A viagem...
Apresentava-se em grande estilo, aquela que um perceber sutilmente místico, artístico, assim entendeu...
O amor tem sempre seu valor, venha de onde vier, era o pensamento que me inundava. Amor à primeira vista, decerto! Tão rara, tão doce, tão preciosa!
Fascinados, caminhamos até um vale cheio de primaveras. Olhando para um lado via-se gado apascentado, as vacas com aquele olhar que têm, de calma, a transmitir a paz, do outro lado só campina até onde no distante se juntava ao horizonte. Andamos muito, muito tempo sob um sol ameno, até uma bica d’água que escorria cristalina e gelada. Ali deitamo-nos na relva para descansar um pouco, e conversar, namorar...
Quando abriram os olhos as margaridas em redor, já era o dia ido, e o entardecer se anunciava sob um céu imenso, já iluminado apenas por uma tênue luz que o sol irradiava.
Fomos então dar num outro trecho do caminho, de onde se viam, por um prisma, a imensidade do oceano e mais nada, por outro, o campo a perder de vista; à frente, a aurora de verão acordando as folhas, e os vapores encobriam aquele recanto, e uma sombra violeta abrigava longinquamente um maravilhoso castelo, lindo, mágica dessas de conto de fadas! A fina dama que me acompanhava de mãos dadas, saltitante me guiava... Ora pareciam ilusões, sem explicações, ora a impressão que tinha era a de ver doçura infinda, em obsceno olhar de uma beldade! Que pernas grossas, maçã do mal, ímã! E esses fantasmas é que me assaltavam, e, com toda a sinceridade de espírito, é até hoje assim, faz trinta anos, viagem que não terminou!
Miguel Eduardo
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