casa Civil. Justo Dirceu, tido como o grande operador do mensalão.

Em 09 de agosto de 2005, surgiu Paulo Okamotto, o presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Foi nomeado para o cargo por Lula. Apresenta-se como o autor do pagamento da dívida de Lula de R$ 29.436,26 junto ao PT. Okamotto foi tesoureiro da campanha de Lula em 1989, na primeira vez em que ele disputou a presidência da República. A CPI dos Correios investiga se o pagamento da dívida foi feito com dinheiro de caixa 2. No Sebrae, Okamotto administra um orçamento anual de R$ 900 milhões. Ele diz que pagou a dívida em quatro parcelas, mas não contou nada ao presidente: “Tirei recursos da minha conta pessoal”.

Okamotto não tem provas de que pagou. Não tem recibos, nada. A história não tem lógica. Ele diz que sacou dinheiro vivo em caixas eletrônicos em Brasília e enviou os valores em espécie para São Paulo. Na capital paulista, aconteceram os depósitos em conta bancária do PT, a partir de quatro agências diferentes do Banco do Brasil. Uma confusão.

Em 20 de agosto de 2005, a revista Isto É Dinheiro conta a história de uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), sobre o uso de cartões de crédito para retiradas de dinheiro por parte de funcionários da presidência da República. Em oito meses de 2004, sacaram R$ 5,5 milhões. Justificaram: foi para pagar despesas do gabinete de Lula, da Granja do Torto, a residência oficial, e de ministros de Estado.

De acordo com a revista, em nome de Clever Pereira Fialho, lotado no gabinete de Lula, houve uma fatura de mais de R$ 1 milhão, sendo R$ 226,9 mil em retiradas de dinheiro vivo. O ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Mauro Marcelo Lima e Silva, sacou R$ 1,3 milhão. E Maria Emília Évora, responsável por despesas da primeira-dama Marisa Letícia, gastou R$ 441 mil, de janeiro a agosto de 2004. Do total, Maria Emília retirou R$ 198 mil em dinheiro vivo, média de R$ 24,8 mil por mês. Quase um mensalão.

Em 11 de setembro de 2005, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que o PT usou dinheiro do fundo partidário, originário de recursos públicos, para pagar irregularmente passagens aéreas para filhos, noras, genro e neta do presidente Lula, e para a mulher e a filha do ministro da Fazenda, Antonio Palocci (PT-SP). Quase todas as viagens, no final de 2002, foram no eixo São Paulo-Brasília. Beneficiados: Marcos Cláudio, filho de Lula, e a nora do presidente, Carla Adriane. Luiz Cláudio, filho de Lula, e a namorada, Talita. Sandro, filho de Lula, e a namorada, Marlene Araújo. E Lurian Cordeiro, filha de Lula, que viajou desde Florianópolis, acompanhada do marido, Marcelo Sato, e da filha, Maria Beatriz, neta de Lula. Já Palocci usou a mordomia para as passagens áreas da mulher, Margareth, e da filha, Carolina, e ainda se serviu da grana para pagar o hotel no qual Carolina se hospedou.

Reação do corregedor-geral da Justiça, ministro Humberto Gomes de Barros: – “A coisa é tão insólita... É uma apropriação indébita, desvio de dinheiro público. É uma coisa muito séria” (comentário meu: e daí?).

Com o caso nos jornais, Palocci mandou a assessoria emitir nota para negar conhecimento “pleno” dos pagamentos. Só parcial, portanto. E diz que “considera” restituir “eventuais pagamentos”, “que possam ter qualquer dúvida de correção”.

O PT também usou o fundo partidário para pagar R$ 22,8 mil de passagens aéreas para a China, em benefício de Rioco Kayano, mulher do então presidente do partido, José Genoino (PT-SP). Passagens a Paris de primeira classe foram pagas a Luis Favre, marido de Marta Suplicy (PT-SP), no valor de R$ 17.700,00. Quem também embarcou para a capital francesa foi o prefeito de Guarulhos (SP), Elói Pietá (PT), que ainda foi a Barcelona.

Marta Suplicy, por sua vez, gastou R$ 27 mil com o aluguel de um jatinho para deslocamentos entre São Paulo, Florianópolis e Brasília. Quem viajou com dinheiro do fundo partidário, ainda, foi José Adalberto Vieira da Silva, o assessor do deputado José Nobre Guimarães (PT-CE) e um dos ícones do escândalo do mensalão, preso com R$ 200 mil numa maleta e US$ 100 mil na cueca.

Em 14 de setembro de 2005, a Câmara dos Deputados cassou Roberto Jefferson (PTB-RJ). A interrupção do mandato do deputado autor da denúncia do mensalão foi endossada por 313 parlamentares. Outros 156 votaram contra. Houve ainda 13 abstenções, cinco votos em branco e dois nulos. O petebista fica inelegível até 2015. Em discurso de 42 minutos, Jefferson acusou Lula de relapso. “Se ele não praticou o crime por ação, pelo menos por omissão”. Jefferson não aceita a acusação de que não tomou providências, assim que soube do esquema de pagamento da propina a deputados: – “Fiz uma peregrinação. Ao José Dirceu, como ministro-chefe da Casa Civil, falei isso umas dez vezes. Falei ao Ciro. Depois nós descobrimos que o Márcio, secretário-executivo do Ministério, tinha recebido do Marcos Valério R$ 500 mil para saldar contas de campanha. Mas falei ao Ciro, com lealdade. Ele disse: ‘Eu não acredito nisso’. Falei ao ministro Miro Teixeira. Falei com o presidente”.

Com a língua afiada, sua melhor característica, Jefferson atacou: – “Tirei a roupa do rei, mostrei ao Brasil quem são esses fariseus, mostrei ao Brasil o que é o governo Lula. – Rufiões da pátria, proxenetas do parlamento. Este é o governo mais corrupto que testemunhei nos meus 23 anos de mandato, o mais escandaloso processo de aluguel de parlamentar. – Meu conceito do presidente é que ele é malandro, preguiçoso. O negócio dele é passear de avião. Governar que é bom, ele não gosta. – O PT não tem projeto de governo. Eu quero dizer o PT, esse Campo Majoritário e essa cúpula que assaltou o Brasil. Rato magro, hem? Quem nunca comeu mel quando come se lambuza. Rato magro. PC Farias é aprendiz de feiticeiro ante essa gente que assaltou o Brasil. Rato magro. Mas eu nunca bati no peito para dizer que eu sou o paladino da ética e o campeão olímpico da moralidade. Todo fariseu e farsante emprega culpa ao adversário como se fosse um biombo para esconder os seus defeitos. – O presidente escolheu o ministro José Dirceu como uma espécie de Jeany Mary Corner, o rufião do Planalto, para alugar prostitutas, algo que ele entendia poder fazer na Câmara dos Deputados. Tratou esta Casa como se fôssemos um prostíbulo”.

Em 07 de outubro de 2005, algumas semanas depois de se dizer traído e pedir desculpas em pronunciamento de televisão pelos erros cometidos pelo PT, Lula reuniu 67 dos 83 deputados do PT no Palácio do Planalto. Alguns acusados de envolvimento no escândalo do mensalão estavam presentes. Lula prestou solidariedade: – “Vocês não são corruptos. Vocês cometeram erros, mas não de corrupção. Todos vocês são construtores do PT”.

E, referindo-se diretamente aos parlamentares acusados: – “Vocês são companheiros que não têm nenhuma doença contagiosa, nada que impeça a nossa convivência”.

Em 15 de outubro de 2005 , a revista Veja voltou a publicar uma reportagem sobre as atividades de lobista do irmão do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá. César Alvarez, assessor do presidente da República, recebeu, com intermediação de Vavá, o empresário português Emídio Mendes, um dos controladores do Riviera Group, que atua no setor imobiliário, turístico e energético. O irmão do presidente participou da audiência, no Palácio do Planalto. Oito dias depois, o empresário, mais uma vez acompanhado de Vavá, estava de volta ao Palácio do Planalto. Desta vez para ser recebido pelo chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Por fim, e em decorrência dos encontros patrocinados anteriormente por Vavá, o empresário fez uma visita à sede da Petrobrás, empresa com a qual vinha tentando fechar negócios, no Rio de Janeiro. Acompanhou-o, mais uma vez, Vavá.

A reportagem de Marcelo Carneiro e Camila Pereira questiona o papel de Gilberto Carvalho, amigo e freqüentador dos churrascos patrocinados por Lula na Granja do Torto. Trecho do texto de Veja: “A pergunta óbvia é: Carvalho não comunicou ao presidente que seu irmão levava empresários para fazer negócios no Palácio do Planalto? E, se comunicou, por que o escritório de Vavá funcionou a pleno vapor até sua existência e finalidade terem sido reveladas por Veja? Solicitada a responder a essas perguntas na última sexta-feira, a assessoria da presidência limitou-se a dizer que tanto Carvalho quanto o presidente estavam ‘incomunicáveis’. Para quem, ao longo dos últimos escândalos, sempre se mostrou o último a saber, o termo não deixa de ser apropriado”.

Em 16 de outubro de 2005, Delúbio Soares comemorou o aniversário na fazenda Catonha, em Buriti Alegre (GO). O proprietário é o pai dele, Antônio Soares. Delúbio divertiu-se refrescando os amigos com água de um caminhão-pipa da Prefeitura. O prefeito, João Alfredo de Mello (PT), foi eleito com apoio do ex-tesoureiro. Apesar de formalmente afastado do comando do PT, Delúbio mantém a pose e os privilégios de dirigente do partido. Chegou a Buriti Alegre num automóvel Omega blindado, recém-adquirido, pelo qual pagou R$ 67 mil, à vista. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-tesoureiro informou ter patrimônio de R$ 168 mil.

Na fazenda em nome do pai, Delúbio faz a festa protegido o tempo todo por dois seguranças. O ex-tesoureiro concedeu entrevista ao repórter Expedito Filho, de O Estado de S. Paulo. Minimizou a importância do escândalo do mensalão: – “Nós seremos vitoriosos, não só na Justiça, mas no processo político. É só ter calma. Em três ou quatro anos, tudo será esclarecido e esquecido, e acabará virando piada de salão”.

Em 25 de outubro de 2005, depoimento à CPI dos Bingos. É de João Carlos da Rocha Mattos, juiz federal afastado e preso há dois anos sob a acusação de venda de sentenças. Ele prestou informações sobre o conteúdo de 42 fitas cassete que trazem escutas telefônicas gravadas supostamente de forma ilegal pela Polícia Federal, entre janeiro e março de 2002. As fitas reproduzem conversas entre integrantes do PT sobre as investigações do assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT). Segundo Rocha Mattos, as gravações revelam o desencadeamento de uma “operação abafa” para inviabilizar as apurações a respeito do esquema de corrupção em Santo André. A coordenação teria sido feita por Gilberto Carvalho, o chefe de gabinete do presidente Lula. Quando Daniel foi assassinado, Carvalho era o secretário de Governo da Prefeitura de Santo André. A acusação mais grave feita pelo juiz afastado é a de que “pessoas da favela Pantanal”, onde o prefeito teria sido mantido em cativeiro antes de ser morto, telefonaram a Carvalho e ao ex-vereador Klinger Luiz de Oliveira (PT), também secretário de Daniel na época, o que envolveria ambos no seqüestro e no assassinato. Diz Rocha Mattos: – “Nas conversas havia a clara impressão de que Celso Daniel era um morto muito pouco querido. Não havia lamentos pela morte, apenas a preocupação em proteger os dirigentes do PT. E fica clara, nas conversas, a preocupação de todos com o que os irmãos do prefeito poderiam declarar”.

O juiz afastado menciona Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, que chegou a ser preso sob a acusação de mandar matar Daniel: – “Dá a impressão de que era Gilberto Carvalho que coordenava o esquema de arrecadação. Quando a situação começa a se complicar, o Sombra aparece nas gravações gritando: ‘Chama o Gilberto aí’”. Rocha Mattos menciona o chefe de segurança das campanhas eleitorais de Lula, o delegado de polícia Francisco Baltazar, que depois ocupou o cargo de superintendente da Polícia Federal em São Paulo. Para Rocha Matos, Baltazar era contra a desgravação das fitas: – “Está claro que havia uma preocupação de abafar as investigações a respeito do assassinato, porque fatalmente os casos de corrupção, de esquema no lixo e nos ônibus, seriam descobertos”.

Agora, o juiz preso menciona Ivone Santana, namorada de Daniel, e o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP): – “A Ivone era pressionada pelo Gilberto, pelo Klinger e pelo Greenhalgh, a se portar como uma viúva triste. Eles a cumprimentaram pelo desempenho que teve no programa da Hebe Camargo. Gilberto diz claramente: ‘Você fez o papel de viuvinha. Muito bom’. A preocupação do Greenhalgh era não deixar a investigação ir muito longe, porque era um problema para eles”.

Em 29 de outubro de 2005, a revista Veja denunciou um novo escândalo: o PT recebeu grande quantia em dólares, proveniente de Cuba. O dinheiro norte-americano chegou acondicionado em caixas de bebida. De acordo com o repórter Policarpo Junior, o comitê eleitoral de Lula recebeu, entre agosto e setembro de 2002, US$ 3 milhões. O dinheiro foi entregue pelo cubano Sérgio Cervantes, conselheiro político da embaixada de Cuba no Brasil, e depois levado para Campinas (SP) num avião Seneca em duas caixas de uísque e uma de rum cubano. Buscou o dinheiro Vladimir Poleto, ex-assessor do ministro Antonio Palocci (PT-SP) em Ribeirão Preto (SP). Em Campinas, o dinheiro foi apanhado no aeroporto de Viracopos por Ralf Barquete, outro auxiliar de Palocci da época da Prefeitura de Ribeirão. De lá, foi levado num automóvel Omega blindado, conduzido pelo motorista Éder Eustáquio Macedo, para o comitê de Lula no bairro de Vila Mariana, em São Paulo. Aos cuidados de Delúbio Soares. Veja obteve detalhes da história com o advogado Rogério Buratti, ex-secretário de Governo de Palocci em Ribeirão. O relato da revista: “Buratti não queria falar sobre o assunto, mas não se furtou a confirmar o que sabia. ‘Fui consultado por Ralf Barquete, a pedido do Palocci, sobre como fazer para trazer US$ 3 milhões de Cuba’, disse Buratti”. Barquete morreu em 2004, vítima de câncer.

A revista também entrevistou o economista Vladimir Poleto: “A conversa estendeu-se das 10 da noite até as 3 da madrugada. Poleto, apesar da longa duração do contato, ficou assustado a maior parte do tempo. ‘Essa história pode derrubar o governo’, disse ele mais de uma vez, sempre passando as mãos pela cabeça, em sinal de nervosismo e preocupação. No decorrer da entrevista, no entanto, Poleto confessou que ele mesmo transportou o dinheiro de Brasília a Campinas, voando como passageiro em um aparelho Seneca em que estavam apenas o piloto e ele. Fez questão de ressalvar que, na ocasião, não sabia que levava dinheiro. Achava que era bebida. ‘Eu peguei um avião de Brasília com destino a São Paulo com três caixas de bebida’, disse. ‘Depois do acontecimento, fiquei sabendo que tinha dinheiro dentro de uma das caixas’, completou, acrescentando: ‘Quem me disse isso foi o Ralf Barquete. O valor era US$ 1,4 milhão’”. Poleto contou que recebeu a orientação de embarcar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, no avião emprestado por José Roberto Colnaghi, empresário amigo de Palocci. Em Brasília, foi levado numa van até o apartamento em que recebeu do cubano as três caixas de bebida, lacradas com fitas adesivas. A reportagem conta que ele deveria voar de volta para Congonhas, mas o mau tempo obrigou o piloto a descer em Viracopos.

Barquete chegou em Viracopos no Omega blindado dirigido por Éder Eustáquio Macedo, hoje funcionário do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro. O motorista pôs as caixas no porta-malas e levou-as a Delúbio. Ele confirmou à Veja ter feito o serviço, mas recusou-se a falar novamente com a revista. O Omega blindado pertencia à locadora de Roberto Carlos Kurzweil, empresário de Ribeirão. O comitê eleitoral do PT o alugara. O motorista Macedo era funcionário de Kurzweil e fora cedido ao PT. O repórter Policarpo Junior informa que o cubano Sérgio Cervantes, ligado diretamente a Fidel Castro, é um velho conhecido de Lula e do ex-ministro José Dirceu (PT-SP).

Dois dias depois, em 31 de outubro de 2005, deixou o Brasil o diplomata cubano Sérgio Cervantes, apontado como responsável pela entrega de dólares de Cuba para a campanha eleitoral de Lula, em 2002. Viajou sem dar quaisquer esclarecimentos sobre o caso.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) anunciou que vai apurar denúncias segundo as quais o grupo guerrilheiro FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) doou US$ 5 milhões para a campanha do PT em 2002. A revista Veja revelou uma investigação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em março de 2005, mas não se encontraram provas do repasse. Para Dias, o caso configura “atentado à soberania nacional” e não está encerrado: – “O governo fez uma operação abafa do caso. Fui procurado por pessoas da área militar que falam dessa conexão internacional”.

Em 07 de novembro de 2005, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Lula negou que houve o pagamento de mensalões no Congresso. “Tenho certeza que não teve essa barbaridade”, afirma ele. Por outro lado, explica assim o pronunciamento em que se disse traído por aqueles que usaram caixa 2 nas eleições, o que chamou de “loucura” e “práticas equivocadas”: – “O dinheiro fácil nunca fez bem para ninguém na história da humanidade. Você tem meios legais para fazer finanças de campanha. Não posso admitir que companheiros, em nome da facilidade, da presunção, começassem a terceirizar campanha financeira de um partido. Por isso que eu acho que fui traído por todos os que fizeram essa prática condenada pelo PT e pela sociedade brasileira”.


(*) Carlos I. S. Azambuja é historiador.





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