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Contos-->O livro -- 04/12/2002 - 17:58 (Clarice Barcellos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quem o vê pela primeira vez não imagina que sua profissão é intermediar transações de livros raros. Mas não de qualquer livro raro. Livros escritos entre os séculos XV e XIX, mais especificamente.
Luís Fernando foi introduzido no mundo da literatura antiga por seu avô, dono de um dos maiores acervos de livros antigos do mundo. Desde os dez anos de idade já ajudava a tirar o pó, catalogar e organizar aquela enorme biblioteca da qual ainda não tinha lido um só volume, mas que com o passar do tempo rendeu todo o seu mistério aos olhos do menino que depois de ler o primeiro livro, nunca mais parou. Aquele menininho franzino, de cabelos pretos e grandes olhos castanhos cresceu, se transformou em um homem de físico bem trabalhado e aparência muito bem tratada, mas que ainda olha as pessoas e o mundo com aqueles mesmos olhos do menino que aprendeu a amar os livros. De todos os que leu, seus preferidos sempre foram aqueles cujo tema era a Igreja Católica e suas relações com outras religiões e doutrinas.
Os fatos que passo a narrar aconteceram recentemente, muitos anos após a morte do avô cujo acervo foi quase todo vendido para sustentar a família após uma grave crise financeira na qual os pais de Luís Fernando perderam tudo o que tinham. Venderam quase todos os livros menos alguns poucos que Luís Fernando sabia ser muito valiosos não só por sua antigüidade como também por tratarem de assuntos considerados obscuros, verdadeiros tabus estabelecidos pela antiga Igreja Católica. Um destes livros não tinha título, só uma grande estrela dourada gravada sobre a capa de couro marrom.
Em um domingo à tarde Luís Fernando estava sentado em seu jardim contemplando os jasmineiros de que tanto gostava quando seu telefone tocou. Era um antigo cliente pedindo-lhe que o ajudasse a descobrir se uma certa obra que recém tinha adquirido era autêntica. Quando o senhor Paulo Pesger colocou o livro em suas mãos Luís Fernando não acreditou: era idêntico ao seu. O senhor Pesger explicou-lhe que tinha comprado aquele livro sabendo que existiam mais dois exemplares e que somente um seria o autêntico. O que ele achava daquilo? Boquiaberto, Luís Fernando pensava se deveria ou não contar que um dos outros dois livros era dele e que isso tudo queria dizer que talvez o seu exemplar não fosse autêntico. Não falou nada e levou o livro do senhor Pesger para compará-lo ao seu. Ao olhar as páginas das gravuras notou que elas continham algumas pequenas discrepâncias. Como em um livro a porta de um castelo estava aberta e no outro, fechada? Tudo aquilo era muito estranho porque os textos coincidiam perfeitamente, inclusive com relação à falha de impressão da letra r que ambos os livros continham. Decidido a investigar aquilo mais a fundo, Luís Fernando decidiu procurar pelo terceiro livro e compará-los em uma análise mais profunda. Como seu ofício era transacionar livros raros, decidiu procurar um escritor que também era seu cliente e que um dia tinha comentado sobre um livro que um tio lhe deixara de herança, pelo qual nunca se interessou por saber tratar-se de ‘coisas do demônio’. Só podia ser aquele!
Na segunda-feira cedinho, Luís Fernando pegou seu carro e dirigiu 650 quilômetros até a cidade de Navarro onde morava o senhor Kirsten, provável dono do terceiro livro. Sua intuição estava correta. Quando o senhor Kirsten lhe mostrou o livro, ele soube que sua tarefa era muito mais do que verificar qual deles era autêntico pois ao abrí-lo e olhar uma das figuras, observou que uma chave, que em seu livro estava na mão direita de um velho, neste livro estava na mão esquerda da mesma pessoa. Fêz uma proposta irrecusável pelo livro do senhor Kirsten e voltou para casa, agora para analisar cada milímetro daquelas figuras. Mas antes disso ele tinha que descobrir mais sobre a história daquela obra. Lembrou que seu avô tinha uma enciclopédia com informações sobre livros que tratavam de temas ‘diabólicos e demoníacos’. Abriu a enciclopédia, procurou pela referência a uma obra sem título, com capa marrom contendo somente uma estrela dourada (sim, porque todos os três livros eram idênticos até no curtimento do couro utilizado para as capas). Era como se todos formassem uma trilogia, só que contando a mesma história. Estava tudo lá. Tal livro teria sido redigido por um escritor desconhecido do século XV em parceria com Lúcifer e algumas figuras tinham sido desenhadas pelo escritor, enquanto outras foram desenhadas pelo próprio demônio e havia uma razão para isso. Eram nove figuras em cada livro e somente três delas teriam sido desenhadas por Lúcifer. Isso significava que se retirássemos somente as 3 figuras de Lúcifer de cada livro, ainda seriam nove, o número de páginas ilustradas que continham avisos de perigo e mensagens a todos os seres humanos.
Mais do que depressa Luís Fernando abriu todos os três livros sobre a mesa e passou a analisar aquelas figuras. Enquanto analisava uma, na qual um homem está sendo atingido por uma enorme seta atirada por um ser que pairava sobre ele, Luís Fernando ouviu um barulho e, instintivamente, olhou para cima. Graças a seus reflexos treinados não perdeu a vida. O enorme lustre de bronze caiu sobre a cadeira onde ele estava sentado segundos antes. O que mais ele poderia pensar senão que alguém estava tentando lhe dizer para não seguir em frente com aquele estudo? Pois bem, ele era mais teimoso do que qualquer ser ou força que tentasse lhe dissuadir de descobrir qual era o mistério daqueles livros. E descobriu!
Ligou imediatamente para a casa do senhor Pesger dizendo que estava indo para lá. Ao chegar não aceitou nem mesmo um cafezinho e começou a despejar tudo o que sabia sobre aquela obra, que na verdade não consistia de um único volume autêntico como eles pensavam, mas de três. Três volumes autênticos, redigidos por um escritor desconhecido do século XV e ditados e ilustrados pelo demônio de nome Lúcifer. Enquanto falava, Luís Fernando largou os livros sobre a mesa, gesticulando freneticamente e no mesmo instante o senhor Pesger os pegou e agradeceu pelos serviços prestados, oferecendo uma enorme quantia em dólares pelos outros dois livros. Luís Fernando disse que não queria vender o seu porque tinha valor sentimental, já que era de seu avô e, de mais a mais, ele não iria colaborar para que alguém viesse a fazer mau uso daquela obra. Mas enquanto falava, o senhor Pesger simplesmente evaporou no ar com os livros na mão e em seu lugar surgiu uma caixa recoberta de couro marrom, com uma estrela dourada gravada na tampa. Ainda lívido pelo susto e pelo inusitado da situação, Luís Fernando abriu a caixa e encontrou uma fortuna em dólares, barras de ouro e jóias. No fundo da caixa estava um bilhete escrito em um papel muito antigo, onde se lia: Muito obrigado meu amigo. Seus serviços foram valiosos para que eu pudesse reaver minha obra há tanto tempo extraviada. Espero que este pagamento que lhe deixo cubra todas as suas despesas e o console pela perda de um objeto de valor sentimental. Seu cliente,
LCF
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