Os que não têm sossego nesta vida
Só podem acusar o Criador,
Porque, sejam sagazes no que for,
Não chegam a saber que o bem convida.
Por isso, se quiserem recompor
O bom humor perdido para a lida,
Hão de trazer a alma arrependida,
P’ra receberem todo o puro amor.
Não vou dizer de novo a tal lição
De que se deve abrir o coração
Para a bondade etérea de Jesus.
A cada qual, cabe o dever do bem,
Pois não pode a poesia ficar sem
A claridade intensa dessa luz.
O compromisso que se tem, lá em cima,
De vir compor, na Terra, a melhor rima
Me traz pela coleira, a cada verso,
Que a hora há de passar, de qualquer jeito.
Então, eu vou dizer, depressa: — “Aceito!” —,
P’ra que o sexteto não se dê perverso.
Estou querendo inocentar o amigo,
Pela frieza deste seu abrigo,
Pois o meu verso é pobre p’ra cachorro.
É que a coleira presa ao meu pescoço
Não me permite farejar um osso,
Nem quando o médium me propõe socorro.
Dia após dia, a rima que aqui faço
Dá menos a impressão que vem do espaço,
Que o gosto dos terrestres prevalece.
A brincadeira já não tem sentido
E o povo vive a me dizer: — “Duvido
Que isto possa transformar-se em prece!”
O meu limite aqui não tem fronteira,
Pois já me não importa que se queira
Que o verso se apresente esplendoroso.
Escorreguei, caí, me machuquei:
A majestade não perdi que o rei
Decide sobre a dor e sobre o gozo.
Jesus deu-nos exemplo soberano,
Após haver sofrido o maior dano,
Ao ressurgir dos mortos, triunfante.
Não veio, com certeza, em carne e osso,
Pois não tinha coleira no pescoço:
O Novo Testamento nos garante.
A liberdade de Jesus promete
Que pode o povo vir pintar o sete,
Dentro das normas justas da poesia,
Que o pensamento é bom e é generoso,
Quando prevê, para o leitor, o gozo
Da melhor rima que ele aqui poria.
Fazer o bem nos versos é o destino
De quem se preparou desde menino,
Segundo as leis do amor e da virtude.
É claro que, ao propor a traquinice,
Devemos nos lembrar que o Mestre disse:
— “Deixai que venha a mim a juventude!”
Querendo respeitar o bom leitor,
Há quem não se liberte p’ra compor,
Fazendo versos do pior quilate.
Iremos espalhar mais alegria,
Correndo, embora, o risco duma fria:
P’ra caravana, a cachorrada late.
Um único versinho que destoe,
Dentro de alguma rima que não soe,
Não há de perturbar o caro médium.
Um dia após o outro é de rigor:
Aí, volta o poeta a recompor,
Trazendo o velho pote de remédio.
Jesus não falha nunca em seu auxílio,
Esteja, embora, fraco este estribilho,
Interessado só na melhor rima.
É que o prazer de nos causar um bem
A fé, no coração dos bons, retém
E mostra aos maus o brilho desta estima.
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