Estávamos contente co’o feriado,
Pois íamos folgar um dia inteiro.
Aí, veio este aviso: — “Vai ligeiro,
Que o médium há de estar interessado.”
Pensei na redação: — “Então, requeiro
Um tempo, até que esteja preparado” —,
Pois, ao levar notícias deste lado,
Sempre parece que se é o primeiro.
Assim, este soneto de improviso
Tem de provar que temos mais juízo,
P’ra não desanimar o bom leitor.
Como a paz deste povo transparece,
Transubstanciaremos nossa prece,
Agradecendo o verso ao Criador.
Nosso escrevente insiste com a gente,
Sabendo controlar-se, felizmente,
Pois pega a rima devagar e certa.
O compromisso que nós dois firmamos
Preserva os frutos verdes nos seus ramos,
Para mantermos nossa via aberta.
Caso não dê p’ro verso, numa tarde,
Vamos pedir que sempre nos aguarde
No outro dia, para a rude rima.
De afogadilho, o verso sai mais torto,
Ainda mais, se o sentimento é morto,
Que a inspiração a rima é quem sublima.
Nesse outro dia, chegaremos cedo,
Para poder ditar, sem muito medo,
Que a imantação se venha a perturbar.
Caso o trabalho seja sério e rude,
Não há motivo p’ra que o tema mude:
Basta algum ponto do evangelho dar.
Se a nossa rima esteve por um fio,
Também nos vale o tom de desafio,
Com que se testa a farta inspiração.
Ao demonstrar aqui, junto a esta mesa,
As jóias mais brilhantes da riqueza,
O verso não se farta: falta ação.
Brincadeiras à parte, o verso rola
E o caro médium sempre nos controla,
Ao exigir de nós severo trato.
Bate com os dedinhos insistentes
E julga os temas muito inconsistentes
E sente as rimas fora do contrato.
Sustenta que o improviso é improdutivo:
Não é do Cristianismo Redivivo
Trazer aos encarnados tanta droga.
Supõe que a turma seja “da pesada”,
Que não se há de aproveitar mais nada,
Pois quem caiu no mar afunda e afoga.
Caso tenhamos cá um bom sucesso,
Que as rimas, num crescendo de progresso,
Se ajustam para o efeito da poesia,
Demonstraremos, ao sair do enrosco,
Que Jesus Cristo está também conosco,
Caso contrário, nada se faria.
Não lhe parece lógico o poema,
Nesta humildade trágica, suprema,
De quem se reconhece muito pobre?
Então, não fira o coração no espinho,
Embora seja o verso tão mesquinho,
Faça com que o temor do mal se dobre.
O protetor do médium não daria
Nenhuma chance a quem quisesse, um dia,
Vir perturbar o seu trabalho aqui.
Dizemos isso pleno de vaidade,
Porque nos acusar ninguém mais há-de,
P’ra não dar de raposa ou jabuti.
Vamo-nos recolher, que já é hora,
Porque a rima reflui e mais descora,
Quanto mais apressado for o verso.
Este é o exemplo típico da “Escola”,
Pois parece que a trova não decola,
Se o combustível não queimar, perverso.
Esteve muito tenso este escrevente,
No início do trabalho, quando a gente
Falou em “improviso” e em “folgar”.
Agora se consola com a rima,
Demonstrando que sempre teve estima,
Permanecendo atento, em seu lugar.
Senhor, fazei do verso a melhor prece:
Nossa alegria agora transparece,
No resultado do poema em festa.
Abençoai o povo entusiasmado,
Enviando um poeta bem dotado,
Para curar-lhe a dor que ainda resta.
|