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Ensaios-->À Guisa de um Ensaio: Campina Grande - mscx -- 20/02/2006 - 22:11 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Dia 11 de outubro comemora-se a emancipação de Campina Grande! segunda cidade da Paraíba, depois da capital, João Pessoa-Pb.

À Guisa de um Ensaio: Campina Grande
maria do socorro cardoso xavier

Campina Grande, originária de aldeamento Ariús, do entroncamento de rotas de boiada, é provável que tenha sido o primeiro núcleo comercial do interior paraibano; oriunda de aldeamento indígena que prosperou, pousada de tropeiros do interior, que faziam seu trajeto à feira da rua das Barrocas, para se abastecerem de cereais.
Simultaneamente com a pecuária e as fazendas de criação do cariri e caatinga, alarga-se a agricultura, surgindo as primeiras casas de farinha. Os detentores destas forças produtivas vão se constituir na classe dominante, os senhores rurais como primeira estirpe, os descendentes de Oliveira Ledo e, daí em diante, suas inúmeras ramificações que se complexificam em intrincada árvore genealógica. Daí saem as famílias tradicionais locais.
Em 1864, elevada a categoria de cidade; em 1936, através do comércio do algodão, responsável pelo seu desenvolvimento terciário, foi a 3a. praça algodoeira do mercado mundial e seguida do couro e peles, destacando-se em 2o. lugar no volume das exportações campinenses. Destacou-se nesse ramo em C. Grande, o Curtume dos Motta e dos Villarim.
Campina Grande foi o grande empório do sertão, sua feira de gado fazia convergir grande massa de população sertaneja, ampliando esse intercâmbio a partir do transporte rodoviário. Uma cidade com características comuns a áreas subdesenvolvidas ou em vias de desenvolvimento, mas com traços bem acentuados. Ocorreu inicialmente o seu progresso através do setor terciário, o comércio do algodão, o comércio em grosso; teve um impulso no setor industrial e logo sua síncope precoce.
Muitos capitais locais preferem investir no comércio do que na indústria, os riscos são menores, mas a contribuição social torna-se pequena. Outros fecham suas fábricas, mudam de ramo de negócio. Mesmo assim, C. Grande figura entre os municípios mais industrializados da Paraíba, que vai desde a indústria de alimentos, confecções, à indústria de couro, peles e à construção civil.
Nos últimos anos, o comércio varejista tem sido abalado pela presença dos supermercados com a oferta de artigos mais sofisticados e diversificados que atende uma demanda suntuária da população, de maior poder aquisitivo. Além de também oferecer artigos comuns a nível do povão,de média e baixa renda- artigos que concorrem com a produção caseira, artesanal local.
Há vinte anos atrás, o comércio varejista que atendia a população se constituía nas lojas da rua Maciel Pinheiro e adjacências, hoje se encontra espraiado e diversificado em toda parte, atendendo a expansão populacional da cidade. Em toda parte há boutiques especializadas, armarinhos, lojas, fiteiros comércio ambulante nos bairros, proliferando o sistema de crédito.(a prestação)..
A partir do rasgamento das radiais com o Projeto Cura, construiu-se o Shopping Center que se destaca pela alta qualidade e estética das lojas ali instaladas, que atende aos requintados gostos de uma clientela urbana de maio poder aquisitivo. As malharias, com a oferta de confecções massificadas das indústrias do centro-sul supre as necessidades da população de consumo geral, com seus tradicionais “queimas” de artigos que empestam a cidade, nivelando a indumentária do povão.
Uma vasta rede bancária, alienígena, do centro-sul capta os recursos do município; antes capitais locais no setor bancário, que foram absorvidos gradativamente pelos grupos econômicos e financeiros do sul e sudeste, a exemplo do antigo Banco Industrial de C. Grande (Mercantil do Brasil), bem como o antigo Banco Mercantil.Este absorvido pelo Bradesco; e o Banco do Comércio absorvido pelo Itaú. Estes implantaram uma tecnologia moderna, eletrônica, não muito condizente com a realidade cultural da região, portanto não bem utilizada pela população geral.
Campina Grande destaca-se pela sua capacidade empresarial. Predomina a especulação, o empreendimento aventureiro, não devidamente maduro do ponto de vista econômico. Muitos mecanismos ocorreram fora do alcance dos governantes e classe empresarial. Há o conhecido fenômeno da agiotagem. Este negócio enriqueceu a muitos, que se aproveitaram das fases de retração de crédito bancário, para extorquir juros altíssimos em operações financeiras.
Por paradoxal que pareça, no caso específico de Campina Grande, o comércio perdeu um pouco, com a abertura de melhores rodovias, permitindo o acesso direto às diversas áreas produtoras do Estado. Antes obrigadas a utilizar a cidade como redistribuidor do seu produto. Igualmente a melhoria das vias e do sistema nacional de transportes, quebrou a proteção pelo isolamento do capital campinense, verificando-se um fluxo de capital de C. grande para o centro – sul.
O estímulo a pequenos negócios, incentivado por alguns prefeitos municipais, facilitou a ascensão de capitais privados e captação de excedentes de trabalho, revertendo em maior tributação municipal.
À primeira vista, C. Grande parece uma cidade desenvolvida, possuindo um aprazível cartão de visita, ao se entrar na cidade, porém se o visitante se apeia e desce aos bairros, à periferia da cidade, aí tem uma decepção. Fica estarrecido diante de um quadro de miséria urbana e subnutrição, a partir de uma grande camada da população submersa em baixíssima renda. É muito sério o problema social desta cidade, mascarado por um otimismo enganador.
Como as grandes e cidades de médio porte, C. Grande padece de especulação imobiliária. Mantém um crescente ritmo de construção e expansão de sua área urbana, que se amplia em função da crescente imigração intermunicipal dentro do Estado. Diversos grupos humanos a cada ano que se passa, deixa o campo, seu lugar de origem em busca de melhores condições de vida. Expulsos do campo, mais do que atraídos pela cidade, os migrantes que chegam a C. Grande dirigem-se aos lugares marginais da cidade, tais como:[ Jeremias, Cachoeira, Pedregal, Vila dos Teimosos, Catingueira, Ramadinha, Malvinas III e inúmeros outros], arrabaldes que se proliferam a cada ano, aí se fixando quase na “marra” e daí migram se deslocam para outras áreas semelhantes.
Uma vez chegados, via de regra, os chefes de família passam a integrar o sempre mais numeroso contingente urbano de subempregados. São pouquíssimas as opções de sobrevivência e aí tudo vale. O biscaite, a barraca na feira, o trabalho de servente nas construções, pegar balaio e peso na feira e armazéns, desentupir fossas, cavar buracos nas construções públicas e calçamento; varrer as ruas, trabalhar nos caminhões de lixo; enfim tarefas mais gerais e pesadas que não exige nenhuma qualificação e escolaridade. Estes trabalhadores com funções esporádicas são analfabetas ou semi-alfabetizadas, oriundas do mundo rural.
Para a mulher,sobra a lavagem de roupa, o serviço doméstico em casas de família, trabalho em bares, vender tapioca nas ruas e feira, vender quinquilharias na feira, e toda sorte de criatividade para improvisar um ganha – pão imediato, cotidiano. O quadro de vida dessas famílias é sob os “subs”: sub-emprego, sub-habitação, sub-alimentação, sub-saúde e pior, uma sub –consciência que mergulha n o conformismo, na alienação ou numa revolta abafada, explodida na marginalidade do sub mundo do roubo, do assalto, das drogas, do crime e congêneres.
. A atração que exerce Campina Grande sobre o imigrante sobre o imigrante é a pseudo possibilidade de trabalho, de emprego - pela magia da gama de repartições governamentais, setor de serviços e outras oportunidades ocasionais.
Há inegavelmente a forte atração educacional, com um grande fluxo de população temporária para Campina, de estudantes universitários, provenientes de vários Estados do Nordeste e do país, em busca de profissionalização e posterior (evadido) mercado de trabalho.
O urbanismo, como em tantas outras cidades por esse Brasil afora, com exceção de Brasília, C. Grande sofre as conseqüências de um crescimento desorganizado, sem planejamento, e visão urbanística a longo prazo. Sua fisionomia antes romantizada pelos bangalôs, da aristocracia- burguesia- comercial; nas principais avenidas do centro da cidade, hoje perdem-se no meio das pequenas selvas de edifícios em toda parte. Aquelas residências da década 40-50 se dissolveram, funcionando ali, repartições públicas ou privadas, escolas – e outras entidades; ou foram reformadas sob uma arquitetura quadrada, do concreto e do ferro. Apesar da injeção de uma arquitetura nova, funcional de tantas residências luxuosas, misturam-se com os arranjos, as adaptações com reformas “quebra-galhos” da classe média pobre.
Com o derrame de capitais estrangeiros na cidade, com o Projeto Cura, na gestão do prefeito Enivaldo Ribeiro, a cidade embelezou-se com algumas áreas de lazer, com parques, rasgamento de avenidas, shopping center. No período da gestão do então prefeito Ronaldo Cunha Lima, as restaurações das praças, que realmente jaziam abandonadas.
Só que o projeto urbano de C. Grande chegou tarde. Uma cidade de crescimento vertiginoso, ao se realizar o projeto, já havia se arraigado os vícios e os meandros urbanísticos aleatórios do passado. Aí houve a tentativa de correção, embelezando alguns setores, abrindo perspectivas para a cidade, mas fechando e expulsando a população de baixa renda para a área suburbana. Como quase todo projeto urbanístico quem sai perdendo é a população de baixa renda, que é empurrada para áreas sem infra-estrutura de saneamento - esgotos, água, drenagem de águas pluviais, energia elétrica etc.
Simultaneamente cresce a especulação imobiliária, e, os terrenos mesmo periféricos atingem preços altos, dificultando o novo deslocamento da população carente. Enfim, o projeto de urbanização em C. Grande satisfez de modo parcial, como já frisamos, no aspecto do lazer e embelezamento estético da cidade, atendendo aos reclamos da população. Não obstante causou transtornos psico-sociais nas camadas menos favorecidas.
Um dos traços mais marcantes da vida econômica de Campina Grande é a Feira Central: regional, semanal e bi-semanal. Ali se encontram ricos e pobres com objetivos iguais de se abastecerem, e, diferentes, porque isto depende do poder aquisitivo de ambos. Atende a necessidade de comprar e vender, é importante meio de vida para muitas famílias e refúgio para mendigos, que ali perambulam por uma banana, uma fruta meio estragada, uma raiz de batata, macaxeira, um punhado de farinha. No mercado central observamos muito bem a estratificação social: as famílias mais abastadas fazem sua feira às tardinhas de terça e sexta-feira, quando se encontram os melhores produtos, embora os preços sejam altos. (véspera dos dois dias principais da feira bi-semanal) A população de baixa renda faz seu arranjo, “garibagem”, com o rebotalho da quarta e sábado à tardinha colocando numa cesta e sacolas transportando-as nos coletivos aos bairros onde moram. É um sufoco a vida dessa gente. Além de trabalhar duramente, ganhar insuficientemente, ainda sofre outro tanto, para conduzir sua minguada cesta para amenizar a fome de sua família. É uma loucura, misturam-se os passageiros normais com os feirantes, balaios, cestas,quase esmagando, pisando as mercadorias, as frutas e verduras a descoberto. É uma promiscuidade em termos de higiene.
Não resta dúvida que a feira de C. Grande é uma atividade importante da população, embora desorganizada. Ali existe de tudo é como a feira de Caruaru e respectivo trecho de música de Luiz Gonzaga: “ na feira de Caruaru, tem tudo que a gente quer”...Dali muitos tiram sua sobrevivência. Adultos e menores de 12 anos em diante, trabalham como carregadores, com balaios na cabeça, conduzindo-os às residências do centro da cidade. Há rapazinhos, mocinhas vendendo sacos de papel, punhados de coentro, pedaços de jerimun, sacos com tomate, num “salve-se quem puder”.
C. Grande é um fenômeno urbano não muito comum, ocupando lugar de destaque no quadro urbano nacional. Embora não sendo um centro político
administrativo estadual, é classificada como centro regional importante, pelo seu dinamismo econômico-social. Centro desenvolvido graças a sua função comercial, atinge tamanho populacional e funcional considerável. Diversificou suas atividades, teve um impulso industrial ( embora não cumprindo essa função plenamente) se transformou num centro de prestação de serviços: educacionais, médico-hospitalar, financeiro, comercial, religioso, militar e outros.
A criação de Universidades aumentou assaz o seu poder polarizador, ampliando quantitativa e qualitativamente seu raio de ação. C. Grande tornou-se uma cidade dinâmica. Esse dinamismo se reflete na predominância de uma populaçao jovem e na crescente proporção de atividades terciárias e secundárias de sua economia. Como contrapartida as constantes migrações arrastam esses elementos jovens e os problemas sociais que resultam da sua estrutura demográfica. As drogas é um dos piores problemas daí decorrentes, juntamente com outras causas.
C. Grande não foge as leis capitalistas. É um capital fixo, produto do modo de produção capitalista, instrumento de reprodução do capital, vez que aqui se desenvolve atividades geradoras de mais valia. É centro de circulação, distribuição, consumo e produção ao mesmo tempo.
Quiçá poderá atingir um nível de equilíbrio social, mediante a adoção de uma política econômica que freie seu setor de prestação de serviços e dinamize suas forças produtivas básicas. Levar a capacidade empresarial do povo campinense e seu arrojo no trabalho, ao desenvolvimento do seu setor primário e secundário, locupletando falhas que redundaram no sacrifício da população urbana.
Urge um grande projeto municipal em grandes dimensões. Do contrário é um reduto de imenso exército industrial de reserva, desigualdades sociais gritantes.- É o automóvel do ano cruzando com o faminto e esquelético, e este atropelando aquele, parodiando trecho da música de Chico Buarque de Holanda, “morreu atrapalhando o trânsito”...
Voltemos agora para o lado lúdico da cidade: o Maior São João do Mundo foi uma brincadeira que deu certo, uma festa regionalista que por tradição festeja a safra do milho e os bons invernos; e que, antes de ser festejada com uma maior organização e empenho, nesta década de 80, em proporcionar à população local e alhures, festejos folclóricos, dignos de serem vistos,- estava se descaracterizando e se esvaziando, quando , a única opção das camadas altas e médias da sociedade, era por ocasião do São João e São Pedro, ir aos principais clubes da cidade.
As camadas de baixa renda, portanto ia para os sítios, visitar alguns, geralmente às suas origens rurais ou ficavam sem nenhuma participação.
O Maior São João do Mundo no Parque do povo – durante mais de um mês – local de encontro Joanino e Junino para todos, de todas as camadas sociais, vai além do mero folguedo – ele tem sido uma alternativa de sobrevivência durante aquela fase do ano, para diversas famílias de baixa renda; ali vão vender do milho cozido e assado, o amendoim torrado, a castanha, a pipoca, a cocada, tapioca, canjica, pamonha, o pé-de-moleque, o suco, a caipirosca, a caipirinha, a cachaça, até os diversificados artigos artesanais para inúmeras preferências e poder aquisitivo.
O Maior São João do Mundo tem revigorado bastante, temporariamente é óbvio, o comércio de C. Grande. A rede de hotéis fica lotada com turistas, não só de outros Estados da federação, mas de outros países a quem o comércio artesanal-regional tem oportunidade de vender e divulgar seus produtos, bem como as casas de show que nasceram e tiveram vida praticamente com o Maior São João do Mundo.
Além de preservar e expandir uma festa folclórica regional de tamanha importância para o Nordeste, não deixando se exaurir os valores e costumes do povo nordestino tem sido o maior São João do Mundo, uma alternativa para o setor informal da economia, que cresce dia a dia; não só em Campina Grande, mas país) diante do desemprego que grassa, é uma saída numa conjuntura de crise, das mais difíceis que se apresenta na história do Brasil.
O povo tem é que ser criativo, inventar sua forma de sobreviver, claro com dignidade, pois sabemos haver nas diversas formas perniciosas (o roubo, o assalto, o tráfico de drogas.) e outros tipos de criminalidade, que realmente, em muitos casos, é decorrente do desespero sócio-econômico.
C. Grande é uma cidade criativa, inventa diversas formas de sobrevivência. As autoridades municipais estão de parabéns em ter organizado e incentivado a cada ano, O Maior São João do Mundo, procurando apoiar as iniciativas e dotando-o de uma melhor infra-estrutura, para que possa levar o nome de Campina Grande além fronteiras.
Os festejos juninos vieram calhar justamente com o seu coração festivo, que parece suspender por um tempo, aquela febre do campinense pelo desejo de enriquecimento, à obtenção do status social, coloca-se para dormir, o deus da burguesia e acorda-se São João, para o povo oferendá-lo durante mais de um mês, onde não se pensa apenas em ganhar dinheiro, mas em gastar o que se pode, se divertindo nesta maravilhosa festa.
Enfim, C. Grande, é uma cidade grande e pequena ao mesmo tempo, que às vezes abre mão do progresso, da vida racional, científico-tecnológica para curtir seu imaginário, seus momentos de lazer e prazer. É uma cidade de médio porte, formada de várias pequenas cidades interioranas aqui dentro representadas.De espírito avançado e ao mesmo tempo provinciano, da comadre e do compadre, da fogueira em frente das casas onde se assam o milho, recordação de suas origens bucólicas, numa cidade, que mesmo vestida de burguesia, é telúrica e provinciana em suas veias.





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