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Ensaios-->EMPRÉSTIMOS LINGUÍSTICOS EM SARAMAGO -- 26/11/2005 - 02:06 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
EMPRÉSTIMOS LINGUÍSTICOS EM 'AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE' DE JOSÉ SARAMAGO


Na variação da linguagem em que todo o escritor se empenha, Saramago não se descuidou em ser e parecer um escritor bem informado, contemporâneo e simultaneamente um clássico. Teve o cuidado de semear pelo texto vernáculo algumas expressões importadas de outras línguas, desde o latim e o grego ao alemão, francês, italiano e inglês. Desde tempos antigos, os escritores sempre gostaram de dar esse tom da variedade à linguagem. Com isso eles mostram ao leitor tanto a versatilidade cultural quanto a circunstância lingüística com que trabalham os personagens para caracterizar melhor sua identidade. Na leitura recente do novo livro de Saramago 'As Intermitências da Morte', tivemos a idéia de recolher uma lista de empréstimos, a título de informação. Através dela, o leitor poderá ver a quantidade, a qualidade e a variedade lingüística dos empréstimos apresentada por Saramago.
Eis a lista:


Acherontia átropos.
Texto de Saramago: “Conforme se pode ver na imagem que vem no livro - diz Saramago -, a caveira é uma borboleta, e o seu nome latino é acherontia átropos. É nocturna, ostenta na parte dorsal um desenho semelhante a uma caveira humana, alcança doze centímetros de envergadura e é de coloração escura, com as asas posteriores amarelas e negras”. Saramago, Ib. Pág. 173 E ainda: 'Isso explicaria, por exemplo, não só a inquietante presença de uma caveira branca no dorso desta borboleta acherontia átropos, que curiosamente além da morte, tem no seu nome o nome de um rio do inferno,como também as não menos inquietantes semelhanças da raiz de mandrágora com o corpo humano”. Saramago, ib. 174
'Acherontia átropos' é a nomenclatura técnica dada por Lineu em 1758 para designar uma borboleta grande com cabeça negra, de asas amarelas e negras, símbolizando a morte. Lineu parece ter-se inspirado nos nomes de Acheronte, que era o rio que os condenados deviam atravessar para chegar ao Hades ou Inferno. E Caronte, a figura mitológica que acompanhava as almas condenadas nessa travessia. A expressão encontrada por Lineu, em si, é grega, sendo latinizada depois para fins técnicos.

Ad infinitum.
Expressão latina: “...multidões de pais, avós, bisavós(...) ad infinitum”.Saramago. Ibidem, pág.32

Ad petendam pluviam.
Expressão latina. Na terminologia da Igreja foi usada na organização de procissões para pedir a Deus que mandasse chuva. A expressão correta é: “ad petendam pluviam”. O texto de Saramago traz uma ligeira gralha quando cita “ad petendem pluviam”.: “E também vamos fazer sair à rua em todo o país procissões a pedir a morte, da mesma maneira que já as fazíamos ad petendem(sic!) pluviam, para pedir chuva, traduziu o católico”(...) Saramago. Ibidem, pág. 38

A latere.
Expressão latina. Significa : ao lado. No contexto de Saramago, em sentido amplo, “seus a latere”poderíamos traduzir por “seus assistentes” “As arcas do Estado não podiam continuar a suportar o contínuo crescimento das despesas da casa real e seus a latere, e toda a gente o compreenderia. Era verdade e não ofendia”.
Saramago. Ibidem,pág. 83

Átropos
Nome grego que significa “borboleta”.Aqui personifica a borboleta da morte. Cloto, Lachesis, e Átropos são as três Parcas que na mitologia grega personificavam o destino. Átropos é filha de Júpiter e Têmis. Era chamada de irremovível. Cortava o fio quando a vida que representava chegava ao fim.
“A passagem do ano não tinha deixado atrás de si o habitual e calamitoso regueiro de óbito, como se a velha átropos da dentuça arreganhada tivesse resolvido embainhar a tesoura por um dia.”
Saramago. Ibidem, pág. 11

Background.
Termo de língua inglesa. O próprio Saramago se encarrega de dissertar sobre o horizonte da significação do termo:
“A resposta também é simples , e vamos dá-la utilizado um termo actual, moderníssimo, com o qual gostaríamos de ver compensados os arcaísmos com que, na provável opinião de alguns, hemos salpicado de mofo este relato, por mor do background. Dizendo background, toda a gente sabe do que se trata, mas não nos faltariam dúvidas se, em vez de background, tivéssemos chochamente dito plano de fundo, esse aborrecível arcaísmo, ainda por cima pouco fiel à verdade, dado que o background não é apenas o plano de fundo, é toda a inumerável quantidade de planos que obviamente existem entre o sujeito observador e a linha do horizonte”.
Saramago.Ibidem, pág. 67

Banniera rossa.
(... ) “cantando canções patrióticas como a marselhesa, a banniera rossa...”.Saramago, pág. 63. Forma popular de “Bandiera rossa”, hino do partido comunista italiano que canta nos primeiros versos:
“Avanti o popolo, alla riscossa,
Bandiera rossa, Bandiera rossa
Avanti o popolo, alla riscossa,
Bandiera rossa trionferà.


Bunker
“Só quando o jornal saiu à rua é que o director se atreveu a sair do bunker em que se havia encerrado a sete chaves ”. Termo alemão.
Saramago. Ibidem, p. 113

Ça ira
...”Cantando canções patrióticas como a marselhesa, o ça ira...” .Expressão francesa.Esta foi talvez a mais popular canção da Revolução Francesa. Traduzida à letra: “A coisa caminhará”. Ou seja, “a coisa irá pra frente”.
Saramago. Ib. 63

Carpe diem
“houve muitas que pondo em prática uma interpretação mais do que viciosa do carpe diem horaciano, malbarataram o pouco tempo de vida que ainda lhes ficava entregando-se a orgias de sexo, droga e álcool...”.
Trata-se de uma expressão latina conhecida tirada das Odes (Livro I. 11) do poeta romano Quinto Horácio, que viveu nos anos que vão de 65 a 8, antes de Cristo . A expressão dita o espírito epicurista de um período da vida de Horácio, que mais tarde haveria de abraçar o estoicismo. Carpe diem, significa “aproveita o dia, curte os prazeres que o dia te oferece”.
Saramago.Ibidem, pág.131

Causa mortis
É uma expressão latina.
Saramago, Ibidem, 142: “nunca tinha tido uma falha operacional, e agora precisamente quando tinha introduzido algo de novo a relação clássica dos mortais com a sua autêntica e única causa mortis, eis que a sua reputação(...) acabava de sofrer o mais duro


Chant du marais.
...”cantando canções patrióticas como a marselhesa(...) o chant du marais”. Ib. 63
Entre as várias alusões que faz a canções patrióticas, Saramago inclui o Chant du marais, hino revolucionário e guerreiro que se tornou o hino dos deportados para os campos de concentração. Rigorosamente, este hino é uma obra coletiva criada em julho-agosto de 1933 no campo de concentração nazista de Boergermoor, na Alemanha. Transformou-se no decorrer do tempo num hino da resistência, da dignidade e da esperança. A origem do nome está no fato de que os detidos eram obrigados a cantar durante a caminhada que levava até um pântano que eles deviam secar e enxugar. O hino já era conhecido antes da guerra e tomou várias versões na Europa. Era cantado nas prisões e nos campos de concentração na França criados durante o regime de Pétain.


Design
Texto de Saramago:...“estão sempre a aparecer novos modelos, novos designs, tecnologias cada vez mais aperfeiçoadas(...)”.
Termo inglês recorrente no marketing e publicidade modernos.
Saramago. Ibidem, pág. 137

Deutschland ueber alles
Texto de Saramago:...”cantando canções patrióticas como a marselhesa(...), o deutschland ueber alles(...). Entre as canções patrióticas citadas nesta parte do livro, Saramago cita também o deutschland uber alles composto por Heinrich Hoffmann Von Fallersleben em 1841 como hino alemão (Deutschenlied) e que que durante a vigência do nazismo hitleriano se tornou num hino imperialista e racista abominado pela comunidade internacional. Banida após o ano de 1945, a Deutschlandlied, voltou a ser o hino nacional alemão, mas apenas a terceira estrofe é usada, tendo sido absolutamente proibida a primeira estrofe que proclamava o “Deutschland, Deutschland ueber alles/Ueber alles in der Welt (...) e passando a ser usada apenas a terceira estrofe a partir desse ano de 1945: “Einigkeit und Recht und Freiheit/Fuer das deutsche Vaterland”. A partir de 1945, os alemães cantam apenas a Unidade, o Direito e a Liberdade para a pátria alemã!
Saramago. Ibidem, pág. 63.



Et caetera.
Expressão latina conhecida dos dicionários de Língua Portuguesa, significando “ e o resto”.
Saramago. Ibidem, pag. 110-111

Fac símile
Texto de Saramago: ...”se não fosse a estranha caligrafia com que o seu nome está nele escrito, igualzinha à do famoso fac simile publicado no jornal”(...).
Em português, a expressão latina fac símile significa cópia.
Saramago. Ibidem, pág. 124

God save the king
Texto de Saramago:…”cantando canções patrióticas como a marselhesa (... ), o god save the king”(...). É uma alusão ao hino oficial inglês God save the Queen/God save the King, que remonta ao ano de 1745 em sua primeira redação, hoje com variações.
Saramago. Ibidem, pág. 63

Know how
Texto de Saramago: …”sendo portanto necessário reformular de alto a baixo o nosso tradicional know how (...).
Expressão inglesa corrente em nosso linguajar contemporâneo
Saramago. Ibidem, pág. 27, 69

Last but not least
Texto de Saramago: …(…) “Finalmente, last but not least, a igreja católica, apostólica e romana tinha muitos motivos para estar satisfeita consigo mesma.”
Uma frase internacionalizada.
Saramago. Ibidem, pág. 120

Mais où sont les neiges d’antan
Texto de Saramago:... “se juntarão uma atrás d outra como folhas que das árvores se desprendem e vão tombar sobre as folhas dos outonos pretéritos, mais où sont les neiges d’antan, do formigueiro dos que, pouco a pouco, levaram a vida a perder os dentes e o cabelo”(...)
Expressão em francês extraída da 'Ballade des dames du temps jadis' (Balada das damas de outrora) de Georges Brassens: “Dites moy ou n’en quel pays/Est Flora la belle Romaine/Archipiade né Thais/Qui fut sa cousine germaine/(...) Qui beaulté or trop plus qu’humaine/ Mais ou sont les neiges d’antan?”
Saramago. Ibidem, pág. 32

Mare magnum
Texto de Saramago: “foram-se juntando ao mare magnum de cidadãos que aproveitavam todas as ocasiões para sair à rua e proclamar e gritar, que agora a vida é bela.”
Expressão latina.
Saramago. Ibidem, pág. 24

Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris
Texto de Saramago: “-Olá, sou eu, que é a versão corrente, por assim dizer familiar, do ominoso latim memento homo qui (sic!) pulvis es et in pulverem reverteris”.
Texto latino da liturgia da Igreja Católica no dia de cinzas.
Saramago. Ibidem, pág.187

Modus operandi
Texto de Saramago: ...” que embora em muitos casos o modus operandi seja o mesmo para ambas...”.
Expressão latina, significando “a maneira de fazer, de agir”.
Saramago. Ibidem, pág. 174

Numerus clausus
Texto de Saramago: “...O chefe do governo(...) não encontrou melhor saída para a dificuldade que propor uma nova negociação, agora com o estabelecimento de uma espécie de numerus clausus, qualquer coisa como o máximo de vinte e cinco por cento do total de vigilantes...”
“Numerus clausus” significa aqui “número fechado”, “proposta fechada”.
Saramago. Ibidem, pág. 54

Outlook Express da Microsoft
Texto de Saramago: “(...)No mesmo instante em que a pessoa abre o Outlook Express da Microsoft já está filada...”. Este empréstimo mostra como Saramago lida com a tecnologia da informática também.
Saramago. Ibidem,pág. 137

Post scriptum
Expressão latina.
Texto de Saramago:”Não estou para sustentar burros a pão-de-ló, desabafava em post scriptum, um segurado particulamente mal disposto.”
À letra, a expressão latina “post scriptum” significa “depois do escrito”. Ou seja, depois do texto principal. Normalmente, o post scriptum entra como uma nota ou como um adendo ao texto.
Saramago. Ibid., pág 33

Pro forma
Texto de Saramago: “No fim, aplicavam uma penitência pro forma”...
Expressão latina.
Saramago.Ibidem, pág.132

Qui pro quo (=quiproquó).
Texto de Saramago: “Umas quantas luzes e sintaxe elementar e uma maior familiaridade com as elásticas subtilezas dos tempos verbais teriam evitado o qüiproquó e a consequente descompostura que a pobre moça, rubra de vergonha e humilhação, teve de suportar do seu chefe directo.”
“Qui pro quo” originariamente é uma expressão latina e significa “uma coisa pela outra”, um equívoco, um engano. Já aportuguesado, da maneira empregada por Saramago, escreve-se “qüiproquó”, uma palavra só, com trema sobre cada um dos “u”, para corresponder à pronúncia latina.
Saramago. Ibidem, pág. 14

Realpolitik
Texto de Saramago:”Infelizmente quando se avança às cegas pelos pantanosos terrenos da realpolitik, quando o pragmatismo toma conta da batuta e dirige o concerto sem atender o que está escrito na pauta, o mais certo é que lógica imperativa do aviltamento venha a demonstrar afinal que ainda havia uns quantos degraus para descer.”
Saramago recorre ao empréstimo em alemão “realpolitik” para referir-se à política pragmática, aquela que realiza e atende necessidades reais como a fome antes de se precoupar com ideologias ou moralismos.
Saramago. Ibidem, pág. 59

Rosette de Malherbe
Texto de Saramago: “Será como aquela pequena rosette de malherbe que, convertida em rosa, mais não pôde durar que a brevidade de uma manhã”.
Saramago refere-se a um texto do poeta francês François Malherbe (1555-1628) onde se diz que “...' Et Rosette vécut ce que vivent les roses, l’espace d’un matin ': Rosette viveu o que vivem as rosas, o espaço de uma manhã” .Saramago. Ibidem, pág. 104

Sequoiadendron giganteum
Texto de Saramago:”Já pensaste se a morte era a mesma para todos os seres vivos, sejam eles animais, incluindo o ser humano, ou vegetais, incluindo a erva rasteira que se pisa e a sequoiadendron giganteum com os seus cem metros de altura...”.
Esta sequoiadendron é uma árvore gigante, do gênero das coníferas, descrita e catalogada por Bucholz em 1939. Encontra-se na Califórnia e Sierra Nevada e há espécimes dela no Reino Unido também.
Saramago. Ibid. 72

Serial killer
Texto de Saramago: “...e minuciosa análise grafológica a que procedi apontam a que a autora do escrito é aquilo a que se chama uma serial killer, uma assassina em série...”.
A passagem registra um empréstimo em língua inglesa.
Saramago. Ibidem, pág. 114, 126

Stars and stripes
Texto de Saramago: (…) cantando as canções patrióticas como a marselhesa(... as stars and stripes(...)”.
Alusão à canção norte-americana Stars and Stripes forever. A bandeira norte-americana tem também o nome de Stars and Stripes, pelas 50 estrelas e várias listras ou bandas que contém..
Saramago. Ibidem, pág. 63

Tânatos
Texto de Saramago: “arrastando para longe da vista a longa sombra de tânatos”.
A palavra thánatos é grega e significa morte.
Saramago. Ibid., pág. 24
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