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Ensaios-->Leonard Cohen, "The Future" - uma reflexão -- 01/08/2004 - 15:33 (Carlos Frederico Pereira da Silva Gama) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“The Future” – Leonard Cohen - 1992

Leonard Cohen, um dos nomes mais singulares da canção popular do século XX. Legendário recluso, somente tornou-se uma lenda do chamado “Folk Moderno” quando já era nome fartamente celebrado no meio literário canadense – permanecendo, no entanto, imune às demandas da indústria de massas, relegado (nunca confortavelmente, para alguém tão contestador e irônico) ao papel nunca assumido de “artista cult”. Numa era nieztscheana onde “Deus está Morto”, suas (re)leituras do Velho Testamento – nas quais só encontra par em outro judeu irredutivelmente crítico e cínico, Bob Dylan – assombrosamente unem passado, presente e futuro, delineando o Progresso como farsa. A vasta obra de Cohen desnuda a fragilidade humana em toda a sua imensidão – por vezes redentora, por outra feita lamentavelmente hipócrita, mas sem nenhum tom de autocomiseração ou piedade, algo extremamente raro em artistas de qualquer gênero. O tom assumidamente ácido de suas linhas – elegantemente equilibradas entre a dor e purgação – jamais deixou de revelar, ambiguamente, por detrás dos tabus desnudados, uma jornada de transcendência humana a partir do imanente. Um perverso profeta moderno?

O iconoclasta Cohen, em sintonia com sua obra pregressa, desconstrói via Música a idéia do Pós-Guerra como escatológico “fim da História” fukuyamiano, vitória reluzente dos valores liberais do Ocidente em “The Future”. Metalinguisticamente provocante, Cohen desconstrói a “ilusão dourada” do início dos anos 90 ao nos descrever um mundo ambivalente que desconstrói suas próprias fundações – uma “nostalgia da tirania” mal-disfarçada sob as vestes do triunfo democrático, algo raro de se ouvir semanas após a dissolução “ao vivo” da própria União Soviética. A “volatilidade e celeridade” dos processos hodiernos de “modernização”, na densa trama de imagens oblíquas de Cohen, traduzem-se como o “apocalipse” previsto nos anos 1920 por Walter Benjamin (não por acaso, outro autor de origem judaica cujo vasta obra permaneceu, em vida, relegada à semi-obscuridade). Como um Caravaggio das letras, Cohen contrapõe habilmente luz e sombra, invertendo associações costumeiras para obter máximo efeito denunciante – e, cinicamente, constatar que o triunfo liberal contra o Comunismo nos leva inexorável rumo à barbárie.

De acordo com Lévi-Strauss , o Mito e a Música encontram-se profundamente associados na cultura ocidental; para esse autor a emergência das formas musicais eruditas ocidentais nos séculos XVII a XIX correspondeu ao declínio do pensamento mítico no mesmo período. A Música passaria a assumir a “função social do Mito” – garantir a coesão de um grupo, povo ou mesmo cultura. O mito, compreendido como narrativa atemporal, estabelecendo continuidade entre passado e presente, cuja função é a de criar e reproduzir modelos de comportamento social, exprime a essência mesma de uma cultura e, dessa forma, configura-se elemento fundamental para a construção da identidade.

Dialogando com o Mito via Música, Cohen estabelece uma relação ambivalente para com a cultura ocidental, denunciando com ironia os “shortcomings” contemporâneos em escala massiva, buscando refúgio, em contraposição, na tradição e no indivíduo (“o pequeno judeu que escreveu a Bíblia”) – para recuperar à decadência esta mesma cultura. O tom ácido, as metáforas quase Beatniks e o fino cinismo calculado não escondem a ironia maior para uma música entitulada “The Future” – trata-se de uma empreitada tradicional, um revigoramento explícito do Passado (com tintas proféticas) para ensejar resposta à “nova queda do Homem”. The more things change, the more they remain the same…
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