Andei 'por aí' pesquisando e, em dada oportunidade, cliquei sobre o nome de Fernando Pessoa. Deparou-se-me 'Desiderata', a título de literatura poética, texto que, de momento, não tenho a certeza se é ou não da autoria de tão proclamado autor.
Se tiverem paciente disponibilidade, ora então leiam, caros Usineiros: DESIDERATA
Siga tranqüilamente entre a inquietude e a pressa,
lembrando-se que há sempre paz no silêncio.
Tanto quanto possível, sem humilhar-se,
mantenha boas relações com todas as pessoas.
Fale a sua verdade mansa e claramente e ouça a dos outros,
mesmo a dos insensatos e ignorantes,
eles também tem sua própria história.
Evite as pessoas escandalosas e agressivas,
elas afligem o nosso espírito.
Se você se comparar com os outros,
se tornará presunçoso e magoado,
porque sempre haverá alguém inferior
e alguém superior a você.
Você é filho do universo,
irmão das estrelas e árvores,
você merece estar aqui.
E mesmo que você não possa perceber,
a terra e o universo vão cumprindo o seu destino.
Mantenha-se interessado em seu trabalho,
mesmo que humilde,
ele é o que de real existe ao longo do tempo.
Seja prudente nos negócios,
pois o mundo está cheio de astúcias,
mas não se torne um cético,
porque a virtude existirá sempre.
Muita gente luta por altos ideais e
em toda a parte a vida está cheia de heroísmos.
Seja você mesmo.
Principalmente não simule afeição,
nem seja descrente do amor,
porque apesar de tanta aridez e desencanto,
ele é tão perene quanto a relva.
Aceite o conselho dos mais velhos e seja mais
compreensivo aos impulsos inovadores da juventude.
Alimente a força do espírito que
o protegerá no infortúnio inesperado,
mas não se desespere com os perigos imaginários.
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.
E a despeito de uma disciplina rigorosa,
seja gentil consigo mesmo.
Esteja em paz com Deus,
como quer que você o conceba.
Mantenha-se em paz com a sua própria alma.
Apesar de todas as falsidades,
agruras e desencantos, o mundo ainda é bonito.
Seja prudente, e faça tudo para ser FELIZ!Agora, pelo menos eu, interrogo-me: aonde está o arroubo poético em todos estes versos? Em 'ele é tão perene quanto a relva'?!... Além desta ínfima baga, se mais algum há, quanto a mim, só poderá estar na ironia entre-linhar que tanto desgastado conselho óbvio me suscita. Isto não é poesia e, muito pelo contrário, ou é prosa ingénua, ou é uma forma de escrever que presume dirigir-se a gente parva. Os parvos não lêem e, mesmo sabendo ler, lêem por ler, não absorvem a mensagem. Se foi Pessoa que escreveu a lengalenga exposta, como leu Kipling de certeza, estava num daqueles dias em que a musa - perdão, o muso - tinha saído com alguém.
Também, porque deve ser o caso, desde já, estou a pensar na minha situação, quando me acoito no café a escrever prosa e chega um daqueles sabidolas-ignorantes que, nada mais tendo para dizer, interpela sem a mínima educação: - 'Então poeta, esses versos estão a sair ou não?'.
Enfim, só para desabafar, questiono:
Esta linha é uma frase ou um verso?...
Pergunto ainda:
Este verso morrerá sem ser frase?...
Ah... Ah... Ah...
António Torre da Guia |