COM MEDO DE SER INFELIZ
(por Domingos Oliveira Medeiros) Republicado
O Lula não tem mais jeito
Continua enrolado
Falando de improviso
Critica o lado errado
Agora recentemente
Pagou mico novamente
Fez de conta que é jurado
Assistindo a televisão
Ficou bem indignado
Com o desvio de verba
No Fantástico mostrado
Logo em Porto Seguro
O prefeito em apuro
O dinheiro desviado
Culpa do Executivo
E também do Tribunal
Que fiscaliza as contas
Na área municipal
Ajudando o legislativo
Fazendo o demonstrativo
De verbas daquele local
E o nosso presidente
Fez de pronto a distorção
Exigindo da Justiça
Pronta e firme posição
Como se toda Justiça
Fosse lenta ou omissa
Em favor da corrupção
Não foi a primeira vez
Dessa crítica infundada
Protegendo outro Poder
Onde existe a marmelada
Tanto no Legislativo
Como no Executivo
Onde ela é fabricada
Parece jogo de cena
Com a carta já marcada
Confundindo a população
Há muito manipulada
Pra esconder a verdade
Excesso de autoridade
Sempre mal intencionada
Mas estou desconfiado
Que toda essa jogada
Mais lá na frente um pouco
Com a reforma aprovada
Vai servir bem de pressão
Da parte da população
Se ela for questionada
Junto à Corte de Justiça
No Supremo Tribunal
A reforma da Previdência
Será julgada, afinal
E em surgindo a verdade
A responsabilidade
Não será congressual
A taxação do aposentado
Que o governo tanto sabe
É assunto do passado
É inconstitucional
Mas insiste na medida
Pois não tem outra saída
Para o rombo federal
Assim, insiste na tecla
Esquece do Legislativo
Critica o Judiciário
Protege o Executivo
Esconde suas mazelas
Dentre todas as mais belas
Está tudo no arquivo
Por isso, não sou mais feliz
E me sinto derrotado
Votando pelas mudanças
Acabei sendo enganado
Quero de volta meu voto
Mão em cumbuca não boto
Estou sendo confiscado
Antes que tudo aconteça
Vou levantar a verdade
O Lula já foi brindado
Hoje é aposentado
Por ter sido perseguido
Na ditadura vivido
Recebe um bom trocado
Mais de dois mil e duzentos
Pelos anos de prisão
Sua aposentadoria
Época da revolução
Na década de sessenta
Hoje ele nem comenta
Mais essa acumulação
Mas isso é café pequeno
Há mais incorporação
Entre os governadores
E presidentes da nação
A chamada vitalícia
Com jeitinho e malícia
Faz a feira do feijão
É o caso do Fernando
Que acumula um montão
E Luiz Antônio Fleury
Notícia da televisão
Chega a mais de vinte mil
Do orçamento do Brasil
Agüenta coração
E tem o Chico Aguiar
Que aposentou com 12 mil
Depois de noventa dias
Num estado do Brasil
No governo do Ceará
É difícil de acreditar
Mas esse fato existiu
Justiça, também seja feita
Há exceções, e tem nomes
Ex-prefeito e ex-deputado
Ex-governador Ciro Gomes
Abriu mão de seu direito
Merece nosso respeito
São pessoas de renomes
Pare com a perseguição
Ao pobre do aposentado
Ele não tem culpa não
Do rombo que foi causado
No cofre da Previdência
Tenha a santa paciência
Você está enganado
Quem levou o Lula ao Poder
Votou no PT passado
Este que subiu a rampa
Está de rosto mudado
Por isso, senhor presidente
Não tire o dinheiro da gente
Ou tudo será julgado
Contribuição do inativo
É ato confiscatório
Emenda constitucional
É ato ilusório
Fere direito adquirido
Na Carta está inserido
Reconhecido em cartório
Não se muda Texto Maior
Remenda constitucional
Alterando cláusulas pétreas
Princípio fundamental
Sem causa, a contribuição
É mera discriminação
Tratamento desigual
Recurso falacioso
De quem tem a obrigação
De zelar com o compromisso
Com nossa Constituição
Que não pode ser mudada
De noite e de madrugada
Com segunda intenção
Por fim, se Vossa Excelência
O meu conselho escutar
Respeite o Judiciário
E passe logo a trabalhar
Por liberdade e Justiça
Partindo dessa premissa
A gente só tem a ganhar
Domingos Oliveira Medeiros/
13 de maio de 2003.
PS>: Dedico este Cordel a todas as pessoas que amam a liberdade e a justiça, e que se sentem envergonhadas da triste página, felizmente virada, de nossa história, em que nossos irmãos negros foram vítimas da ganância e da ignorância de grupos de capitalistas interessados no lucro fácil de seus negócios, a partir da exploração de seus semelhantes, como, aliás, ainda hoje se faz, de mais abrangente, onde não só os negros, mais gente de todas as raças, continuam, de certa forma, escravos da obsessão pela acumulação de poder e de capital.