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cronicas-->A Terapia do Abraço por Trás -- 05/09/2002 - 18:04 (Bruce Green) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Era um casalsinho performático, daqueles que numa única noite de sábado presenciam acidentes, penetram em festas, adentram em vernissages, bisbilhotam brigas em quartos de motel. Mas aquele sábado parecia incomum, só o barulho do motor do carro a preencher o vazio das ruas.

Ele pára o carro monotonamente no sinal vermelho, boceja e vai procurar uns CD´s no porta-luvas. Ela, acende a luz interna, o observa com carinho. Em questões de segundos, revive todos os sentimentos com as doces lembranças desse seu namoro de quatro anos. Mas essas lembranças, não foram suficientes para camuflar um fio de cabelo loiro intrometidamente preso à roupa do amado.

Delicadamente pinça com os dedos a prova do crime e imediatamente pós-se a gritar:

- De quem é esse fio de cabelo loiro?
- Oi?
- De quem é esse fio de cabelo loiro?
- Que fio?
- Esse aqui ó! - E mostra de punho fechado o adereço em questão.
- Cabelo loiro...
- Tá ficando cego agora??? Esse-fio-de-cabelo-comprido-loiro-que-estava-preso-no-seu-casaco!
- Ah... Esse fio? Ora... - Pausa estratégica de três segundos. Só pode ser do Miguel.
- Miguel??? Que Miguel???
- Errr... Aquele cara que faz terapia comigo.
- Terapia??? Que terapia???
- Ué... num te falei que estou fazendo terapia?
- Terapia??? Que diabo de terapia que deixa fio de cabelo nas costas???
- Terapia do Abraço ora...
- Terapia do Abraço??? Como assim???
- Terapia do Abraço, meu bem... Não saberia te explicar, é uma coisa doida, mas prazeirosa. A gente se reuni e começa a se abraçar. Tem até uns relaxamentos...
- Pára de me enrolar e diz logo quem é essa vagabundaaaa!
- Já falei que é do Miguel! Errr... Ele é um sueco com os cabelos até os ombros, na última aula nos abraçamos...
- Cara... Pára com isso... - Já em choro compulsivo.
- É sério meu anjo, acha que estou te traindo??? É a gota d´água... Você está ficando louca. Paranóica! Louca!
- E como foi parar nas suas costas?
- A última aula foi de abraços por trás...
- Abraço por trás... - E pós-se novamente a chorar...
- Meu bem... Estamos perto da sua casa, vou te deixar lá. Você está muito alterada.

O carro pára enfrente à casa, ela corre aos tropeços e abre o portão violentamente. Nem se despede do infeliz, que, arrasado acelera. Guiando o carro inconsequentemente pelas ruas da cidade...

No dia seguinte, voltou à casa da namorada com o manjado buquê de rosas e a cara de pau que tinha que ter naquela hora. Não telefonara por medo que ela ainda estivesse soltando fogo pelas ventas e o mandasse pr aquele lugar. Girou delicadamente a maçaneta da porta, entrou, chamou baixinho o nome dela.

Ela em reflexo de gato, jogou lençol, colcha e travesseiro no infeliz. Fizeram as pazes transando debaixo do chuveiro. Comemoraram o armistício em secrelento gozo sobre a escrivaninha, entre canetas coloridas e papéis de cheiros vários.

Três anos se passaram e aguardavam pacientemente o tão sonhado dia do casamento. A vida prosseguia em idas ao shopping, ao som de Abba, no gosto de batida de amendoim com leite condensado e as bobagens que se compra na entrada do cinema.

Estava saindo de casa apressada para pegar o banco aberto. Aproveitou para olhar as cartas que abarrotavam a caixa de correio. Procurava mais uma conta pra pagar, o carnê do vestido de noiva, ou a mensalidade dos cartão de crédito. Mas em sua mão um punhado de carta de amigos, parabenizando o casal pelo compromisso que se aproximava.

Felicitações da Paulinha, amiga do trabalho. Beijo da Roberta, prima da noiva que morava no Canadá desde a infància. Abraço do Francisnco, vizinho de rua. Sermão do pai, que viajava à negócios.

Mas dentre todas as cartas, uma lhe atiçou a curiosidade. De remetência por parte de um tal Miguel E. W. Ericson. Se lembrou na noite fatídica, se lembrou da Terapia do Abraço por Trás, se lembrou do choro convulsivo, se lembrou do pedido de desculpas, se lembrou do sexo embaixo do chuveiro. Se lembrou de uma nova vida se inaugurando entre idas ao shopping, ao som de Abba, no gosto de batida de amendoim com leite condensado e entre as bobagens que se compra na entrada do cinema.

Fez cara de desprezo, entulhou as cartas nas mãos, jogou tudo na bolsa, e correu para o para o ponto de ónibus.



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