Numa contínua excitação de espírito
Tranqüilo o rio seguia melancólico
No frescor da corrente sob a ponte
Aquém de uma cortina de altos choupos
Donde se destacavam flores alvas
Lançando sopros de macia frescura
Às estrelas que n’ água apareciam
Nadando agitadas na correnteza
Em mistura exalando-se com as brisas
Cheiro de fina e esbranquiçada bruma
Úmido arranjo embalsamando a noite
Cálida, como todos os jardins
Primaveris, que repousam de dia
Despertando ao anoitecer perfumes
Tudo acalmando, e até a terra um certo
Amolecimento encenava um sono
Quando plácida a lua já se mostrava
A banhar o horizonte dos reflexos
Flutuantes e prateados da sua luz
Rio, onde não mais nadavam estrelas
Aparecia coberto de nácar
Brilhante como o interior das conchas
Que frêmito a correr continuava
Salpicado em brilhantes enrugados
Julgando penetrar-se e extasiar
Endoidecendo nas veias o sangue
Desdobrando-se em vigor sobre-humano
Para desaguar respingando o céu
Misturando-se à beleza do mar!