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Contos-->OS SOFRIMENTOS DA JOVEM MARINALVA - Capítulos VIII e IX -- 04/12/2002 - 23:03 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

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OS SOFRIMENTOS DA JOVEM MARINALVA - Cap. I a V


OS SOFRIMENTOS DA JOVEM MARINALVA - Cap. VI e VII



VIII

Desceu para o almoço após o banho. Sentia-se perturbado com a beleza e jovialidade dos traços de Marinalva. Não sabia sua idade, mas deduziu algo entre 15 e 16 anos. Mal sabia ele que, na realidade, contava ainda com 14 anos.
Após o almoço, ficou na sala um pouco mais com os pensamentos na filha da arrumadeira, na espera de que ela pudesse aparecer; contudo, não apareceu e a angústia foi se abatendo sobre ele. Sabia que não sossegaria enquanto não a desabrochasse.
Havia caído numa armadilha preparada por ele mesmo. Queria apenas se divertir as custas da menina e agora via seus pensamentos serem tomados por ela. Não nutria sentimentos por aquela menina. Era tão somente um desejo de possui-la, de roubar-lhe a juventude e a inocência. Não poderia nutrir outro sentimento devido aos seus preconceitos. Pessoas de cor eram taxadas como inferiores, sem modos, sem educação, despudoradas, que parecem mais com animais do que com pessoas civilizadas. Disso ele não conseguiria se livrar, estava enraizado em seu sangue. Mas também não pôde evitar que de um momento para outro se sentisse atraído por aquela menina desqualificada. Isso o perturbava tanto quanto o desejo de possui-la.
“Tenho que arrumar uma maneira de convencê-la a me entregar”, pensou ele.
Seus pensamentos foram interrompidos assim que a empregada entrou na sala.
-- Escute aqui seu Roberto, Marinalva chegou assustada lá na cozinha dizendo que o senhor tentou agarrá ela. É verdade isso? -- Rosicleide estava transtornada, indignada e quase fora de si. Sua filha havia lhe contado uma pequena parte de toda a verdade: a que lhe interessava.
-- Não foi bem assim! Ela é quem entrou no meu banheiro enquanto eu estava tomando banho. Se ela foi lá era porque estava querendo alguma coisa...
-- E o senhor aproveitou para agarrar a minha filha?
-- Ela também queria, senão ela não teria ido me ver pelado. Não acha?
-- Num acho não! O senhor devia de ter expulsado ela de lá.
-- Pense bem, Rosicleide! Uma moça atraente, como sua filha, entra num banheiro para bisbilhotar um homem nu; ele á vê. Você acha que vai expulsá-la ou vai querer tirar proveito da situação. É tão certo quanto dois e dois são quatro que vai querer seduzi-la.
-- Eu poderia denunciar o senhor por assédio sexual.
-- E como você vai explicar que sua filha estava no banheiro comigo, só de calcinha, trocando carícias íntimas?
Quando ele disse que a menina estava sem roupa, Rosicleide arregalou os olhos como não acreditando. “Será que minha filha foi capaz de fazer isso?...”, perguntou-se.
-- Eu não acredito nisso! -- exclamou logo em seguida.
-- Pois é a pura verdade. Pode até chamá-la para que eu confirme na frente dela.
“Aposto como ela não vai chamar a filha coisa nenhuma, assim como não vai denunciar o caso... Se o fizer a filha vai ficar mais mal afamada do que já deve ser e além disso ainda perderia o emprego. Ela não vai querer isso...”.
-- Foi o senhor que obrigou ela a fazer essas coisas. Só pode ser -- resignou-se Rosicleide. A mãe não queria acreditar. No seu íntimo, porém, sabia que poderia ser verdade.
-- Se eu a tivesse obrigado, ela poderia ter gritado e fugido, mas não o fez. Só fugiu quando eu perdi a cabeça e lhe pedi para transar comigo. Aí ela ficou com medo.
-- Eu devo está tendo um pesadelo... O senhor ia transar com minha filha, bem debaixo do meu nariz?
-- Ia! -- afirmou ele categoricamente. -- Quando a vi com aquele corpo viçoso, pensei comigo: ela tem que ser minha. Meu sangue ferveu e agora ela me deixou como um cão atrás de uma cadela no cio.
-- Mas minha filha não é uma cadela.
-- Mas eu não quis dizer isso, estava apenas fazendo uma comparação. O que eu quero dizer é que eu quero a sua filha. -- confessou ele, sem medir as conseqüências dos seus atos. Contudo, naquele instante, não conseguia raciocinar corretamente. Seu corpo estava impregnado pelo veneno da luxuria, da irracionalidade e da fraqueza.
-- O senhor está maluco!... Nunca vou permitir isso!... -- Rosicleide sentiu a raiva subir-lhe nas veias e seu rosto tangido adquiriu uma cor escarlate. -- Se tentar aproximar-se de minha filha, eu te ponho na cadeia -- ameaçou ela novamente, gesticulando e apontando o dedo para ele.
-- Acalme-se, Rosicleide! Vamos conversar como adultos -- pediu ele intrépido.
-- E ainda tem coragem de me pedir para ficar calma, depois de uma indecência como essa?
-- Fique calma que eu tenho uma proposta para te fazer -- desdenhou.
-- Eu não quero saber de proposta nenhuma. O senhor não vai tocar na minha menina... eu já avisei: se tentar, eu denuncio o senhor por assédio sexual.
-- Não seja radical. Se não for eu, vai ser outro. E, talvez, bem pior do que eu. Que tal eu ter a sua filha em troca de mil reais? – propôs.
Roberto lhe fez a proposta porque sabia que seria algo tentador. Afinal de contas, a arrumadeira havia trago a filha para ajudar e aumentar a renda; pois estava passando dificuldades desde que o marido falecera. Roberto ouviu sua mãe comentar que Rosicleide estava para ser despejada por falta de pagamento do aluguel.
-- O senhor está muito enganado... minha filha não é garota de programa e nem mercadoria; ela é gente! -- Rosicleide recusara a proposta, mas a quantia havia mexido com seu orgulho. “Esse dinheiro resolveria o meu problema... mas ela é minha filha e eu não vou permitir uma coisa dessas...”, pensou.
-- Ora, Rosicleide! Hoje em dia tudo é vendível e comprável. Hoje se compra a vida de alguém num piscar de olhos, como se fosse uma guloseima... Além do mais, eu não quero comprar a sua filha. Eu apenas quero ficar com ela por algum tempo; depois ela será devolvida inteirinha, sem danos algum. -- Roberto, graças ao seu grande conhecimento e inteligência aguçada, tentava justificar sua proposta como se fosse simplesmente uma transação comercial, sem envolver sentimentos e dignidade alheia. -- Hoje em dia, quem governa o mundo é o dinheiro. Não são as pessoas, nem os governos... Para viverem, as pessoas são obrigados a vender sua força de trabalho, sua inteligência, sua beleza, sua voz, suas habilidades e seu corpo também... Cada um vende aquilo que tem de melhor e que vai obter maior valor. Talvez você nunca tenha visto falar num cara chamado Karl Marx; ele foi um filósofo alemão que demonstrou cientificamente como funciona a venda da força de trabalho e o que recebe em troca. Talvez ele não tenha ido tão longe quando se trata de vender o corpo, mas naquela época isso era irrelevante. -- continuava ele, demonstrando que sua proposta não tinha nada de absurdo assim. -- O que você acha que vem fazer aqui nessa casa? Passear, visitar alguém? Claro que não!... Vem vender a força que seu corpo produz por uma quantidade de dinheiro... Eu apenas estou querendo comprar o prazer que o corpo da sua filha produz durante um certo tempo, assim como você vende a energia de seu corpo para fazer faxina. -- concluiu ele, com as faces afogueadas, por conseguir uma linha de raciocínio que derrubaria os argumentos dela.
Rosicleide permaneceu em silêncio. Ele ficou esperando que ela dissesse algo. Ela estava imensamente confusa. Estas palavras haviam lhe dado um nó na cabeça. Uma proposta tentadora quanto aquela, embasada numa justificativa que tinha certo sentido, atingira em cheio o cerne de suas concepções, de seu orgulho e de sua dignidade.
Roberto sabia que era o momento de persuadi-la. Se não a convencesse a entregar a filha ali, não teria outra oportunidade. E, pensando nisso, quebrou o silêncio:
-- Aumento a minha oferta para você ver como sou generoso. Dou-lhe dois mil reais para ficar com sua filha por um fim-de-semana. Com esse dinheiro, poderá resolver todos os seus problemas e ainda sobra algum. Além disso, vou comprar excelentes roupas para ela. No fim, ainda vai sair ganhando mais. Você só precisa me dizer se aceita ou não.
Ela sabia que não seria capaz de resistir àquela proposta. Nos seus 38 anos de vida, nunca tivera sem suas mãos mais do que trezentos e cinqüenta reais; agora, vem alguém e lhe oferece dois mil. Sabia que levaria mais de um ano para ganhar todo aquele dinheiro trabalhando que nem burro de carga. Teria que sacrificar a filha, evidentemente, e isso era a causa do seu dilema.
-- Preciso pensar um pouco... -- disse finalmente; não mais com aquela indignação. Ele a havia dobrado. -- Tenho que consultar minha filha.
-- Entendo -- respondeu ele. -- Mas tenho certeza que ela aceitará a proposta. Sei que você saberá lhe mostrar os benefícios desse pequeno sacrifício. -- Roberto sabia que conseguira o que tanto almejava. -- E por falar nisso, ela até me deixou esse bilhetinho sobre a cama. -- Tirou o bilhete do bolso e o mostrou à mãe da menina. -- É por isso que tenho certeza de que ela vai aceitar.
Rosicleide leu o bilhete e depois devolveu a Roberto.
-- Bem, tenho que ir trabalhar agora. Converse com sua filha e me dê a resposta amanhã. Aqui está o número do meu celular -- disse, entregando-lhe um cartão. -- Estarei aguardando a sua resposta.
-- Sim, senhor.
Rosicleide saiu da sala e Roberto subiu até seu quarto.


IX

Roberto custou a dormir naquela noite. Permaneceu por mais de uma hora deitado na cama, olhando para o teto e mergulhado em fantasias com Marinalva. Fazia planos para quando estivesse com ela, experimentasse todo tipo de perversão que poderia surgir em sua mente Abjeta. Achava que, por pagar para tê-la por um período de tempo, poderia usar e abusar daquele corpo como se fosse uma daquelas bonecas infláveis que se compra nos sex’s shops. Dir-se-ia daqueles escrupulosos senhores de engenho que copulavam com suas escravas como se aquilo fizesse parte das obrigações a que estavam sujeitas a cumprir.
Ao acordar no dia seguinte, estava estranhamente apreensivo. Lembrou-se de quando fez vestibular para administração e foi saber o resultado; foi quando sentiu a mesma sensação pela última vez.
Dirigiu-se ao trabalho agoniado. “Será que Rosicleide não vai me ligar? Será que desistiu da minha proposta?...”, interrogava-se ele no caminho.
Pouco antes das onze o telefone tocou.
Era ela.
-- Alô?
-- Alô! Seu Roberto? -- Perguntou a voz do outro lado.
-- Sim, é ele... Rosicleide?
-- Sou eu sim...
-- Estava esperando sua ligação... -- confessou ele. “Eu tinha certeza de que ela ia aceitar...”
-- Conversei com minha filha.
-- Sei... -- disse ele, levantando-se da cadeira e indo trancar a porta do escritório para que ninguém ouvisse sua conversa.
-- ...Foi uma conversa muito difícil. É muito doloroso para uma mãe entregar sua filha para ser usada por um homem. As coisas só ficaram mais fáceis porque ela também concordou. Ela disse que gosta do senhor.
-- É uma moça atraente... -- disse em tom galhofeiro. “Mas aquela negrinha não se enxerga mesmo! Será que não se manca que não chega nem aos meus pés”.
-- O senhor promete que não vai nem machucar e nem maltratar ela? Ela ainda é uma menina, só tem 14 anos...
“14 anos?! Meu deus! Eu pensei que tinha mais... Que risco eu corri, se ela me denuncia eu estava ferrado de vez...”
-- Claro que não! Eu vou trata-la com muito carinho...
-- E como a gente vai fazer?
-- Eu vou descer para o litoral este fim-de-semana e ela vai comigo... Vou ficar no nosso apartamento em Guarujá -- explicou. Roberto já havia feito todos os planos antecipadamente.
-- E quanto ao dinheiro? – De repente Rosicleide estava mais interessada no dinheiro do que na filha.
Roberto pensou por alguns instantes.
-- Quando for apanha-la, eu entrego a metade e depois, quando voltarmos, darei o restante a senhora. Combinado?
O telefone ficou em silêncio por alguns instantes.
-- Tudo bem -- disse ela finalmente.
-- Vou mandar um mensageiro à sua casa para te entregar um envelope. Nesse envelope contém trezentos reais. Quero que a senhora ou alguém leve a sua filha e compre algumas roupas para ela.
-- Entendi.
-- Não precisa nem dizer que ninguém deve saber disso.
-- Pode ficar tranqüilo.
-- Então combinado. Até amanhã...
-- Até amanhã...
Desligou o telefone triunfante. Não era a primeira vez que ia passar um fim-de-semana no litoral com uma garota; fora outras vezes com suas namoradas. Mas agora era diferente, seria apenas em busca do profundo prazer sexual, sem pudor algum. Uma coisa era ir para a cama com alguém do seu nível, com uma pessoa decente e uma mulher que talvez, no futuro, fosse sua esposa; outra era ir com uma desclassificada qualquer, alguém que depois não gostaria de ver nunca mais; ainda mais sendo uma negra. Era esse seu pensamento.
Roberto aproveitou para sair mais cedo e cortar cabelo. Queria está impecável quando se encontrasse com aquela menina. Queria mostrar-lhe que, por mais que ela se arrumasse, estaria sempre ele sempre acima dela.


OS SOFRIMENTOS DA JOVEM MARINALVA - Cap. X e XI



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