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Ensaios-->Repressão aos Cátaros- mscx -- 20/02/2006 - 22:06 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Repressão aos Cátaros
Maria do socorro Cardoso xavier

Não apenas as autoridades eclesiásticas e civis que reprimiram as heresias. A violência contra os heréticos tinha também base popular, chegando às raias do fanatismo. Considerava-se a heresia, “filha de Satã”.Por exemplo, em 1120, em Soissons, o Bispo Lisiardo, havia prendido suspeitos de heresia, e quando se encontrava ausente, os burgueses dessa localidade queimaram os heréticos.
A Igreja primeiramente tentava converter os heréticos à fé católica, e se não conseguisse, usava de agressões e reprovava a violência cometida pelo populacho. São Bernardo dá este depoimento ao Papa, após um massacre em Colônia no século XII: “O povo de Colônia passou da medida. Se aprovamos seu zêlo, não aprovamos de modo algum, o que fez, pois a fé é obra de persuasão e não podemos impô-la.”
A Teoria das “Duas Espadas” do Papa Gelasius, respaldava o uso do poder temporal para perseguir, julgar e exterminar a heresia. O teor desta teoria, é que Deus havia dado o poder temporal e espiritual ao Papa, que por sua vez, entregara o poder temporal aos reis, monarcas e príncipes para proteger a fé, como bons súditos que lhe deviam obediência.
O Papa Inocêncio III tentou reestabelecer o imperium mundi sob a hegemonia da Santa Sé, e combater a heresia para evitar a tendência desagregadora da comunidade. Daí se apoiou em condes e reis, para exterminar a heresia.
A Cruzada organizada por Luís IX em conivência com a Inquisição, atingiu mais os Cátaros. A fortaleza de Montségur, próximo aos Pirineus, foi capturada (Ariege), daí alguns fogem para a Itália, outros são levados em massa para a fogueira.
As Ordens Dominicanas e Cisterciense foram dotadas de elementos para combater os heréticos. Já a ordem Franciscana se colocava no combate mas de modo indireto, pois São Francisco pregava aos mesmos grupos, que davam apoio aos Cátaros. A mensagem dos franciscanos era otimista – pregava a alegria e a bondade. No Sul da França, com a negligência do clero e a proteção da nobreza, e parte da burguesia, os albigenses se fortaleceram.
A Cruzada Espiritual: Na tentativa de evitar a expansão da heresia, houve esta cruzada de 1147 a 1209. São Bernardo e São Domingos são os pregadores ferrenhos contra a heresia. Os Concílios realizados em Toulouse (1119) e o de Tours (1163) dão conta da ameaça representada pela Heresia Cátara: “uma perigosa heresia se espalhou na região de Toulouse, onde ganhou pouco a pouco, a Gasconha e outras províncias.”
Em 1167 realizou-se o Concílio Cátaro de Saint Feliz de Caramon, presidido pelo patriarca cátaro de Constantinopla, Nicéia ao que parece houve insucesso da pregação.
No Concílio de Lombers (1178) a heresia foi condenada de novo. O III Concílio de Latrão em 1179, os heréticos são entregues ao braço secular. Vejamos o que diz o Cânon 27, que se refere parcialmente aos Cátaros:“Embora a Igreja se satisfaça com um julgamento sacerdotal e não realize execuções sangrentas, ela deve recorrer às leis seculares e pedir ajuda aos príncipes para que o temor de um suplício temporal obrigue os homens a utilizar o remédio espiritual. Deste modo, como os heréticos que alguns denominam Cátaros, outros patarinos e outros publicanos, fizeram grandes progressos na Gasconha, em Albi, em Toulouse e em outras regiões, onde ensinam os seus erros e se esforçam em perverter os simples, nós os anatemizamos, bem como a seus protetores. Nós proibimos a todos de ter qualquer relação com eles. Se persistirem no pecado, não se fará nenhuma ação em seu favor e não se lhes dará sepultura entre os cristãos.”
Apesar das repressões, a heresia cátara continuou se expandindo no Languedoc, até o advento ao trono papal de Inocêncio III em 1198. Este papa procurou alertar o Rei Felipe Augusto, no sentido de levar em consideração a Bula Ad-Abolenda a qual privava de feudos os vassalos que proteção dessem aos heréticos. Assim Inocêncio III referiu-se: “É preciso que os heréticos sejam esmagados pelo vosso poder e que as misérias de guerra os aproximem da verdade”.
Mesmo com toda repressão eclesiástica e civil a heresia cátara continuou se expandindo por vastas regiões do Languedoc.
A Cruzada Albigense: Em 1209 uma cruzada anti-albigense é conduzida por barões originários do norte da França, em direção ao sul, para esmagar a heresia pelo chefe Simon de Montfort. Este conflito interno durou cerca de 10 anos. A Cruzada Albigense é um marco tão importante para a história do medievo, que subestimar seus passos é desconhecer a luta ferrenha do poder local e do nacionalismo do midi versus aliança do papado com o poder monárquico.
Em primeiro lugar, o caso surgiu por motivos puramente religiosos e morais.Motivou a iniciativa de Inocêncio III, decidido restabelecer a ortodoxia ameaçada por uma heresia, cujas consequências sociais comprometiam a própria moralidade cristã.
Em segundo lugar, este conflito tinha raízes políticas profundas na oposição que existia em França entre o Norte e o Sul: oposição baseada na diversidade dos costumes, das culturas e das próprias línguas.A isto se juntavam as rivalidades e ambições feudais. O pretexto religioso serviu aos senhores do Norte para empreender uma cruzada, em causa própria, com as mesmas vantagens e indulgências das cruzadas longínquas, custosas e aleatórias.
As demais causas foram secundárias ou ocasionais, como a intolerância e resistência dos Cátaros, as pretensões de certos feudais sulistas, o assassinato do legado do Papa e tendências guerreiras do mundo feudal daquela época.
Formou-se um exército cruzado em Lyon. Formado por senhores eclesiásticos e laicos, vassalos, cavaleiros assalariados e voluntários e aventureiros que ansiavam ganhar indulgências do Papa. Algumas fontes dão conta que aproximadamente vinte mil cavaleiros armados e mais de dois mil vilões e camponeses participaram desta cruzada. Desta feita, verificou-se a destruição de Béziers e Carcassone.
Simão de Montfort declarou guerra ao vice-condado de Trencavel em 1211, reduto herético sob proteção de Raimundo e Rogério de Trencavel. A campanha militar estendeu-se depois ao condado de Toulouse em 1212. Simão de Montfort, senhor de Toulouse, promulgou os estatutos de Pamiers, codificando as conquistas dos novos senhores feudais. O próprio Concílio de Latrão de 1215, confirmou as novas possessões de Simão de Montfort e a conciliação dos senhores do Sul com a Igreja, desde que perseguissem a heresia.
Inocêncio III tentou convencer o rei da França, Felipe Augusto, da necessidade de sua intervenção na questão albigense, mas não o conseguiu. Depois de ter excomungado Raimundo VI, o Papa enviou o seu legado, Pedro de Casteunau, a converter os hereges, mas este foi assassinado por um escudeiro do conde (1208). Resolveu então organizar uma cruzada, e, os senhores do Norte, não hesitaram em aproveitar a ocasião. Colocou-se à frente da expedição punitiva o conde Simon de Montfort. Os castelos do Languedoc foram tomados um após o outro e quando Pedro, rei de Aragão, interveio em favor de seu cunhado Raimundo VI, deu-se à Batalha de Muret (1213) na qual morreu o aragonês e foi vencedor Simont de Montfort, que acabou ocupando Toulouse. Foi uma guerra civil selvagem em que o fanatismo das massas foi aproveitado pelas ambições dos nobres. Episódios como a tomada de Béziers, o sangue e o massacre das populações se multiplicaram em toda a região.
O conflito terminou perdendo seu aspecto religioso e revelava-se quase exclusivamente político. Simont de Montfort morreu no sítio de Toulouse em 1218. Foi então que Filipe Augusto enviou seu filho Luís que, depois de rei sob o nome de Luís VIII, ocupou toda a região, que, o rei da França, aproveita-se do pretexo anti-herético para anexar o Languedoc, à França dos Capetíngios, pelo Tratado de Meaux, em 1229.
Apesar dos inquisidores serem repelidos pelo povo e pelas autoridades municipais, durante o reinado de Filipe, o Belo, em 1302, acentuam-se as perseguições aos Cátaros.
Mesmo com toda cruel perseguição aos hereges, o catarismo ainda reviveu após 1250, na aldeia de Montaillou, devido entre outras causas, a ação enérgica e militante dos irmãos Authié, de Ariége, que se tornaram missionários albigenses.
Não obstante, o inquisidor Fournier e seus assessores, conseguiram desalojar o último ninho de resistência, com condenações à fogueira, prisão, as cruzes amarelas (pregadas nas costas dos vestuários) para distinguir os condenados.
Após o golpe de 1320 foi difícil o catarismo se reerguer. A Cruzada contra os albigenses ordenada por Inocêncio III, foi uma grande carnificina. os cruzados reprimiram cruelmente, os cátaros e a população, de cidades inteiras foi aniquilada. O legado papal dizia: “matem a todos, Deus, no outro mundo reconhecerá os seus, isto é, Deus distinguirá entre o católico e o herege”.
Duas consequências principais daí decorreram: Foi consolidada a monarquia francesa com a extinção da heresia e a ocupação de regiões que davam ao domínio real acesso ao Mediterrâneo. De outro lado, tendo o Papa Gregório IX julgado necessário averiguar por meio de inspetores os casos de heresia, instituíu, em 1123, o Tribunal da Inquisição. Esta instituição vinha provar à Santa Sé que a Cruzada contra os Albigenses havia sido desvirtuada e que outro processo devia ser encarado para combater as heresias. A moderação dos primeiros inquéritos foi cedo substituída por processos mais severos e abusos. Os proveitos e confiscos que daí resultaram para o poder civil levaram o braço secular a tomar parte ativa na Inquisição e torná-la odiosa. De “eclesiástica” que era no século XIII, tornou-se em alguns países, no século posterior, uma instituição da realeza. Muitos condenados à prisão eram logo queimados, se tinham bens para confiscar.”
A Cruzada Albigense abateu-se sobre o sul da França, extirpou-se a heresia cátara, que serviu de pretexto para expandir os limites da França, durante a monarquia dos Capetos. Foi um etnocídio. O Midi : religião, literatura, poesia – foi devastado e assolado os habitantes do Languedoc, tornaram-se súditos do rei da França. Ocupado com a cruzada que redundou em interesses políticos, destruiu o Midi, com toda florescência cultural. A França perdeu a oportunidade de ser a pioneira do Renascimento Cultural, fenômeno que explodiu belamente na Itália.

Bibliografia:

FALBEL, Nachman: Heresias Medievais. Editora Perspectiva,1976
LADURIE, Emmanuel Le Roy: Montaillou, Cátaros e Católicos Numa Aldeia
Francesa. [1294-1324], Edição 70.
PERROY, Edouard: A Idade Média. Difusão Européia do Livro.
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