Sou louco
É duro para você ouvir-me dizer tal coisa com tanta segurança, mas é isso mesmo: sou louco. Acho que você também já teve chances de abraçar a loucura — mas desperdiçou-as quase todas. Talvez volte ainda a ter algumas, mas o risco agora de salvar-se é bem menor.
Eu uso essas palavras porque — você sabe —: a loucura é a salvação.
Mas “querer” salvar-se é besteira, um despropósito. Por isso eu recomendo aos saudáveis que enveredem, ousados, decididos, pelos urgentes caminhos da loucura profunda.
Claro que não me refiro à loucura inconsciente, medíocre, que produz baba em bocas contorcidas e requer boletins hospitalares de ocorrências, sirenes, ambulâncias, camisas de força.
— Não.
Eu me refiro à loucura de Laing, de Gaiarsa, de Osho, de Dali, de Paritosh. Eu me refiro à loucura de Jesus, de Nietzsche, de Artaud. Eu me refiro àquela loucura que está ali — aqui — a quase 360 graus da sanidade.
Eu me refiro à fuga da escuridão chamada normalidade.
À quebra radical das correntes opressoras.
Ao abandono puro e simples do rebanho.
Eu me refiro à loucura luminosa dos criadores de mundos.
À loucura dos amantes da liberdade absoluta.
Esta — a loucura que me encanta.
E que agora me chama para o abraço definitivo!
Edson Marques.
|