Lembro-me com nitidez absoluta, ao cabo de 64 anos e pico, da preocupação dos adultos que durante a minha frágil pequenez, em relação às espontâneas cagadelas e mijadelas que eu debitava, velavam por mim. Lembro-me até da intencionalidade de uns e de outros em face dos empapados poios e pocinhas de mijo que então eu livremente explia. Uns, todos lixados da vida pelo tempo que inesperadamente lhes tomava com a replente higiene, e outros, compreensivos e dados ao que consideravam uma inevitável necessidade, comiseradamente pacientes, diligentes e meigos. Houve-os até que, após uma quente e reparadora banhoca, me beijavam enternecidos o tutuzinho e o pirilau. A Balila - ó como bem apanho ainda na retina seu angélico rosto - metia a sua cabeça no meio das minhas pernitas e fazia-me na barriga sopros bexigueiros com seus lábios. E ambos ríamos, ríamos, ríamos de felicidade sem saber porquê.
Por volta dos meus três e quatro anos de idade, outrossim me lembro das infantis ameaças que me faziam para que eu não mijocasse no decurso do sono, já que quanto a cagadinhas eu dominava a função satisfatoriamente. Quando enfim vaidoso erguia no ar os cinco dedos de minha mão direita para assinalar ao mundo que por cá andava havia um lustro, já eu me saía muitíssimo bem no encaminhamento normal de meu cocó e chichi.
Por consequência, quotidianamente ameaçado pela vontade de cagar e de mijar, desde muito cedo fui habituado a lidar rigorosamente com meus excrementos, mas ainda muitíssimo longe de supor que iria estar permanentemente cercado de merda e mijo ao longo da minha vida. Ainda hoje, perante a necessidade extrema de ter de utilizar lavabos públicos, subo para cima da sanita e lá me coloco de cocorinhas a aliviar-me.
Sobre os casos de merda e mijo reais, tal e qual se traduz sem mais nem menos palavras, decerto que se depreende facilmente a estafada experiência que fui apreendendo no percurso de 65 anos. Quem sobre merda e mijo, queira ou não queira, não adquire um competente currículo pela vida fora?...
Bem... Merda e mijo reais, após a pele tornar-se suficientemente veterana e experiente, são sem dúvida alguma obstáculos de somenos importância, logo que a complicadíssima junção de 'merda-e-mijo' de gente começa a brotar às catadupas sobre o nosso dia a dia. Por vezes, seria porventura melhor, muito melhor, cair deveras numa fossa plena de merda e mijo reais do que estabelecer qualquer espécie de ligação com um conhecido e reconhecido género de indivíduos, os tais que de facto emerdam a vida de outrem à mais extremada e nefanda putrefacção espritual.
Quando assim é, proclamar MERDA em letras bem gordas, ajuda ao desabafo e produz um benquisto alívio, exactamente como se um tipo tivesse acabado de cagar ou de mijar. Ah....
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