Usina de Letras
Usina de Letras
42 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62201 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10353)

Erótico (13567)

Frases (50601)

Humor (20029)

Infantil (5428)

Infanto Juvenil (4762)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Dicionário -- 22/06/2000 - 20:43 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando eu fazia o curso ginasial no Colégio Nossa Senhora do Carmo, em Caxias do Sul, dizia-se que o Irmão Bonifácio havia decorado um dicionário de latim. Dizia-se isto tentando o perdão para suas loucuras, o que era obtido mas não sem algum riso. Coitado, era o que se comentava. Revendo hoje os fatos parece-me claro que ele não ficou louco por decorar o dicionário. Ao contrário, decorou o dicionário por estar louco. Louco ma non troppo. Não rasgava dinheiro. Era sovina no controle da livraria que era montada no colégio no início de cada ano.

Nunca tive aula com o Irmão Bonifácio. Nem sei porque lembrei do Irmão Bonifácio cuja fama servia para assustar os maus alunos com ameaças nunca efetivadas mas suficientes para acalmar a turba por um ou dois dias após as traquinagens de maior vulto, ou, preventivamente, evitando acontecimentos. Diziam que o Irmão Bonifácio, simplesmente Bonifácio para os maiores, tinha ganho uma herança e com parte dela comprado um fusca. O fusca de fato existia e ele tentava dirigi-lo pela cidade. Mas como acontece com quem aprende a dirigir depois dos cinquenta, às vezes dá uma ou outra batida.

Embora pareçam muitas as batidas deste tipo de motorista, na realidade são poucas frente aos riscos que correm e as situações de perigo que criam. Há quem diga que há toda uma seção de anjos da guarda especialmente designada para proteger estes motoristas tardios. Não poderia ser diferente. Eles aprontam muito. Esta conversa lembrou-me de meu pai e seu velho (em 65) Renault 47. Naquela época um carro com esta idade não era considerado tão velho como ocorre hoje. Pois o querido Luiz era motorista do mesmo time do Irmão Bonifácio. Felizmente, desistiu logo, antes que algum descuido do anjo da guarda tivesse maiores consequências e que meu padrinho Diomar fosse à falência. Ocorre que Diomar na época tinha uma oficina de chapeação como se dizia no sul. Aqui fala-se lanternagem, mas nenhuma das duas está no dicionário da Globo - a Segunda está no Aurélio. Santa criatura o Diomar a consertar os automóveis de tantos parentes, inclusive os meus, mais tarde.

Voltando ao Irmão Bonifácio e seu dicionário, estou longe de advogar se decore qualquer um deles, muito menos o de Latim. O extremo oposto contudo, ficar totalmente longe deles, é ainda menos aconselhável. O dicionário deve ser consultado sempre que necessário. Com isto evita-se vexames, desfaz-se enganos e descobre-se que muitas das palavras que se houve por aí, sequer existem. Algum dos meus professores do secundário, ou mais de um, sempre sugeria que ao se buscar o significado de uma palavra devia-se aproveitar e ler também as três ou quatro palavras anteriores e seguintes. Com isto, em lugar de uma palavra, aprende-se seis ou sete, quem sabe evitando a próxima consulta.

Veja por exemplo a palavra "palavra". No dicionário da Globo a palavra anterior é pálavi que, como todos sabem, foi a língua dos persas na idade média. A seguinte é palavrada - Palavra grosseira ou obscena; palavrão; farranca; bravata; (p. us.) palavreado. Aí você vai atrás do significado de farranca que o Word desconhece e o dicionário da globo também, embora use. O Aurélio também a desconhece. Com isto a consulta ficou nada esclarecedora, bem ao contrário do que desejava demonstrar. De qualquer forma valeu pelo pálavi, de indiscutível utilidade em saraus de cerimónia, como diria Dona Benta.

Se é certo que o exemplo acima não foi dos melhores, não consegui cortá-lo para não ser acusado de manipulação - tente com esta e descobrirá que manipueira é um líquido venenoso extraído da mandioca ralada.

Há ainda os que recomendam uma consulta diária ao dicionário, o que ao longo do tempo trará inúmeros conhecimentos.


Escrito em 29.12.1999
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui