A criança, antes de nascer, passa nove meses, no ventre abençoado da mãe. Um terço dos quais sem manifestar, externamente, seu desenvolvimento. A não ser o crescer. Tem sido assim com minha netinha. A chegar.
Crisálida. Brinco, às vezes, nem tão belo. Pendurado ao galho de um arbusto. Rompe-se, de repente. E dele nasce o lindo inseto. Que voa majestoso enfeitando, mais ainda, o colorido jardim.
Ovo. Bem arrumado no ninho da mãe choca. Quentinho, mas imóvel. Durante longos dias. Até romper-se pela força da vida. Que brota em novo ser.
A própria terra silencia, tetricamente, antes de vomitar larvas para o céu. Jato incandescente e destruidor. Que surge do silêncio incômodo e esfumaçado do vulcão.
É assim. Na vida.
Calmaria. Silêncio. Cordas imóveis. Chamas apagadas. Vozes caladas. Versos incompletos. Palavras soluçadas. Meio ditas. Sem significado.
Talvez seja a gestação. Quem sabe? De algo melhor do que já se fez. Ou simplesmente o calar defensivo do que a vida provocou. Reação de ação dorida. Que pode ter ferido. No âmago. No íntimo. No coração.
É o berço dos sentimentos. Novos. Que se misturam aos velhos. Que podem gerar algo diferente. Que certamente agradará amantes de novos frutos. Brilhantes e diferentes de tudo que já se colheu. Saborosos. Atraentes e perfumados. Mas nascidos da dor. De ferida profunda, talvez. Ou de estranha felicidade.
Porque o coração do artista não é museu público. Em cujos corredores se anda. Observando lindas produções. Ignorando-se, quase sempre as reais razões que as produziram. O coração é do artista. Não é do público. Só suas obras. Que se interpretam sem os sentimentos de seu coração. Muitas vezes corpo sem alma. Embora encantem. Porque sintonizam sentimentos. Infalivelmente.
Daí o silêncio temporário de muitos. Gestação. Ovo. Crisálida. Fecundo silêncio. Que sempre deve ser acolhido. Com novas esperanças.