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cronicas-->Amor Furta-Cor -- 05/09/2002 - 19:23 (Aruanã Bento) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Ela viu o passarinho azul. Ele achou que já estava na fita. Fazia tempo que trabalhavam lado-a-lado, mas nunca tinham se visto. Pouco conversaram e logo surgiu o entendimento, harmonia de personalidades, mas ela precisou alugar um filme para se aproximarem. Seguiu alugando todo tipo, aliás menos os clássicos em preto e branco e a intimidade veio dando seus retoques, pintando o clima. Almoçaram juntos, dividiram o mesmo prato e logo o mesmo beijo. Estava escurecendo e a loja de tintas e a locadora permaneciam abertas com o casal papeando no degrau da porta.

- Aquele beijo vai ter replay?
- Você está me deixando vermelha. Nem te conheço direito...
- E o quê você quer saber?
- Sei lá. Você já namorou?
- Passa essa parte. Passa...
- Eu namorei, mas o cara me traiu.
- Já vi esse filme.
- Namorava a vizinha há um tempão
- Pois é. Dormindo com o inimigo.
- Foi um borrão na minha vida... Vamos mudar de assunto. Você tem cachorro?
- Bradock e Van Damme . E você?
- Tenho uma gata, a Pink.
- Que time você torce?
- Fluminense. Sou tricolor.
- Agora que a gente se conhece, vamos para algum lugar ?
- Sei lá. Meu destino é que traça o caminho.
- Então princesa. Ejeta isso da memória.
- É. Tá na hora de pintar algo novo na minha vida...

Dali foram misturar seus tons, avaliar profundidades no sombreado mais próximo. Pelos ouvidos dela, palavras ralas chegaram ao coração banhadas no fixador e nem precisa dizer que se apaixonou. Ela queria mais que amizades coloridas, precisava de relacionamentos marcantes. Seu amor não conhecia a escala Pantone e suas variações capazes de pintar mil pavões e borboletas, tinha ficado apenas nas primárias. Sequer prestou atenção no outro, sua natureza de dois cabeçotes, com 120 minutos de duração e a vocação de fingir viver um roteiro original.
A semana seguiu com interferências na imagem do moço: mandou flores brancas, preferiu ver filme de sacanagem com os amigos do que visitar a exposição de Mondrian, e o pior, não saiu da loja para admirar o arco-íris. Mas longe de separar, ela aprendia com ele, ouvia sua cultura de National Geographic e mergulhava em suas histórias habitadas pelo fantástico e o surpreendente. Sabia feitiços, astronomia, mitologias, culinária, segredo de cofres, piadas, biografias, estratégias militares, declarações de amor. Sabia conquistar as mulheres pelo melhor àngulo.
Justo no dia que completaram uma semana, ele não apareceu na porta da loja o dia inteiro, no outro idem, só deu o ar da graça três dias depois com desculpas daltónicas alegando que tudo foi um grande mal entendido. O amor desbotou-se por completo, descascou as camadas e a menina chorou lágrimas sem cor pensando nos erros da sua intensidade. No mesmo dia ele já estava rondando o salão de beleza que abriu ao lado, pois chegou cabeleireira nova, que corta o papo-furado pela raiz e faz barba, cabelo e bigode por muito menos.
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