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Ensaios-->MIL PALAVRAS ÁRABES NA LÍNGUA PORTUGUESA -- 03/07/2005 - 00:55 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



MIL PALAVRAS ÁRABES NA LÍNGUA PORTUGUESA

João Ferreira
2 de julho de 2005


Foi lançado, com boa participação e interesse cultural, na Biblioteca do Senado, em Brasília, no passado dia 29 de Junho de 2005, o livro “Mil Palavras árabes na Língua Portuguesa”. O livro é da autoria de Assaad Yoessef Zaidan, imigrante libanês, residente na cidade de Belém, Estado do Pará. Zaidan chegou ao Brasil quando tinha 19 anos, e em 1958 já era cidadão brasileiro naturalizado.
O lançamento deste livro representa um importante acontecimento cultural. E o senado brasileiro, ao acolhê-lo, deu-lhe essa importância. Primeiro, pelo enfoque da variante genética árabe da língua portuguesa posta em destaque pelo livro. Depois porque o livro tem o mérito de nos dar uma listagem de mil palavras desdobrada lingüisticamente em português e árabe.
Assaad Zaidan é membro fundador da Liga Literária Árabe Brasileira de S. Paulo e membro da Diretoria da Associação dos Escritores do Estado do Pará. No ano de 1963, Zaidan escreve o seu primeiro livro em árabe intitulado “Opinião de um emigrante”. São Paulo: El Safadi. No período de 1965 a 1969 chefiou a redação do semanário “Notícias árabes”, (em língua árabe) publicado em S. Paulo. De 1970 a 1980 e correspondente do jornal “El Nidah” de Beirute. Em 1980 publica, na cidade de Belém, pela editora Mitograph, seu segundo livro em árabe com o título de “Os sultões do século XX”. Em 1987 publicou “Dois poetas emigrados para o Brasil – El Karwi e Farhat” em árabe, pela Editora El Jabal, no Líbano. Em 1991 escreveu seu primeiro livro em Língua Portuguesa que ainda mantém inédito e que se intitula “A Guerra no Golfo”. De 1995 a 1999 é correspondente do jornal “El Anwar”, um dos maiores jornais do Oriente Médio. Em 2001, o Governo do Estado do Pará financiou a publicação da obra “Raízes libanesas no Pará. História da Emigração libanesa para o Estado do Pará”, de sua autoria. Além disso, Zaidan se tornou conhecido também como autor de crônicas e de artigos para jornais e revistas árabes sendo boa sua aceitação no mundo da cultura árabe. Mora no Brasil e sua contribuição cultural tem o valor de ser uma voz que mostra a contribuição cultural dos imigrantes para o engrandecimento do Brasil e de materializar essa contribuição concorrendo para a memória libanesa e árabe no Brasil.

1. A estrutura do livro

É interessante saber como está estruturado este livro. A primeira parte consta de uma introdução sobre a língua e cultura árabe, escola, ensino e bibliotecas árabes. A segunda parte trata dos árabes na Península Ibérica e dos árabes em Portugal, sobretudo na região do Al Gharb. Há ainda informações sobre a imigração árabe para o Brasil e a presença dos imigrantes árabes na Literatura Brasileira. Esta introdução ocupa quase metade do livro. Como parte principal que justifica o título do livro e o valor da publicação, está o Dicionário ou seja, um elenco dicionarizado de mil palavras árabes presentes na Língua Portuguesa, elenco que vai das páginas 107 a 247.


2. Elenco de palavras de origem árabe na Língua portuguesa

Dentro do elenco das mil palavras apresentadas por Zaidan, fizemos uma seleção de alguns termos árabes mais conhecidos no léxico da língua portuguesa. No fundo isso pode significar simplesmente uma revisitação de alguns conhecimentos que já temos. Mas é além disso uma atitude de leitura para quem diretamente se dedica ao estudo do léxico da língua portuguesa ou gosta de aferir a latitude de seus conhecimentos.
Fazendo um percurso tranqüilo pelo livro “Mil Palavras árabes na Língua Portuguesa”, de A a Z, vamos lembrar alguns dos vocábulos árabes mais utilizados peos falants e escritores de Língua Portugesa, na literatura e na linguagem comum, no Brasil, em Portugal e demais países lusófonos. Eis uma listagem selecionada, por ordem alfabética, para lembrar:
Abade, acácia, açafate, açafrão,, açaimo, acelga, acerola, acertar, chacar, achaque, acicate,açoite, açorda,, açotéia, açougue, açúcar, açucena, açude, adarga, adobe, aduana, adufe, ajaezar, alambique, alarde, alazão, albarda, albarnoz (albornoz), alboque, albricoque, albufeira, albuquerque, alcachofra, alcaide, alcaparra, alcaria, alcatéia, alcatifa, alcatra, alcatrão, alcatraz, alcatruz, alcazar, alcácer, alcofa, álcool, alcorão, alcova, alcunha, aldeia, aldraba, alecrim, aletria, alface, alfafa, alfageme, alfaia, alfaiate, alfama, alfândega, alfanje, alfarrábio, alfarroba, alfavaca, alfazema, alferes, alfinete, alfobre, alfombra, alforje, alforria,algaravia, algarismo, algarve, algarismo, algazarra, álgebra, algebrista, algema, algibeira, algodão, algoritmo, algoz, alguazil, alicate, alicerce, aljôfar, aljuba, aljube, Allá, almadia, almanaque, Almeida, almeirão, almenara, almirante, almíscar, almoadem, almocreve, almoeda, almofada, almofariz, almôndega, almorávidas, almotacé, almotolia, almoxarife, almude, alpargata, alpiste, alqueire, alqueiva,alvaiade, alvará, alveitar, alverca, alvíssaras, alvoroço.
Bairro, baraço, barbaca, bardaxa, beduíno, berinjela, bolota, bórax, bússola.
Caaba,cabidela, Cáceres, cacifo, Cádiz, cáfila, cafre, calatrava, califa, camelo, canjar, cenoura, ceroulas, cetim, chafariz, copta, cuscuz.
Dinar,
Elixir, emir(via francesa), emirado, enxerca, enxaqueca, enxoval, enxovia.
Falua, fáqui, faquir, farda, fateixa, felá, fota, fulano.
Gabar, garrafa, gaze( através do francês), gazel, gazela, gergelim, gibão, Gibraltar, ginete, giz, gomia, Gualajara, guitarra
Hamurabi, harém, haxixe, hégira, huri (mulher bonita).
Islão, Islamismo, islamita,
Jaez, jarra, jasmim (o árabe fez empréstimo do persa), javali, jilaba
Lezíria,
Macabro, Maçaroca, magano, magazine, magnetismo, mana, manara, maquia, marabu, maravedi, marfim, maronita, marrano, marroquim, marroquino, máscara, mascate, masmorra, massagem, mastaba, mate, matraca, mazela, Meca, Medina, megera, mesquinho, mesquita, moca, moçambique, mocamo, moçárabe, moçarabismo, mofo, monção, morim, mourisco, mouresco, mouros, muçulmano, muçulmanizar, mudejar, muedem, múmia, musselina.
Nababo, nácar, nadir,naftalina, naipe, Namura, níquel, nora
Omíada, otomano, Oxalá
Pistácia (do fr. Pistache, der. Do lat. Medieval pistachius, este o gr.pistakión, ar. Fustac)
Quibe, quilate, quintal
Rabeca, ramadão, razia,, rebique, rebite, recife, récova, redoma, refém, rês, resma, rima, romã,
Sáfaro, sáfio, safra, salamaleque, salema, saloio, samarra, sanefa, sunita,, sura, surata
Tabica (pelo persa),, tabique, tabuli,, taça, tacho, taifa,taforeia, talco(pelo persa), tâmara, tambor, tanque, tara, tareco, tarefa, tarifa, tarrafa,
Ulemá
Varanda, Vargas, vizir,
Xácara(=provérbio), xadrez, xamata, xareta, xarope, xeque(=xadrez), xeique, xereta, xiíta
Zagal, zarabatana, zarca, zebu, zefir, zênite, zero, zoina

3.Palavras de outras origens ou de origem polêmica para pesquisar

No livro de Zaidan, a par das muitas informações oferecidas ao leitor, há alguns detalhes que importa conhecer e debater.No elenco das mil palavras, há vocábulos que não são genuinamente árabes e outros que são árabes mas que não se relacionam diretamente com a chegada da palavra ao vocabulário português. Primeiro, há algo que devemos entender. Muitas palavras que existem hoje no árabe como aliás no português e em todas as línguas modernas, são apenas empréstimos lingüísticos importadas de outras línguas. Vamos tentar entender. Laca, por exemplo existe no árabe e no português. Mas é uma palavra de origem sânscrita. Do sânscrito passou para o persa e do persa para o árabe. Entretanto, o filólogo Antônio Geraldo Cunha, apesar dessas origens, atribui à palavra uma procedência indiana direta para o português. No elenco de Zaidan, há várias palavras árabes com grande parentesco com o português, mas na realidade elas entraram no léxico de outra maneira. Por vezes, através de vocábulo francês, italiano ou espanhol ou latino, que por sua vez derivou do grego, e apesar do árabe estar próximo, a história da palavra é outra. Acontece que muitas palavras portuguesas de raiz semita vieram do hebreu ou do aramaico,do copta, do turco ou até do persa e não diretamente do árabe, como paxá, por exemplo, que seria uma palavra persa, que teria passado ao turco, e do turco ao árabe, mas a procedência real para o português teria sido turca. Para que este livro nos transmita todas as lições é necessário esclarecer que há uma lista de palavras que deverão ser ainda estudadas, discutidas e definidas pelos filólogos e especialistas internacionais, afim de se procurar a origem definida. No elenco de Zaidan não há uma distinção entre o árabe antigo e o árabe moderno. Ora o árabe moderno tem muitos empréstimos internacionais. Acontece por isso que uma palavra que circula em árabe pode circular em português ao mesmo tempo, apesar das semelhanças que nos oferece um campo de pesquisa muito amplo e que nos leva a línguas outras modernas. Desta observação se conclui que é fundamental estudar a história de cada palavra, ou seja, como é que a palavra portuguesa se estabeleceu. Por vezes, a simples aproximação fonética não é ainda uma origem. Zumzum, por exemplo, é uma palavra internacional formada a partir da onomatopéia. O português tem zumbir e zunido que são a prova de como é importante a onomatopéia para explicar a origem de certas palavras.
Zaidan tem o mérito de nos oferecer uma boa oportunidade de discutir a verdadeira origem de certas palavras cuja proveniência ainda é polêmica. No meio de tudo está o árabe, o persa, o turco, o copta, o egípcio, o hebraico, o aramaico, e as línguas semitas em geral, acompanhadas de perto do sânscrito, do grego, do latim e das línguas modernas. Dentre essas palavras tiradas do elenco de Zaidan, merecem atenção especial:Babá, bálsamo, café, candeeiro, cannabis, nadja, Nazareno, neve, oásis, oceano, paxá, (turco/persa), pólvora, presépio, sábado, safra, saga, salada, satã, segredo, sésamo,
sigilo, siri, sofista, surdo, urna, utopia, tabuleiro, talismã, tártaro, tênis, vadio, vagina, Xá (do persa), zorra, zumzum (origem onomatopaica: zunido, zumbir).

4. A título de conclusão

O livro de Assaad Zaidan que analisamos tem um mérito indiscutível. É o trabalho de um imigrante que através de um projeto definido veio dignificar a ascendência cultural árabe que o prende às suas origens e com isso muito concorre para a glória de trabalho de toda a colônia libanesa no Brasil. Tem muito material interessante e tem sobretudo o testemunho de uma personalidade que achou na divulgação da cultura de seu país, o glorioso Líbano, terra originária dos fenícios, e na irmanação dela com a cultura brasileira, seu projeto de vida no Brasil. É esta a mensagem que deixo com os leitores da Usinadeletras, onde estou publicando estas notas de leitura.


5. Ficha catolográfica
ZAIDAN, Assaad. Letras e História. Mil palavras árabes na Língua Portuguesa. Prefácio Milton Hatoum. Belém: Secult-Pará, 2005
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