EU?... JÁ ESTOU ALÉM DO FIM!...
Senão fosses como és
Nunca teria subido
Ao cume da decepção
Para sentir o abismo
Na escuridão do cinismo
Entre estrelas de traição
No percurso sem noção
Consoante fui subindo
A escarpa do pensamento
Não vi o sangue no chão
De outros que então caindo
Gemiam na voz do vento
Não ouvi o desalento
Sobre as palavras gritando
Como agora grito enfim
Prenhe da mesma cegueira
Doutrem que d igual maneira
Não ouve nada de mim
Fui além do que foi fim
Porque o fim não tem princípio
Como os fins de tanta gente
Que vive para acabar
Por não saber começar
Os sonhos que vão em frente
Ouço o silêncio que sente
No degredo das palavras
Que escorrem algemadas
Florilégios de amor
Presos às grades da dor
Entre flores decepadas
Vejo lágrimas esmagadas
Dos que escrevem o sorriso
Desfeito em negra água
No lago das entre-linhas
Que parecem libelinhas
Mortas no rosto da mágoa
Mágoa... Mágoa e mais mágoa
Mágoa de asas caídas
Que nunca mais vão voar
Porque as mágoas que se dão
Além do corpo à razão
Estão sempre a regressar
Tudo pois podes lograr
Nesse teu tudo que abraças
E cedo praza que sim...
Provocar... Ameaçar
Intrigar e instigar...
Eu?... Já estou além do fim!...
António Torre da Guia