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Ensaios-->CELSO BARROS - CONFRONTO DE IDÉIAS -- 26/03/2005 - 09:17 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CELSO BARROS: CONFRONTO DE IDÉIAS

Francisco Miguel de Moura
Escritor


Celso Barros acaba de publicar «Confronto de Idéias», livro que diz muito bem do seu conteúdo. Didático por natureza e propósito, disserta sobre a gênese filosófica das idéias vigorantes no nosso tempo, especialmente as que teorizam sobre a origem e a forma do Estado, e segue com as que fazem parte da formação, consciente ou não, de Fukuyama, expressas em «O Fim da História» - idéias que vão de Kant e Hegel até Karl Marx. Tece críticas bem elaboradas às teses de Fukuyama, dizendo que a obra não tem lastro filosófico. «É uma análise política engenhosa, de fácil compreensão e interpretação, graças sobretudo à clareza de sua exposição, embora certas teses apareçam embaralhadas, contraditórias e pouco convincentes.» Fukuyama acredita exageradamente na democracia liberal como «ponto final da evolução ideológica da humanidade» e «forma final de governo humano», e conclui que, como tal, ela constitui o fim da História.
Aqui nos deteremos especialmente no estudo sobre Fukuyama. Não é necessário ter lido «O Fim da História», para saber da sua substância, dada a seriedade de Celso Barros nas citações e afirmações, todas com base em leituras e releituras recentes ou provindas de sua formação clássica. Mas fica sempre a vontade de ler o livro comentado. Desta forma, dizemos que o ensaísta alcança o desiderato.
Perde-se Fukuyama na sua trajetória, «caindo no alçapão do idealismo hegeliano», diz Celso Barros. Os caminhos do Estado moderno são árduos. No seu campo se debatem senhor e escravo, liberdade e igualdade, liberalismo e socialismo, colonizado e colonizador. Os confrontos filosóficos giram em torno de espírito e matéria, pensamento e ação, razão e realidade, e de muitos outros pares, mas cremos que os exemplos são suficientes. Talvez porque escrito na euforia do desmoronamento dos regimes do Leste, quando «as boas novas chegaram», expressando-se «na fraqueza enorme no âmago das aparentemente fortes ditaduras do mundo», Fukuyama tenha-se perdido no cipoal das teorias da História.
Para Celso Barros é ilusória sua conclusão de que «a História chegou ao fim». A democracia liberal não atingiu o seu ápice. Não se sabe se fora dela há solução, é difícil predizer o futuro do homem e da sociedade. Por enquanto não há alternativa. Mas, «no livro de Fukuyama não se fala em justiça social, decorrente da igualdade econômica e da redução dos privilégios alimentados pela política liberal. Portanto, não se pode falar em «fim da História» pois não atingimos nem atingiremos o Estado universal e homogêneo do seu idealismo ou utopia, em que se daria a reconciliação definitiva da contradição entre senhor e escravo.»
Querer contestar a dialética nas relações sociais - e a história do homem não é a história do homem como indivíduo mas como ser social especialmente - é querer, como diz o ditado, tapar o sol com a peneira.
Sartre escreveu que «o marxismo é a filosofia insuperável do nosso tempo». Que outra filosofia temos para substituí-la? Nenhuma? Mas o marxismo é materialista. Por que não se faz referência ao socialismo cristão de tantos grandes pensadores, entre os quais Maritain e Alceu Amoroso Lima - objeto de outro ensaio vigoroso do Prof. Celso Barros, no livro comentado? O Estado liberal democrático não exclui alguns princípios fundamentais do marxismo nem parte do que ensina o cristianismo. A ditadura do proletariado seria apenas um momento da revolução socialista no rumo ao comunismo, que é utopia e não uma forma de governo. Quando esse maldito «neoliberalismo» apregoa a diminuição do Estado, bem se aproxima do marxismo, que em si gostaria de abolir o Estado e, assim, pregava a autogestão - uma forma de democracia liberal congeminada ao socialismo.
O colapso da União Soviética, como sabemos, não significa vitória completa do capitalismo. O socialismo nunca passou de um capitalismo assumido pelo Estado. Sumprimindo a «concorrência» interna sem poder conservá-la no âmbito externo, criou mais contradições. Não tinha condições de sobreviver por muito tempo, a menos que o mundo todo se tornasse «socialista». A queda do Muro de Berlim, em 1989, não indica, de forma alguma, vitória do Ocidente sobre o Leste, mas tão-só o fim da «Guerra Fria.» Comprova-se, ao contrário, que os dois indicadores principais do capitalismo, taxa de crescimento e taxa média de lucro indicam queda constante, a partir dos anos 60, daí porque, segundo Robert Kurz, em seu livro «O Colapso da Modernização», o debacle dos países do Leste europeu indicam aprofundamento maior na crise do capitalismo. «O mundo único, finalmente realizado e reconhecido como tal, mas condenado à forma fetichista, atacada por crises, do sistema produtor de mercadorias, revela-se como visão de terror de uma guerra civil mundial que está por vir, guerra em que já não haverá frentes firmes, mas apenas surtos de violência cega em todos os níveis.»
Essa visão exagerada do futuro não é a mesma de Celso Barros.
Suponhamos que a tendência ao emagrecimento do Estado perdure por algum tempo. Mas o Estado não deve diminuir tanto, enfraquecer tanto que a sua razão de ser, seu princípio de mediador e regulador entre o pobre o rico, entre o capital e o trabalho, não possa exercer-se efetivamente. Também não deve crescer e engordar tanto como neste século, a ponto de se tornar opressor. A democracia social deve prevalecer até que nasçam outras formas de pensamento, vida social e economia, e venham substituir as que conhecemos. E democracia social é assunto do primoroso ensaio de Celso Barros, neste livro, quando disseca a vida e obra de Alceu Amoroso Lima.
Jurista e homem público de extração católica, professor da mais alta competência, prudentemente Celso Barros não faz nenhuma profecia mas algumas deduções. Daí porque nenhuma crítica maior se pode fazer aos seus ensaios. Apenas ler, meditar e aprender com ele a essência do que terminará vingando no mundo do século XXI: o desenvolvimento material e espiritual da humanidade, mediado pela constante dialética entre o ser e o existente, entre a liberdade e a justiça social.
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