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Artigos-->A PROPÓSITO DO MENSALÃO- uma reflexão à margem - -- 03/06/2012 - 07:25 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


 



A PROPÓSITO DO MENSALÃO



- uma reflexão à margem -



 



O medo do julgamento do mensalão manifestado pelo comportamento de Lula e pelo PT, sobretudo de seus principais próceres, me leva a fazer reflexão tangencial em relação ao núcleo do problema jurídico e político.



Este, em síntese, pode ser configurado, se tomarmos emprestadas as palavras do então Procurador-Geral da República, Sr. Antônio Fernandes de Souza: “os acusados do mensalão estão envolvidos na “organização criminosa” (grifo meu).



Ele pede o indiciamento dos 40 envolvidos do mensalão, entre eles os ex-ministros José Dirceu e Luís Gushikein (por corrupção ativa). No documento de 136 páginas, que são devassadores para o Partido dos Trabalhadores e o presidente Lula, com linguagem clara e direta, acusa a cúpula do PT de formar uma “sofisticada organização criminosa” que se especializou em “desviar dinheiro público e comprar apoio político”, com o objetivo de “garantir a continuidade do projeto de poder” do PT (grifo meu).



Ao retomar a acusação, o atual Procurador-Geral da república, o Sr. Roberto Gurgel, com pouca alteração (como a retirada de algum nome da lista) reitera o que já apontara seu antecessor.



Entre os envolvidos figuram com destaque nomes de militantes que um dia pegaram em arma contra a ditadura militar de 64. Ao lutar contra a ditadura demonstraram ser idealistas, revolucionários, muitos até marxistas, e levantaram a bandeira revolucionária de lutar pelo povo contra a exploração da chamada classe dominante. Ou, para usar o chavão de praxe: contra o capitalismo.



Aqui se insere minha reflexão a partir da espicaçante interrogação: - O que leva pessoas a mudarem radicalmente seus ideais e seu projeto de vida?



Antes lutavam por uma causa social – a mesma que gerou o marxismo, o leninismo, a implantação do comunismo e do socialismo em diversos países ( como Russia, China, Cuba, Coreia do Norte) – e vitoriosos ou derrotados, passados alguns anos, surgem como mentores de uma organização criminosa, ou, simplesmente, como gananciosos, corruptos, e obcecados pelo enriquecimento a qualquer custo. Tornam-se justamente o oposto do que eram antes e se tornam praticantes dos mesmos comportamentos por eles combatidos.



Esta pergunta me faz reportar a um grande intelectual e político português, que viveu no início do século passado: Bazílio Telles.



Foi um pensador voltado para a problemática da injustiça no mundo. Ou como diz um de seus biógrafos – José Carlos Carvalho:



“As grandes questões que o preocupam são as que já preocuparam o sábio Jó, como são as questões do mal, do sofrimento e da injustiça sobre os inocentes, afinal questões de sempre e de enorme atualidade nesta pós-modernidade autista à memória, crítica da modernidade depois do falhanço dos grandes ideais da modernidade”.



Bazílio Telles lança no papel suas reflexões justamente diante de grande decepção e sofrimento em sua vida pessoal e política: após ter sido ardoroso combatente pela implantação da República em Portugal, percebeu, à altura dos primeiros anos da década de 1910, que sua luta foi vã e que a ganância humana pelo poder e pelo vil metal é maior que o ideal que impulsiona os revolucionários.



A meu ver, com esta frase, o intelectual lusitano pôs o dedo na ferida. Deu-nos, em poucas palavras, a resposta à nossa indagação: a ganância humana pelo poder e pelo vil metal é maior que o ideal que impulsiona os revolucionários.



Infelizmente não temos dados biográficos das pessoas a que nos referimos. Tivéssemos poderíamos avançar nossa reflexão, impulsionados por outra indagação, mais de cunho psicológico do que social e político: será que este impulso pela ganância pelo poder e pelo vil metal não estaria inoculado no subconsciente de tais pessoas, porém travestido de “ideal revolucionário”? Como responderiam os italianos: - Chi lo sa?



Custa-me acreditar que o ser humano normal mude tão repentinamente passando de um polo a outro, em seu modo de ser. Não é por acaso que o termo bipolaridade é empregado tecnicamente para situações anormais de comportamento humano.



Seria leviandade e até boutade afirmar que o revolucionário é patológico, é anormal. Se bem que os especialistas costumam aproximar o tipo bipolar do indivíduo possuidor de temperamento forte.



Segundo Diogo Lara, médico psiquiatra e com doutorado em neurociências:



“O temperamento forte é ponto comum dos grandes aventureiros, artistas, empreendedores, revolucionários, como também dos boêmios, malandros, abusadores de drogas, jogadores e viciados em adrenalina. As características dos temperamentos fortes podem se manifestar sem transtornos. Mas quando ocorrem alteração de humor  -  oscilações entre os polos da euforia e da tristeza, passando por agressividade, apatia ou ansiedade – caracteriza-se a bipolaridade”.



Nessa linha de raciocínio, sou levado a supor que o legítimo revolucionário (está aí o exemplo de um Che Guevara!) teria como suporte referencial de seus atos e de suas aspirações existenciais, sociais e políticas, algo como o avesso à ganância pelo poder e pelo vil metal.



Vou mais além em minha conjectura. Quando comparo o Lula, líder sindical ao Lula desde 2002 até nossos dias (incluindo o do lamentável episódio da diatribe com Gilmar Mendes), noto que, infelizmente, a mudança em sua personalidade se deveu realmente ao que Bazílio Telles apontou: em Lula, a ganância pelo poder e pelo vil metal tem sido maior que o ideal que o levou a ser o carismático líder sindical e fundador do PT. Talvez por isso ele mudou tanto!



Ingênuo seria admitir que Lula nunca mudou, nunca mentiu, jamais temeu o julgamento do mensalão.


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