As rádios atuais: propagadoras de esgoto cultural
Por Sonja Cristina
Atualmente, a situação das rádios FM no Brasil é tão catastrófica que o assunto chega a ser constrangedor. A questão financeira nem será abordada aqui neste artigo, porque exibiria a mesma rede de corrupção que existe em todos os meios de comunicação - e em quase todas as atividades em que há dinheiro em jogo.
Não que o vil metal tenha sido secundário, algum dia. Mas, pelo menos até algum tempo atrás, existiam rádios que primavam por alguma qualidade e eram a salvação dos ouvidos apurados.
Como se não bastasse a invasão dos enlatados e da música eletrônica (cadê os instrumentos?), o nível tem se tornado cada vez mais alarmante, com o 'funk' (uma errônea denominação, já que sabemos o que é o funk, na verdade) e com falsos cantores e cantoras, que só colocam sua cara na capa de seus discos e deixam o resto com a avançada tecnologia de mixagem.
Sem dúvida, é um processo interligado e cíclico, no qual as rádios jogam lixo cultural para as pessoas e essas aprendem a consumir mais e mais desse lixo. Esses parasitas da arte vêm crescendo como um câncer e contaminando a sociedade que, por sua vez, os apóia através desses mesmos meios de comunicação cuja palavrinha mágica é lucro. Rádios sórdidas como a Jovem Pan e a 98 FM (daqui de BH) há anos contribuem para a alienação e a ignorância de milhares de jovens no Brasil com seus Felipe Dylon e Limp Bizcuits (não sei como se escreve o nome dessa bosta) da vida. Até aqui em Belo Horizonte, que já teve estações como a rádio Terra e a 107 FM, as opções acabaram.
A Geraes FM, que tem um bom potencial, parece ter sido esquecida no ar, tocando um repertório confuso e sem qualquer programa que possa cativar o ouvinte. As outras rádios do país ou foram compradas pela maldita Igreja Universal ou seguem a linha abaixo da qualidade aceitável. Uma rádio criativa e de qualidade talvez seja mesmo um sonho impossível.
O mundo passa em nossos dias por uma grande decomposição de tudo que representou algum avanço artístico no século XX. A arte foi substituída pelo imediatismo e a superficialidade da vida contemporânea.
A comunicação, a música e até mesmo a arte em geral parecem ser um corpo moribundo, cujas últimas células ainda vivas (como eu e você, espero) assistirão, de mãos atadas, ao seu último suspiro.
(Sonja Cristina é uma carioca exilada em Belo Horizonte e não agüenta mais viver nesta roça. E-mail: sonja@abacaxiatomico.com.br)