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Contos-->ONÍRICA -- 28/11/2002 - 09:10 (Danna D.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estou em uma rua, qualquer rua, com meu par. Fugimos velozes do cão raivoso que há muito nos persegue. Suo frio, sinto muito medo pois temo que nos alcance e que vá dilacerar minhas carnes. Seu dono é um menino que, por motivos que ignoro, está preso em sua própria casa. Refugiado no quintal espaçoso controla o canzarrão e, ao nos ver esbaforidos, nos orienta como fugir:
- É só pisar nas pedras certas que ele não pega vocês!
- Pedras certas? indago.

Olho para o chão que transformou-se, de súbito, em gigantesco tabuleiro de xadrez. O ambiente é transparente e através dele avisto inúmeras pessoas, qual marionetes, suspensas por cordas invisíveis, a subir e descer apavoradas pois sentem o mundo desgovernado, de cabeça para baixo. Reconheço mulheres, velhas senhoras intransigentes, que me olham com desagrado. Algumas em roupa de festa, acompanhadas de homens que me parecem seus maridos. Todos, malgrado a situação confusa, se mantêm um tanto solenes. Estranho. Por que a sensação de que os conheço, se nunca os vi antes? É um cenário obscuro e desesperador.
Volto-me para o homem que me protege.
- Lá fora ele estava mais jovem, reflito. Tem, agora, idade para ser meu pai, se bem que mantenha-se muito atraente. Sinto inexplicável vontade de estar a sós com ele. Almejo sua intimidade. Estendo a mão e ele aperta-a com força. Apesar da situação inusitada o brilho do desejo ilumina nosso olhar.

Não somos mais dois, estamos em três. Ela é muito alva, idade indefinível, cabelos longos e lisos escovados para trás, em tom louro avermelhado.
Homens jovens e desconhecidos dirigem nossos passos do alto de um poço, saído não sei de onde, tentando nos ajudar. Em um abrir e fechar de olhos, estamos do lado de fora e vemos as pessoas desesperadas a subir e descer. Ao fundo, afastado, diviso um ponto em movimento. Pressinto que é o perigo que nos ronda.
- Temos que escapar pisando nas pedras certas, não esqueço.
Essa mulher que nos acompanha, em nossa fuga desordenada, parece-me muito frágil e por um momento a detesto, pois sou obrigada a com ela dividir meu parceiro. Por quê surgiu do nada?

Agora tenho a certeza que somos perseguidos por aquele cão do começo da história. Ele se multiplicou, que horror! Várias cabeças, vários corpos, várias bocarras escancaradas!
- Temos que pisar nas pedras certas, meu cérebro martela essa ordem. Você precisa se organizar.
Corremos os três por um piso reluzente. Temos que nos equilibrar com cuidado visto sua extrema mobilidade. Meu companheiro e eu, qual hábeis dançarinos, estamos sempre no mesmo nível, no mesmo compasso. Subimos e descemos ritmicamente, lembrando aqueles antigos musicais do cinema.
Subitamente vejo-nos despidos, enlaçados; línguas e sexos encaixados. Sinto-me a poderosa amazona cavalgando seu corcel. Nosso ritmo é frenético, a excitação aumenta com a sensação do perigo iminente.
Um grito, em um átimo, aborta meu orgasmo. A mulher, descompassada, se desequilibrou.
- Que caia, que morra! penso, enraivecida.
Percebo a maldade, me aflijo e tento alcançá-la.
- Não posso sair do lugar, tenho que pisar nas pedras certas, me lembro a tempo.
Meu amante, desesperado, se desprende dos meus braços, querendo apará-la. Corre aos gritos em seu encalço e percebo como ela é vital para ele. Só então a reconheço: é a sua mulher!
Tarde demais. As cordas sobem e descem, ela sumiu de nossas vistas. Aguardo o pior, os dois corpos despedaçados. Espantada, vejo que ele não caiu. Milagre. Ouço-o nitidamente falar com alguém, buscando ajuda.
- Os bombeiros estão chegando, me avisa.
Tal criança pequena ensaio, tímida, alguns passos, vendo que se aproximam os homens uniformizados. Ufa, a saída está próxima. A angústia se transforma em melancolia. Sinto pena da mulher, coitada. Que falta de sorte. Mais um pouco e ela escaparia como nós. No mesmo instante um arrepio de horror percorre meu corpo ao imaginar que tenha sido devorada. Por outro lado, uma sensação de alívio e, não vou negar, uma certa satisfação por não ter mais que dividir meu homem.

A paz me envolve; sinto meu corpo flutuar. Ignoro onde me encontro mas nada temo. Meu amor está ao meu lado a velar meu sono. Posso repousar tranqüila, sei que nada de mal acontecerá. Nada, ninguém irá nos separar.

Ao longe, diviso um ponto luminoso perdido no infinito, estrela maior. Aponto-o, curiosa. Meu amante, atônito, murmura embevecido: - Ela!
Abaixo a cabeça e cerro os olhos com força para impedir que ele veja meu pranto.

Escrito em 18/04/02


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