Diário de um pseudônimo (094)(2006/01/24)
Penfield Espinosa
24/01/2006
Durante algum tempo, logo que vim morar em S. Paulo, sentia que ia ver o mar a cada vez que subia em uma colina. É claro que em Salvador é assim: nos bairros mais próximos da orla, qualquer colina permite ver o mar.
Mesmo que à distância, mesmo que o alto mar.
Penso que uma das grandes imagens mal usadas, ou mesmo abandonadas, do cinema brasileiro é a chegada a Salvador pelo mar.
Já vi muitas vezes, em muitos filmes, a chegada por mar a Nova York. E não lembro nenhuma vez de ter visto a chegada a Salvador. Ou ao Rio de Janeiro -- que também deve ser muito bonita: não acredito na idéia de boca desdentada que, segundo Caetano Velloso, Claude Levi Strauss associou à baia de Guanabara quando chegou ao Rio por mar.
Tudo bem que não tenha a fartura de colinas de Salvador, de onde possa ver o mar. (Talvez em algum morro, em alguma favela ?)
Mas é mais outro caso de beleza ignorada, não registrada, que nós brasileiros deixamos de conhecer e os estrangeiros deixam de admirar.
S. Paulo, 24 de janeiro de 2006
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