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Ensaios-->ESCUTA, ZÉ NINGUÉM – PARTE V -- 06/04/2005 - 00:22 (Rodrigo Mendes Delgado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESCUTA, ZÉ NINGUÉM – PARTE V

“És convocado para servir o exército e as tuas colheitas e fábricas são destruídas porque berras “Viva!” enquanto lá andas, e tudo o que te pertence é feito em estilhas. Os teus heróis de armadura reluzente não teriam soldados nem armas se claramente assumisses o facto (sic) de que mais importam as tuas colheitas e a produção das tuas fábricas, e que nem campos nem fábricas existem para serem destruídos – coisa que os teus militares e heróis desconhecem, porque nunca trabalharam nos campos, nas fábricas ou em laboratórios, e crêem que o teu trabalho se processa apenas para servir a honra da pátria alemã ou proletária e não para alimentar e vestir os teus filhos”. (REICH, Wilhelm. Escuta, Zé Ninguém. 3.ed. Santos: Editora Martins Fontes, p. 102, 1974)

A guerra não é culpa apenas dos que a determinam. Mas é uma responsabilidade de todos os que estão envolvidos nesta grande insanidade humana. As guerras são declaradas porque, aqueles que as declaram sabem que não faltarão os que combatam. No diálogo que mantém com o homem comum, Reich o alerta sobre isso. O homem comum, chamado de Zé Ninguém dentro do universo reichiano, teme os que detêm o poder, afinal, estes podem convocar e mandar qualquer um para uma guerra. Mas, Reich adverte que, a insanidade praticada pelos que detém o poder é aplaudida pelos que vão combater, afinal, enquanto no campo de batalha, o homem comum grita 'Viva!' a tudo o que ocorre ao seu redor, inclusive à carnificina a qual é conclamado a participar.

E tudo isso, porque o homem comum, o Zé Ninguém, tem medo de suas próprias opiniões, quando em realidade não as deveria temer, mas sim compreender que é sua opinião a base de toda a estrutura social. São suas opiniões que ditam os rumos que a sociedade irá tomar. Como faz constar Reich: “A decisão é tua, Zé Ninguém, quanto a desejares ou não a guerra” (op. cit. p. 105)

“Ouve. Escondes-te detrás da lenda do Zé Ninguém, porque tens medo de mergulhar e de ter de nadar no grande rio da vida, quanto mais não seja em nome dos teus filhos e dos filhos dos teus filhos. A primeira de todas as coisas que não mais farás será consentir na percepção de ti próprio como sujeito insignificante e sem opinião, que afirma a todo o momento “mas quem sou eu...”. Tu tens a tua opinião e no futuro que prevejo passarás a considerar como vergonha não a conheceres, não a defenderes, não a expressares”. (ob. cit. p. 101)

E por não expressar o que pensa, o homem, ainda durante muito tempo, irá amargar o sabor da aceitação compulsória das decisões tomadas por outras pessoas. Pessoas que irão pensar pelo Zé Ninguém, não porque o Zé Ninguém não saiba pensar, mas sim porque não quer. Quando o comandante não toma o leme de sua nau, a embarcação tende a navegar sem rumo, em direção à incerteza, até que, num solavanco abrupto perpetrado pelas intempéries imprevisíveis da existência, acabe por bater em um iceberg e naufrague no oceano do desespero. A vida é essa nau, e a cada homem foi dado o leme desta embarcação. É chegado o momento de cada qual guiar seu próprio destino. Porque, enquanto isso não for feito, o homem estará fadado aos apetites dos tiranos que estiverem no poder. Somente por meio da exteriorização da opinião, da vontade, dos desejos e anseios, o homem comum poderá ganhar individualidade, personalidade, vontade. Somente quando o Zé Ninguém quiser verdadeiramente mudar sua história terá condições de reescrevê-la de outra maneira, com as tintas da dignidade, da cidadania, do amor, da compreensão.

Vai homem comum, digas ao mundo o que tu queres, quais os teus anseios, as tuas vontades, os teus desejos. Fale, sem medo. Defenda a ti e a tua família sem medo e receio. O verdadeiro sábio não menospreza o medo, mas o tem sob controle.


Rodrigo Mendes Delgado
Advogado e escritor
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