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Ensaios-->Um olhar sobre MARISA MONTE e seus novos discos -- 08/03/2006 - 21:22 (Carlos Frederico Pereira da Silva Gama) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
COMUNICAÇÕES INCOMUNS
Variações sobre o mesmo tema: Marisa Monte

Marisa Monte está para lançar seus dois novos discos, um dedicado a sambas, “Universo ao Meu Redor”, o outro ao que ela mesma chamou de “Música Pop do Brasil”, “Infinito Particular”. O mercado brasileiro se agita. Mais de 250 mil cópias de cada um dos discos já foram encomendadas previamente. A intelligentzia artística tupiniquim também prepara uma nova fornada de elogios desmedidos – não parece uma tarefa difícil atualizar os mimos de 6 anos atrás, quando a cantora lançou seu último disco solo (ou 3 anos, contado o projeto “paralelo” dos Tribalistas, mais Marisa do que todos seus discos solo reunidos).

Eu digo que o problema em falar de Marisa Monte é que, antes de você abrir a boca, já ouve comparações com Gal, Elis, Eliseth etc.

Marisa é uma perfeccionista. Produz pouco, dentro dos mesmos parâmetros (e parâmetros que já foram colocados décadas atrás), com obsessão por detalhes, com pouca variação no resultado final. Nem lixo, nem luxo. Já era assim em 1989. Será em 2019.

Não é uma artista genial, como Gal, Elis, Eliseth foram. Gente que produzia 2, 3 discos por ano, com imensa variação de temas e estilos, com resultados assombrosos, durante mais de uma década. Genialidade é isso: fazer muito, muito bom, muito variado, por muito tempo. Gênios não são eternamente idênticos a si mesmos.

Marisa não se arrisca, tem horror ao imprevisto, quer controlar tudo. É uma profissional do ego. Haja vista o nome de seus novos discos e aquela célebre resenha de Ricardo Alexandre na Bizz em 2000, tratando-a de “deusa do Amor” que, no entanto, mantém uma distância abismal de seus fiéis. Tanto autocentramento redunda em inércia, Marisa acaba ficando no mesmo lugar. É uma grande businesswoman. Mas não é uma grande cantora, por não saber ir além do óbvio.

Poderia ter encontrado sua voz e contribuído para a Música Brasileira. O máximo que fez foi ser a porta-voz de uma geração de compositores que se contenta em emular o lado mais Pop do Tropicalismo. Gente que está contente em ser um eterno revival. Não que a MPB (não confunda com Música Brasileira) esteja tão preocupada assim com esse tipo de crítica, com sua trama paternalista-coronelista, dos copiadores, herdeiros, dependentes e 'currais'...

Uma pequena digressão filosófica: MPB nunca foi música do povo. E sim, música de uma elite feita, aí sim, se apropriando de algumas (algumas) manifestações da cultura popular.

É um problema estético, pensar Arte em relação a 'quem faz' e 'quem entende'. Uma visão elitista, como a da MPB, dirá que as manifestações populares não são conceituadas, são apenas 'presenciadas' por quem as performa. Quem está numa caboclada, quem toca carimbó nos cafundós do Pará, quem faz aquelas cerâmicas no Espírito Santo, quem faz arte popular, não sabe o que está fazendo, só 'vive' aquilo, não sabe projetar aquele acontecimento no espaço e no tempo.

É necessário um intérprete, iluminado, que lance luz sobre as trevas da ignorância e conceitualize. Esse é o 'artista'. O que projeta uma determinada manifestação para extensões maiores de espaço-tempo, por exemplo 'mundializando' uma manifestação cultural local (novamente, vale uma conferida nos nomes dos discos a serem lançados por Marisa Monte).

Essa apropriação pode ser superficial. Muitas vezes, apenas como uma citação na letra. Outras vezes, mais profundo, apropriações rítmicas. Outras vezes, mais profundo, tentativa de fusão dessas manifestações populares com outras manifestações culturais, da elite nacional (por exemplo, a Bossa Nova) e transnacional (Rock N Roll, Jazz, Música Erudita).

Mas a linha é clara, está aí para quem quiser ver. Quem decide o que é Arte e o que não é são os 'artistas', e seus braços socialmente estabelecidos, a mídia, a esfera pública (cada vez menos) dos intelectuais. Os artistas são a correia de transmissão, levam o que não conhecemos, nem vivemos, para nosso 'consumo' (porque estamos recebendo uma manifestação cultural como artigo de entretenimento ou, se muito, inquietação intelectual).
Kelly Key vira arte, se gravada por Caetano. Mas Caetano, gravado por Kelly Key, não (a menos que seja em dueto com o próprio).

Nesse sentido, Marisa Monte é tremendamente MPB. É um expoente desse conjunto de práticas, o maior deles surgido nos últimos 20 anos. Produtores da moda, veneração aos canonizados, relações carnais com a mídia tupiniquim, da Rede Globo a Nélson Motta e acomodação estética.

A MPB de tempos em tempos precisa sugar um sanguinho 'comercial' para se manter de pé (e tome Gil cantando discoteca, Caetano gravando Peninha). Marisa surgiu num momento oportuno: a música jovem brasileira dos anos 1980, o chamado “Rock Nacional” já tinha deixado de ser alternativa ao coronelismo da MPB, já não mais podia desprezar o beija-mão de Caê & Gil (uma hora, a cooptação acabou funcionando, o primeiro gravando Cazuza, o segundo tocando com os Paralamas). A fonte secou (com os seguidos planos econômicos furados, lançando o povaréu nos menos arrogantes e mais subservientes braços do Axé, do Pagode, do Funk carioca e do Breganejo urbano). A turma do “Rock Nacional”, um bando de cults querendo se inserir desesperadamente na massa sem “vender a alma” ao diabo da indústria, precisavam de uma muleta, uma forma já existente (porém, artisticamente “sofisticada”) de se manterem de pé em meio à tempestade populista, não querendo/podendo mais mudar nada.

Marisa Monte apareceu, era a MPBista que todo “roqueiro brasileiro” queria ter em casa – a “onda do futuro”. Gravava Cartola e Cazuza, Gershwin e Arnaldo Antunes, Pino Danielle e Tim Maia. Esse ecletismo debutante, no entanto, seria vigorosamente subtraído à medida que ambos, Marisa e o “rock nacional”, se aninharam carinhosamente no seio da MPB vetusta com o revival nacionalista de meados dos anos 1990, Caê & Gil como sempre na proa dos “novos novos baianos”. E depois viriam Maria Rita, Seu Jorge e os Artistas Reunidos, para nenhuma simpatia salvar mesmo.

Enfim. Eu acho tudo isso um pouco de menos. E vendo Marisa Monte lançar simultaneamente dois discos e tudo isso aí em cima não se mover um milímetro, o que aparece é um inusitado festejo da previsibilidade da MPB, como se fosse uma forma de arte em decadência, querendo subsistir a qualquer custo, ao custo de um futuro.
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