Nas trevas exteriores já estive
E pude observar como se vive
Nas garras dos perversos e dos maus.
Se, agora, aqui estou a versejar,
É que respiro a paz deste lugar,
Refeito, por Jesus, daquele caos.
Mas a lembrança está sempre comigo,
Para evitar de novo esse perigo
De me considerar melhor em tudo.
Quando vivi uns tempos no Planeta,
Tornei-me astuto e vil, como um capeta.;
Parti, depois, cruel, mendaz, sanhudo.
Para ficar um doce, como agora,
Eu tive de curtir a dor-senhora,
Até compreender quem era eu.
O sofrimento foi de tal maneira
Que não posso narrar, mesmo que queira,
Pois só irá entender quem já sofreu.
Agora, fazer versos é de agrado.;
Nada para deixar angustiado
Quem teve tanto medo e tanta dor.
Se a rima não sai límpida, formosa,
Se quem tem mais talento ri e goza,
Eu nado nestas águas com amor.
É importante, claro, ofereçamos
Somente frutos bons em nossos ramos,
Que o mal aqui também será punido.
Mas tudo o que se faz recebe aviso
Da parte do instrutor, por ter juízo
P’ra prevenir a trova sem sentido.
Eu sei que sempre alguém há de dizer
Que o fazer versos, p’ra cumprir dever,
Não corresponde à idéia da poesia.
Então, que a boba rima fique manca,
Porém, é bom saber que não há tranca,
Para pôr fim às trovas deste dia.
O sentimento puro da igualdade
Somente nesta paz a alma invade,
Pois quem manda no etéreo não vacila
Em permitir ao povo que verseje,
Desde que a rima o bem e o amor enseje,
Tornando esta leitura mais tranqüila.
Os versos que retumbam nas esferas
Poderão desfazer sutis quimeras,
Que, às vezes, o temor segura a alma.
Mas só a compreensão do amor do Pai
Por toda a eternidade sobressai,
Que o progresso se dá, se a fúria acalma.
O sentimento tem seu compromisso,
Quando se presta ao mundo algum serviço
Que dê ao coração muita alegria.
Aí, o descortino da doutrina
Ressaltará o que Jesus ensina,
Porquanto um bem maior ninguém faria.
Enquanto o bom amigo estiver lendo,
Embora julgue o verso mau, horrendo,
Vá fazendo umas trovas de antemão.;
Corrija o sentimento desvairado,
Para manter a vida deste lado,
Equilibrando mente e coração.
Não é difícil de alcançar a rima,
Porque toda a maldade se sublima
E os bons amigos fazem sua parte.
Ninguém quer ver o médium fracassar,
Pois ocupar de vez este lugar
Vai exigir de nós alguma arte.
Por que fazer uns versos sem futuro?
Por que deixar o médium inseguro?
Não é melhor continuar na prosa?
Hão de sobrar uns poucos com sentido.
Se vão ser publicados, eu duvido.;
Talvez para que sirvam só de glosa.
Modestamente, vou-me recolher,
Já que aqui vim cumprir o bom dever,
Sem muito jeito mas com muito esforço.
Tendo já lido versos bem melhores
E tendo feito outros bem piores,
Pelo colega de amanhã eu torço.
Não te parece que, ao sair das trevas,
Um sentimento triste ainda levas,
Por veres tanto seres lá jogados?
Vamos orar por eles nesta hora,
Que a lei do amor no verso mais vigora,
Ao irmos todos juntos, abraçados.
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