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Letras_de_Música-->Se mais quiser conhecer sobre o FADO... -- 15/02/2007 - 23:20 (TERTÚLIA JN) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fado à lupa dos cinco sentidos

É sempre a mesma coisa, meu amor,
são sempre sons e gestos repetidos
e até nossas palavras sem calor
nos dizem que já estamos vencidos...




Gosto e aprecio imenso fruir Fado, mas não um Fado qualquer, daquele que por aí anda às três pancadas a ganhar aflitiva e imperiosamente a vida, mendigo semi-bem vestido, arrastado na vertigem, indigno e sob sub-reptício ponto de mira assestado sobre as vogais ao contrário. Para aprendê-lo e apreendê-lo calcorreei tudo quanto havia para calcorrear, da mais profunda e bafienta cave ao 15º. piso do deslumbramento.

Se o Fado sobe ao palco, passa na rádio ou na televisão, para me interessar e cativar a atenção, terá de ter apurada qualidade, constituída pela actuação de exímios dedilhadores, excelência vocal e sobretudo apresentar música e letra além dos maçadores choradinhos a descrever verrinas ou ridículas fatalidades.

Foi nos retiros típicos e enquadrado na ambiência tradicional que eu me extasiei e tive a sensação de levitar, ouvindo diversificados intérpretes em pendor e estilo, como Argentina Santos, Carlos do Carmo, Fernanda Maria, Nuno de Aguiar ou Beatriz da Conceição, tal como vi e ouvi Lucília do Carmo, Toni de Matos, Max e Fernando Maurício, autênticas maravilhas vocais e cénicas fora do comum. E não tive nunca o prazer de experimentar a sensação de ter estado junto de Amália, afastado pela onda de paixões fadistas adversas.

Muitos outros estimo também presenciar pelas suas muito peculiares características, arroubos espectaculares e cuidado repertório exibido. Os conjuntos acompanhadores, as ditas banzas onde a viola-baixo marca o ritmo do lado esquerdo da guitarra e da viola, exigem-se minimamente à altura de uma execução bem dotada, experiente e sincrónica, por um lado, e com algo que aborda subtis preciosismos e tonalidades aprazíveis, por outro, espécie de jazz à portuguesa que já tive a dita de ouvir. Sem estes condimentos em comunhão, o Fado descai e de degrau em degrau estende-se no solo da vulgaridade até alojar-se no espasmo inaudível e de fugir.

Curiosa e surpreendentemente, em meu exclusivo apreço, há um bem cotado fadista em Portugal, quiçá o que mais vezes terá passado na televisão com largo destaque, que eu não suporto escutar sequer um bocadindo, como se fosse uma vareja que me entrasse no cérebro. Reflicta e pondere eu profundamente sobre todos os seus pormenores, acabo sempre a interrogar-me como é possível um tal fenómeno. Reconheço-lhe o mérito de habitualmente fazer-se enquadrar entre boas e bons intérpretes, habilidade que impede o público de aperceber-se da arenga monocórdica e extremamente saturante que debita. Mas gosta de Fado, possívelmente tanto, que se não ganhasse com a sua estratégia farto pecúlio, seria capaz de pagar para cantá-lo. É mauzinho, do tipo viperino e sobretudo um impositivo videiro que até conseguiu cronicar no mais cotado semanário do país. É deveras um fenómeno social que ao invés se faz cotar como personalidade notável, humildemente submetido à memória da diva mor, o que constitui um larguíssimo guarda-sol que pode apanhar à vontade com granizo do tamanho de um punho. Como é que consegue?...

De resto, tal e qual a vida, o Fado é pejado de fado autêntico em toda a sua acepção, como também de fatalismo ínvio quanto baste, de esconso miserabilismo e perversidade. No seu tempo, se Vitor Hugo de idêntico paradigma tivesse conhecimento, não lhe regataria uma boa trintena de páginas numa das azadas passagens de "Os Miseráveis".

No entanto, sob o ôlho que restou a Camões, há felizmente os que das esconsas malhas do Fado se vão libertando ou nem por lá passam, e é expontaneamente com esses que o grande público deveras está sem o risco de ser afectado pela fadistice aguda, uma doença que faz penar mais do que as próprias penas.

Pinto de Carvalho, o Tinop (anagrama de Pinto), relativamente à sua época, deixou-nos um excelente e saboroso relato sobre o Fado. Na sua peugada e em direcção ao advir deixo também eu esta breve e modesta resenha sobre os pormenores que deveras experimentei ao longo da minha existência, algo de bem e mal como afinal é a vida.

António Torre da Guia - Porto - Portugal
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