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Ensaios-->Eles também "Ficam" -- 30/12/2005 - 23:29 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O Verbo “Ficar” Entre os Políticos
(por Domingos Oliveira Medeiros)

Os políticos aderiram definitivamente a moda do “ficar”. O “ficar” mais famoso e antigo que conheço é o Dia do Fico. Lá pelos idos do Império, em que D. Pedro I, pelo que dizem os historiadores, resolveu atender ao pedido de seu fã clube, e acabou ficando no Brasil; e, junto com ele, sua fama de “paquerador”. Coincidência ou não, o fato é que, com o tempo, o sentido do verbo voltou às suas origens. Ou seja, a ação do verbo mudou de sentido. Tal como na época de D. Pedro I, galante e namorador, e que, portanto, já “ficava”, com o sentido que hoje se empresta ao verbo: ficar, hoje, está mais para ir embora;na verdade, ficar é o mesmo que não ficar. .

Com isso, o mundo ficou de cabeça para baixo. Mudaram-se, radicalmente, crenças e valores; hábitos e costumes. O que se dizia antes, hoje significa dizer exatamente o contrário. É como utilizar o dicionário de sinônimos ou de antônimos, indiferentemente, sem que isso possa trazer qualquer prejuízo à compreensão dos significados das palavras.

Há, por conta disso, certa indiferença em relação ao verdadeiro significado das coisas e dos sentimentos. Permanecem, apenas, o respeito aos ditames da moda. Talvez porque estes ditames mudem ao sabor das conveniências. O que for dito em moda, todos tendem a acompanhar rigorosamente. Ponto de honra para os grupos. Caso contrário, o estranho estará fora do contexto de sua tribo. Sinal de que o indivíduo não está “ligado”. Ligado, aqui também, com outro sentido: desligado da realidade. Deu para sacar?

Sacar, do mesmo modo, nada tem nada a ver com o esporte: vôlei, tênis de mesa...; e muito menos com o ato de retirar dinheiro (não em bancos de praça) das instituições de crédito do sistema financeiro; nem tampouco tem a ver com o ato de puxar (empunhar) armas de fogo. Isto configuraria ato de violência. Apesar de que armas e bancos andam juntos na questão da violência. Principalmente nas grandes cidades, onde grassa a violência entre os mais jovens.

Felizmente, grande parte dos jovens optam pelo namoro e pelo entusiasmo pela vida. Violência só em relação aos “amassos” durante o tempo em que “ficam”. Nada a ver com a lataria de carros em colisão. Amassos, aqui, significam “sarros”, carícias e sexo, basicamente. Sem qualquer compromisso de médio ou longo prazos com os parceiros da hora.. Pode-se, inclusive, numa mesma festa, “ficar” várias vezes, trocando de parceiros em questão de minutos, numa escala que varia de “numa boa até “numa ótima”.

Este fato linguístico, por assim dizer, ultrapassou o campo restrito dos jovens e passou a integrar o mundo da política. A nova linguagem ganhou força total agregando motivação ao debate político, na medida em que questiona as regras das coligações partidárias; as regras impostas pela verticalização e, por conseqüência, da infidelidade partidária. .

A ação de “ficar”, entre os político, de certa forma, acirrou o debate sobre a “racionalidade” em relação às famosas coligações partidárias. Por conta disso, quase nenhum político anuncia o que se passa no interior de seu coração: alguns, como o presidente da República, vive flertando com a possibilidade da reeleição; mas não fala em namoro, diz que vai pensar no assunto, que é cedo para se comprometer, e coisas do estilo. Talvez esteja fazendo “charme”. Ou talvez (o que é mais provável) existam dúvidas em relação ao futuro pretendente ou companheiro de chapa. Especula-se alguns nomes: ministro Nelson Jobim ou Ciro Gomes ? Dizem, as más línguas, que o Ciro Gomes estaria sendo preparado para “ficar” com seu antigo afeto, o governador Tasso Jereissati; nesse caso, o Lula seria apenas o padrinho do casamento e partiria para conquistar o atual presidente do STF, o ministro Nelson Jobim. Nunca se sabe. No amor, como na política, tudo é possível. Até o impossível.

Mas tem a questão dos prováveis aliados no âmbito dos estados e municípios. Que também pretendem “ficar” nestas eleições. É aí que a coisa pega. Pois os interesses nacionais nem sempre coincidem com os estaduais e municipais. A rigor, ninguém leva em conta o passado, o pensamento, as intenções ou as idéias de partidos e de candidatos. O negócio funciona na base do pragmatismo do “ficar”; assim, muda-se de candidato ou de partido sem o mínimo de constrangimento ou arrependimento, mesmo depois da conquista das eleições. Sem medo de ser feliz. Infidelidade por conveniência ou por novos interesses escusos. Prostituição pura e simples. .

O PT, tudo indica, é o mais volúvel de todos. Não faz questão de cores ou intenções dos pretendentes. Casa-se, se for preciso, até por correspondência ou procuração. Ao vivo ou via internet. Todos, em princípio, têm chances de “ficar” com o partido da estrela solicitaria. Carente de afeto e de compreensão. Disposto a pagar qualquer preço pela reeleição. Para continuar juntinho, no aconchego do poder, trocando de parceiros ao sabor das conveniências e caprichos de cada momento, ditados pela obsessiva vontade de dar e receber carinhos. Mesmo que para tanto, vez por outra, tenha que romper com amores antigos, separar pretendentes do mesmo partido, e promover a intriga entre os eternos concorrentes.

O PMDB, por suas vez, dividido e com o coração partido , namora tucanos e petistas. Pretendentes de ambos os lados não faltam. Já o PPS, do deputado Roberto Freire, anda de namoro escondido com o PDT de Carlos Lupi, seu atual presidente, depois do falecimento do saudoso e combativo Leonel Brizola que não admitia enlaces e uniões, ainda que passageiras, sem que houvesse um mínimo de coerência, vale dizer, de afinidades entre os casais, no que tange aos seus propósitos para o futuro de filhos e netos que desse casamento poderiam resultar.

Assim, é forçoso concluir: a regra eleitoral da verticalização, que não será aplicada nas próximas eleições, pela exígua falta de tempestividade legal pra abrigar mudanças, obrigará a repetição, a nível estadual, das alianças a nível nacional. Desse modo, a coisa tende a caminhar para o fortalecimento da polarização entre o PT e o PSDB, ou seja, trocaremos seis por meia dúzia, já que não existem diferenças significativas entre o governo Lula e o de FHC, apesar da encenação pública que procura marcar divergências que, a rigor, não existem. Qualquer dos dois partidos, com certeza, terão a aprovação da chamada “elite” e do “poder econômico”, únicos beneficiários, até agora, das diretrizes econômicas preconizadas pelos dois governantes.

Acresce relevar o fato de que, dadas as realidades regionais diferenciadas, a possibilidade é de que haja uma overdose de infidelidades. Aí será o “vale-tudo”. O “ficar” correrá solto. Unirá estranhos no mesmo ninho. PP e PT, em Pernambuco. PTB e PMDB, unidos no Rio Grande do Sul, todavia separados em São Paulo, em Minas Gerais e na Paraíba, conforme anuncia toda a imprensa.

A surpresa maior, dizem os jornais, será entre o PP, PL e PTB que, apesar de ideologias bastante diferenciadas, acabarão cedendo ao “ficar”, seduzidos pela intenção de fazer número (cerca de 5% dos votos nacionais para a Câmara) objetivando garantir recursos do Fundo Partidário e tempo de propaganda na TV para negociar com outros partidos pretendentes. Uma espécie de “garoto-de-programa”.

No final das contas, a mesmice de sempre. Mais uma vez, não se falará em assumir compromissos sérios. Os noivados não se farão acompanhar de programas ou planejamento para o futuro.Em que pesem as promessas de sempre. O interesse será, tudo indica, meramente momentâneo. Igual aos casamentos de gente famosa, atores, atrizes, reis, rainhas, príncipes e princesas encantadas, modelos, jogadores de futebol, amazonas e cavaleiros, e outras espécies afins. Quanto a nós, a plebe, que pagamos a conta da farra dos casamentos e das infidelidades futuras, teremos que nos conformar em assistir, de longe, pelo rádio ou pela televisão, o desenrolar dos beijos e abraços interesseiros e de curta duração, que não darão frutos, posto que não haverá tempo sequer para saber se houve ou não a lua de mel consumada. .

Por conta disso, ficará difícil saber quem é o pai da criança, se algum rebento, feio e mal acabado, vier a ser gerado. Isso se coligações durarem mais do que o previsto. Acho que não. Após as eleições, tal como no “ficar” de fato, todos costumam perder a memória. Não sabiam de nada, agiram de boa fé. Movidos pela paixão do momento. E cada qual vai para o seu outro lado.

E cá ficamos nós, testemunhas dos fatos, fiadores da legitimidade das uniões vitoriosas, pelo nosso voto, surpresos, atônitos e indignados com tanta traição; nós, o povo brasileiro, expulsos do baile, pelo qual pagamos todas as despesas, como sempre, inclusive as superfaturadas. E, no final, por ironia, com direito apenas a “dançar”, com o mesmo fenômeno da troca de sentido que se empresta ao termo “ficar”. E tome CPI. E tome pizza. E tome reeleição. E tomemos, todos, vergonha na cara!...



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