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Ensaios-->ESCUTA, ZÉ NINGUÉM – PARTE II -- 06/04/2005 - 00:19 (Rodrigo Mendes Delgado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESCUTA, ZÉ NINGUÉM – PARTE II


“Talvez me fosse possível respeitar-te se fosses ao menos grande quando “roubas” felicidade. Mas até nisso és medíocre. Não és peco, mas como o teu estado psíquico habitual é de prisão de ventre, és incapaz de criar – roubas o osso e rastejas para o primeiro buraco onde possas roê-lo em paz, tal como Freud um dia te disse. Atracas-te ao primeiro indivíduo generoso que encontras e seca-lo até à medula no que tenha para dar-te. E é a ele que chamas idiota. Devoras-lhe o que possa dar-te de sabedoria, de alegria, de grandeza, mas és incapaz de digerir o que dele te venha. Sai-te nas fezes, e o fedor que exala é pavoroso. Ou, para salvaguardares a tua dignidade após o que é realmente uma violação e um furto, chamas-lhe alienado, charlatão ou perverso sexual”. (REICH, Wilhelm. Escuta, Zé Ninguém. 3. ed. Santos: Livraria Martins Fontes, 1974, p. 82)

Mais uma vez eis que surge o Zé Ninguém em meio à imundície, sugando tudo quanto possas sugar pela frente, cravando seus caninos de perversidade na jugular daqueles que tentam, a todo custo, ajudar-lhe a ter uma vida mais digna, menos medíocre e frívola. Não Zé Ninguém, tu não mereces piedade, dó, mereces perecer em meio à estrumeira que criastes para ti. Sugas os bons, rende homenagens a homens que tem o poder, por mero medo do que possam fazer a ti. Pobre coitado. Não sabes que os poderosos pisarão sobre ti quando quiserem e quando assim acharem necessário para que tenham mais poder, mais controle, mais posses. Os poderosos aos quais tu rendes homenagens usurpam vossas filhas, humilha vossos filhos, desrespeitam vossas esposas e, tu assistes a tudo isso como uma pândega e miserável criatura. Eles têm o vosso odioso beneplácito para assim agirem. Todos os dias tu, Zé Ninguém, permite que o mundo, ou melhor, que aqueles que controlam o mundo te humilhem. E vós rides de tudo isso, deste espetáculo imundo e sem sentido.

Mas, talvez um dia tu percebas que de tudo aquilo que rias, absolutamente nada tinha graça. Que diante deste espetáculo de engodos e fraudes, tu colaborastes com tua omissão, afinal, nada te importava a não ser os momentos de prazer fútil, intenso, mas sem sentido. Perceberás a realidade de tudo quanto lhe está sendo dito desde longa data, apenas quando tu te deparares com o vazio existencial que, inevitavelmente, um dia irás sentir.

Grande serás o vosso desespero quando perceberes que vossa vida medíocre nunca teve qualquer sentido, qualquer significado. Foste servo, viveste como servo, morrerás como servo. Incapaz que tu és de erguer a cabeça e bradar por liberdade. Quem és tu? Eis a questão. O homem não foi feito apenas para o trabalho, Zé Ninguém, mas também para pensar. Foi por isso que o Criador dotou-lhe de um cérebro. Não apenas para que este órgão realizasse, sem a tua permissão, as funções biológicas essenciais, ou para que ocupasse o espaço craniano, mas para que tu o utilizes, penses e encontres as respostas para as perguntas que todos os dias tiram-lhe o sono. Mas, ao que parece, ainda preferes se apropriar dos pensamentos alheios e faze-los teus. Ti aproprias das idéias alheias, explora os pensadores, mas, mal sabes para que serve o conhecimento do qual está se apropriando, para vendê-lo por bagatela a um capitalista qualquer e, no final, nem mesmo tu lucrares um vintém com esta atitude ignóbil. E ainda corres o risco de seres explorado numa empresa qualquer, ganhando uma miséria e sendo cobrado a todo o momento para atingir as metas de produção.

Ah, Zé Ninguém, tens sido medíocre há muito tempo. E permanecerás medíocre enquanto medíocre for teu modo de pensar, de lutar e de encarar o mundo. Reich deu o recado, como sempre o fez em todas as suas obras. Que possamos nós, que todos os dias temos sido como o Zé Ninguém de Reich, tomar consciência de nosso papel no mundo. Como dizia Reich em todas as suas obras: “Amor, trabalho e sabedoria são as fontes de nossa vida. Deviam também governá-la”.

Rodrigo Mendes Delgado
Advogado e escritor
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