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Ensaios-->ESCUTA, ZÉ NINGUÉM - PARTE I -- 06/04/2005 - 00:17 (Rodrigo Mendes Delgado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESCUTA, ZÉ NINGUÉM


Este é o título de uma das obras mais realistas que já tive a oportunidade de ler, de um valor antropológico indescritível. Pertence ao escritor Wilhelm Reich. Escrita no Verão de 1945 é um texto-desabafo escrito por Reich sobre as misérias humanas, dentre as quais aquela que ele denominou de “peste emocional”. Não era para ser publicada, mas, após sua morte resolveram traze-la a lume e mostrar ao homem o que ele tem sido durante séculos. Um legítimo Zé Ninguém.

Relata o homem miserável, não sob o aspecto econômico, mas sob a ótica verdadeiramente humana. É o Zé Ninguém que aclama e aplaude os tiranos e condena os amigos, aqueles que sempre tentaram lhe abrir os olhos. O Zé Ninguém que critica uma descoberta científica e taxa o pesquisador de louco até o exato momento em que percebe que pode ganhar dinheiro com a descoberta, se feitas as “adaptações” corretas.

Assim faz constar Reich em sua obra: “Disseste então: “Ridículo! Psicanálise! Charlatanices! Pode-se analisar a urina, não se pode analisar a psique humana”. Disseste-o porque em matéria de medicina pouco mais sabias para além da análise de urinas. A luta pelo espírito durou aproximadamente quarenta anos. Conheço bem os meandros dessa luta, porque a partilhei em teu nome. Descobriste então que se pode ganhar muito dinheiro com as perturbações da mente humana. Basta fazer com que um doente venha diàriamente (sic) durante uma hora ao longo de alguns anos e que essa hora a pague caro”. (REICH, Wilhelm. Escuta, Zé Ninguém. 3. ed. Santos: Editora Martins Fontes, p. 79, 1974)

Esse é o Zé Ninguém, o ignorante que deturpa a realidade, mente, engana, acusa falsamente os intelectuais, os cientistas, os homens que pensam e que refletem a realidade, até o exato momento em que percebe que pode lucrar sobre as descobertas alheias. Preguiçoso e miserável, o Zé Ninguém rasteja pelos esgotos da devassidão, da imundície para se beneficiar da criação alheia. O capitalismo é repleto de bons exemplos. Einstein passou por isso, bem como Luis Pasteur, Freud, Copérnico, Galileu, e tantos outros brilhantes cientistas.

Vivemos num país que zomba e abandona seus mais proeminentes intelectuais. As verdadeiras obras intelectuais, de fôlego e que demandam tempo para serem aperfeiçoadas, estão perdendo terreno para obras vazias, sem conteúdo, sem qualquer riqueza intelectual, tudo em nome do lucro, da quantidade, da lei do mercado. Muita quantidade, pouca qualidade.

Algo precisa ser feito. As instituições educacionais necessitam de ampla e urgente reformulação, para que possamos barrar este processo reichiano de metástase da peste emocional. Claro que sempre haverá inúmeros Zés Ninguém à espreita de uma oportunidade para extravasar sua peste emocional. O problema não está fora de nós, mas dentro. Em quantas incontáveis oportunidades não temos tido uma postura de Zé Ninguém? Um verdadeiro zéninguenismo, para se usar um neologismo dentro do universo reichiano. Uma doença avassaladora, posto que tende a nos cegar diante da evidente realidade que se apresenta. Há um ditado que diz que: “Ignorar o problema é a melhor forma de ampliá-lo”. E é isso que o Zé Ninguém de Reich tem feito, pois, ao ignorar a realidade apenas proporcionou oportunidade para que suas misérias aumentassem ainda mais.

Escuta Zé Ninguém, as verdades que estão sendo-lhe ditas há muitos séculos para que, finalmente, num dia de alvorecer definitivo possas romper com tua ignorância, remover a catarata que te cega e que te impede de ver a realidade, inaugurando assim, uma época de esclarecimento, de verdadeiro iluminismo de tua alma.


Rodrigo Mendes Delgado
Advogado e escritor
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