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Contos-->Basta um toque -- 01/12/2002 - 18:46 (Francisco A. Florence) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Basta um só toque

A insônia veio sem causa. Desapareci espremido entre dois travesseiros e, de repente, fez-se o passado.
Ela estava lá, como a exigir uma decisão, mas fiz que não era hora. Ela feita inteira, com sua face de cera derretendo uma gota de sorriso. E foi, com as pálpebras semi - cerradas e um leve tremor nos lábios, que sugeriu aquela idéia comum de tempo perdido.
Eu empobrecendo seu momento.
Um aperto sufocante escorregou comigo pelas ruas. Seu nome fez a nódoa na memória que custo a dissolver. E mesmo o passatempo da leitura garfada com arroz e complemento naquela pensão de almoço, não permitiu o esquecimento. “ Basta um só toque que tudo é sensível” , ela me dizia enxaquecosa. Eu conseguia uns poucos versos relembrar: “ Num fim de ocaso, à beira azul de um lago...” E ela tão seca! Na secura do leite, na secura da fala, de quem fora noiva, não me ouvia. Assim eu estava. Ela me observava e eu parecia puro. Parecia perfeito. A roupa escondendo tudo aquilo que não deveria ser examinado. E ela, desconsiderando essa antiga novidade, se deixava ir além da convexidade de seus joelhos. Ela se exibia para o mundo e eu debruçado sobre mim. Mas um homem que queima não encontra esconderijo. E como queimava meu coração! Parecia puro, perfeito. A musculatura integrada...
Mas ela fez que desentedera, jogou os cabelos com o movimento lateral da cabeça e retirou-se num ato de despedida irreversível. Seu nome silenciou-me na garganta. E não pude me descobrir e expor seu ígneo. Ou ela esperava que eu me submetesse ao seu dedo de mando?
Mais não a vi. O encontro de nossas vozes ao telefone restou como último contato. E, ela, movida pelo instinto, me trocou por um prato de comida e desligou.
Serviria de consolo ser equiparado à primogenitura de Esaú?
Não a mais vi. Ainda que ficasse na expectativa, atrás das portas e pelos cantos da sala, esperando o toque das campainhas. E parti antes que as horas se completassem nos sinos da matriz. E meu templo tornou-se o bar e minha comunhão a cerveja. De sua lembrança eu estampava as marcas profundas no rosto. Torturas de quem se calava na dor.
Ainda telefonei uma vez, mas uma voz ocupou a ausência da sua. E fiquei sem mais ouvir. Padeci. Arderam-me os olhos. O fogo queimando os últimos pedaços mas sem atingir a sequidão de meu orgulho. Desfrutei alguns sonhos daquilo que seria, antes de ser conflito. E sua face,novamente,vinha se sobrepor à minha.
Por ela, eu deixaria de comer as cores, de garfar as páginas e de mastigar as letras, sem suplemento. Até jejuaria penosos sete dias de banchá e arroz. Mas, ceder ao seu dedo de mando, como poderia?
Arranquei os sapatos, despi as meias e o calor dos pés me queimavam menos que minhas lágrimas ardentes. Certamente a ansiedade se devia ao ar abafado do quarto. A porta obstruindo a luz do corredor e a janela fechando o ruído da rua.
Desapareci espremido entre dois travesseiros que me deixaram só. E adormeci o tempo indefinido de quem não desja amanhecer com o dia.
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