Não quero desfraldar minha bandeira,
Sem demonstrar que a luta do Siqueira
Está perdida p’ro saber humano.
É que a besteira de fazer maus versos
Fará pensar em dias mais perversos,
Que o Espiritismo atiça o desengano.
Por isso, venho, aos poucos, temeroso
De provocar, nos pobres, o mau gozo
De rir do autor e não da rima alegre.
Assim, vou carregando a triste sina
De ver que tudo o que o evangelho ensina
Talvez, no meu poema, desintegre.
A rima é rica e o sentimento existe,
Mas temo muito ver-lhe o dedo em riste,
Pois me preocupo com coisinha à-toa.
Falar do amor, do bem, da caridade
É fácil, quando a fé nos persuade
De que existe talento na pessoa.
Exagerando o tópico anterior,
Esteja belo o verso, quanto for,
Existe sempre o medo de falhar.
Aí, o meu ditado fica tenso
E quero demonstrar o meu bom senso,
Ditando minhas rimas devagar.
O médium contribui com seu humor,
Pois sabe o que fazer com o temor
Que lanço em sua mente, por tabela.
É que fazer o bem com simples versos
Exige que tenhamos muito imersos
Os garfos e as colheres na panela.
Preocupa-me esta hora derradeira,
Quando me diz o médium: — “Ó Siqueira,
Vê se te apressas com os versos d’alma.
Fazer a rima, com a voz do povo,
É repetir a trova aqui de novo:
Vai exigir de mim tremenda calma!”
Medito sobre o que me diz o médium
E vejo, na pobreza deste assédio,
Um bom motivo p’ra deixar o posto.
Mas ponho confiança em que Jesus
Me venha socorrer, com sua luz,
E as lágrimas me escorrem pelo rosto.
Registro o sentimento numa rima,
P’ra dar à transmissão o doce clima
De quem deseja muito o bem alheio.
Se Deus escreve certo, em linhas tortas,
Se o pensamento vaga, em horas mortas,
Por que não posso amar, em verso feio?
Eu noto uma explosão de fé e amor,
Quando consigo a glosa aqui compor,
Seguindo do evangelho a nobre lei.
É que o leitor me estima com carinho,
Se eu lhe demonstro que o melhor caminho
É pôr de lado a dor e amar a grei.
Estando arrebatada a minha gente,
Eu ergo uma bandeira, simplesmente,
P’ra demonstrar que a luta continua,
Pois a verdade desta minha guerra
Está em que o poema só se encerra
Quando lascar no mal mui dura pua.
Se concordarem com o que lhes digo
E me abraçarem, como a um velho amigo,
Ninguém será no mundo mais feliz.
É que terei sossego permanente,
Pois saberei que o coração não mente,
Ao aceitar do amor a diretriz.
Caso me ofertem mais alguns minutos,
Pretendo desejar-lhes só bons frutos,
Nas árvores do amor de sua vida.
O Pai do céu dará a sua bênção,
Para que os encarnados sempre vençam,
Unidos na lição que ao bem convida.
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