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Ensaios-->Cícero Dias* -- 13/09/2004 - 22:28 (Lucas Tenório) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Artista plástico, considerado um dos pioneiros do modernismo no Brasil, Cícero Dias nasceu a 05 de março de 1907, no Engenho Jundiá, município de Escada, Pernambuco, onde ainda menino teve os primeiros contatos com a pintura: 'eu ficava olhando minha tia Angelina pintar belos quadros, ela era filha do barão de Penedo e tinha uma escola de pintura na década de 20'. De sua cidade natal, veio para o Recife e, em 1925, foi para o Rio de Janeiro, estudar arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes.

Foi no Rio que Cícero Dias estreou profissionalmente, expondo seus trabalhos pela primeira vez. A exposição aconteceu em 1928 no saguão de uma clínica médica porque, à época, havia grande desconfiança em torno do tipo de pintura que ele fazia e quase nenhuma galeria carioca tinha interesse pela arte moderna. Como predominava a arte acadêmica, a mostra não fez grande sucesso mas foi visitada por todos os modernistas, entre os quais Villa-Lobos, o poeta Murilo Mendes, o artista plástico Ismael Nery e outros.

Do período de 'iniciante' até ser considerado, na década de 90, um dos maiores pintores brasileiros, Cícero Dias viveu muitas histórias. De arte e de política. Simpatizante do Partido Comunista, ele foi perseguido em 1937 quando Getúlio Vargas instalou a ditadura do Estado Novo. Era chamado pelas autoridades pernambucanas como 'o artista que pinta retratos de Lênin a pedido de estudantes esquerdistas' e, por várias vezes, seu atelier no Recife foi invadido por tropas policiais. Foi aí que ele decidiu viver em Paris.

Para Cícero Dias, morar em Paris não foi uma novidade: em 1937 sua família já tinha apartamento montado na cidade e ali ele construiu toda uma vida. Prosseguiu o seu trabalho como pintor, conheceu vários dos maiores artistas e intelectuais do século e em 1943 casou com a francesa Raymonde, que conheceu numa roda de amigos num café parisiense e com quem tem uma filha brasileira chamada Sílvia. Desde que deixou Pernambuco, vem anualmente ao Recife rever amigos e 'preservar as raízes'. Mas, a vida de Cícero Dias fora do Brasil não foi só maravilhas. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, depois que o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha nazista e a Itália fascista, ele foi preso num hotel da cidade alemã de Baden-Baden. No grupo, estava também o escritor Guimarães Rosa.

O motivo da prisão foi apenas o fato de ser brasileiro. Em seguida, numa ação diplomática, o grupo foi trocado por espiões nazistas que se encontravam presos no Brasil. Libertado, Dias seguiu para Portugal. Em Lisboa, exilado mais uma vez, Cícero Dias continua sua luta pela liberdade humana. Num encontro com intelectuais europeus, recebe um recado do poeta francês Paul Éluard, que atuava na Resistência e queria que o pintor brasileiro desse um jeito de ir buscar e fazer chegar a Londres um poema dele chamado 'Liberté', para ser divulgado entre as tropas aliadas.

A missão era ousada, pois Paris estava ocupada pelos nazistas, mas Cícero Dias topou. Tempos depois, ele contaria essa aventura: 'Fui à França atravessando clandestinamente a fronteira. Com receio dos nazistas, risquei a palavra liberté do poema, porque a palavra liberdade poderia me custar a vida diante de um pelotão de fuzilamento. De volta a Lisboa, procurei a embaixada britânica e pedi ajuda ao secretário do embaixador, mister Marshall.

O poeta inglês Rolland Penthouse traduziu o poema para o inglês e 'Liberté', já impresso em milhares de panfletos, foi jogado sobre as tropas aliadas no front'. Por esse sua atitude, Cícero Dias acabou virando herói: no dia 27 de maio de 1998 foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito da França, maior honraria concedida pelo Estado francês. Ao ser informado sobre a condecoração, ele comentou em entrevista à imprensa: 'Para os intelectuais, foi importante a distribuição do poema por toda a Europa. Ajudou na libertação da França e de outros países.

Se Éluard fosse vivo, nós dois seríamos condecorados'. Autor do primeiro mural abstrato da América Latina, feito em 1948 no prédio da Secretaria da Fazenda de Pernambuco, Cícero Dias fez grandes amigos na Europa. Um deles foi o pintor espanhol Pablo Picasso. Os dois se conheceram pouco antes do final da Guerra Civil Espanhola, quando Picasso encontrava-se exilado em Paris. 'Nós nos reuníamos num café com republicanos espanhóis contrários ao regime de Franco e a partir daí comecei uma forte amizade com Picasso, que acabou sendo padrinho da minha filha'. Aliás, foi por conta dessa amizade do pintor pernambucano com o gênio catalão que o público brasileiro pôde apreciar o famoso mural 'Guernica'.

Picasso era supersticioso e não queria que sua obra saísse dos Estados Unidos enquanto durasse a ditadura de Franco. Cícero Dias usou muitos argumentos, entre os quais o de que o Brasil era um país pobre e merecia ter acesso às grandes obras de arte, dobrando o amigo: Picasso acabou emprestando 'Guernica' que foi mostrado na Bienal de São Paulo. Cícero Dias sempre manteve uma rígida rotina de trabalho, que mesmo depois dos seus 90 anos não acabava antes das três horas da madrugada, incluindo pintura e leitura. Colecionador de suas próprias obras, um conselho do amigo Picasso, guardou os trabalhos mais significativos.

Autor de uma obra universal, exposta em centenas de países, nunca negou suas origens: 'Toda minha obra foi fundada em Pernambuco, no início dos anos 20. Em mim, as raízes são mais fortes do que tudo'. Ao longo de toda sua vida, tanto no Brasil quanto no exterior o reconhecimento ao trabalho do pintor pernambucano foi unânime. Picasso considerava Cícero Dias 'um poeta que também é pintor'. Já Oswald de Andrade julgava-o o maior pintor brasileiro de todos os tempos. E, para não deixar suspeitas sobre esse julgamento, afirmava: 'E ninguém poderia imaginar que estou falando por camaradagem, uma vez que minhas relações com ele são geladas'. Morreu em Paris, a 28/01/2003.
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*Fonte:
http://www.pe-az.com.br/biografias/cicero_dias.htm






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